Remake de ‘Não Fale o Mal’ reinventa terror dinamarquês, mas perde a essência do original
Adaptação norte-americana conta com James McAvoy no papel de vilão e protagonista da história
Todos os Blogs|Giovane Felix
Não é de hoje que Hollywood aposta em refilmagens de produções estrangeiras. De olho nos destaques de festivais e mostras importantes de cinema, os grandes estúdios norte-americanos estão sempre dispostos a comprar filmes de sucesso e adaptá-los à realidade do país.
Por vezes, o remake se equipara ao original e até consegue elevar o nível da obra. Na maioria dos casos, no entanto, as versões estadunidenses são mais do mesmo, quando não corrompem a trama inicial com uma série de exageros e escolhas duvidosas.
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O filme da vez se encaixa melhor na segunda categoria. Não Fale o Mal (2024), que estreia nesta quinta-feira (12) nos cinemas brasileiros, é a versão americana do terror dinamarquês Speak No Evil, lançado há apenas dois anos.
Na história, acompanhamos uma família dos Estados Unidos que, após se aproximar de uma família britânica durante as férias na Europa, aceita o convite para passar um fim de semana na sua idílica casa de campo. Mas, aos poucos, a reunião entre amigos vai se transformando em um cenário inóspito à medida que os anfitriões se mostram cada vez mais excêntricos.
Aqui, é perceptível o esforço e a boa vontade do diretor James Watkins em recriar a história já aclamada pela crítica. Apesar de alguns acertos, as mudanças propostas na narrativa e a nova roupagem do enredo, porém, só endossam a expectativa de mais um remake hollywoodiano genérico.
Não há como evitar comparações entre o premiado longa europeu e a adaptação. Enquanto o filme dinamarquês brinca com as sugestões em tela e investe no subtexto, potencializando a tensão e o desconforto nas situações estabelecidas entre as famílias, o remake, por sua vez, se mostra muito mais literal, deixando evidente os interesses e as intenções dos personagens ao longo da trama, sem espaço para possíveis interpretações. E essa é a principal falha.
Não Fale o Mal derrapa ao se explicar demais. Durante todo o filme, o diretor faz questão de justificar as ações (ou não ações) dos personagens, como se estivesse corrigindo um ponto fraco do original. O que ele não percebe é que o trunfo do longa de 2022 está exatamente nas entrelinhas, na atmosfera sufocante construída através daquilo que não é verbalizado.
Por outro lado, o diretor ganha ao escalar James McAvoy para interpretar Paddy, um dos estranhos anfitriões. Após surpreender com uma performance de fôlego em Fragmentado (2016), o ator escocês impressiona novamente no papel de vilão e entrega momentos que provocam desespero e inquietação. Outro destaque da atuação que vale mencionar é Mackenzie Davis. A atriz dá vida a Louise, uma das visitantes que sofre as consequências do pesadelo psicológico estabelecido na trama.
Mais um ponto positivo da releitura é que ela não tenta ser uma reprodução fiel do filme europeu. As similaridades com o original terminam no segundo ato do longa, quando o diretor subverte a narrativa e propõe um novo desfecho para surpreender o público.
O final inédito, porém, cai em um lugar-comum, já visto em outras produções do gênero. Sendo assim, Não Fale o Mal acerta no elenco, se arrisca ao modificar a história, mas perde a essência e o frescor de Speak No Evil.
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