O adolescente já foi atropelado, mas não largou "emprego"
Reprodução Rede RecordDezenas de crianças e adolescentes ocupam diariamente o corredor entre os carros nos engarrafamentos na avenida Brasil, uma das principais vias expressas do Rio. Nas mãos, biscoitos, refrigerantes e até drogas. Os casos de atropelamento não são raros.
A reportagem especial do Balanço Geral conversou com os meninos, que disseram que juntam o dinheiro para ajudar em casa ou para realizar pequenos sonhos pessoais, como comprar uma moto. O agravante é que muitos são explorados por ambulantes adultos, que fornecem às crianças os biscoitos a serem vendidos e, no fim do dia, repassam aos menores apenas 30% do lucro.
Com base nas gravações feitas pela equipe da Record, a DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima) montou uma operação e deteve em flagrante Marcelo Moura Matos. Ele vai responder em liberdade por três crimes: de maus-tratos, de exposição dos menores ao perigo e de constrangimento.
Dois adolescentes, de 15 e 14 anos, reconheceram que trabalhavam para o suspeito. No entanto, as supostas vítimas não se sentem exploradas. Eles contaram que não saberiam administrar o dinheiro e os produtos.
A psicóloga Marta Spomnergue afirmou que é comum que os exploradores passem a ser vistos como protetores.
— As crianças passam a depender desses exploradores para as compras. Elas não sabem lidar com os cálculos matemáticos. Quando há trabalho infantil você rompe a inocência dessa criança. Ela começa a ter uma sensação de dever antes da hora. Quando a criança tem a infância raptada, o que ocorre é uma escravidão.
Pelo menos dois meninos contaram à reportagem que já foram atropelados. Apesar disso, eles não abandonaram o “emprego”, apenas passaram a ter mais cuidado. Os menores encaram o risco como “parte do trabalho” e não pretendem buscar outra vida por enquanto.
Um flagrante feito por um produtor da Record mostra que também há menores envolvidos com drogas na avenida Brasil. A venda ocorre perto da rodovia Washington Luiz. Um adolescente revelou que vendia cocaína, que chamou de “farinha”, e que também usava a droga.
Assista à reportagem especial: