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Família tem reencontro emocionante 52 anos após sequestro de crianças

Mãe teve as duas filhas levadas pelo próprio marido em 1961 e conseguiu reencontrar uma delas

São Paulo|Lumi Zúnica, especial para o R7

Dona Ana, matriarca da família Paiva (esq.), Marco Antonio, filho mais novo, e Ilda, uma das crianças sequestradas
Dona Ana, matriarca da família Paiva (esq.), Marco Antonio, filho mais novo, e Ilda, uma das crianças sequestradas Dona Ana, matriarca da família Paiva (esq.), Marco Antonio, filho mais novo, e Ilda, uma das crianças sequestradas

Aconteceu há 52 anos, quando o mineiro José Paiva sequestrou as próprias filhas e desapareceu. Procurado pela família e pela polícia, jamais surgiram pistas das crianças, até o crime ser desvendado em janeiro deste ano.

O protético José de Paiva tinha 27 anos, morava na cidade de Varginha (MG) com a esposa Ana Ribeiro de Paiva e as filhas — Ilda, de sete anos, e Jussara, de seis. Marco Antônio nasceria cinco meses depois. A mãe de José Paiva, viúva recente, morava com eles e participou do sequestro.

Segundo parentes, o casal levava a vida normal de uma família do interior mineiro. Não havia farturas nem grandes apertos. Ele herdou a clientela do pai, que era dentista. Ela cuidava da casa.

Poucos meses antes do nascimento de Marco Antonio, Ana voltou do trabalho e não encontrou as filhas nem o marido em casa. Ela só se deu conta da situação quando percebeu que documentos e roupas desapareceram junto com sua família.

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Eram meados de 1961. Depois de sete anos casado, José Paiva raptou as duas filhas e nunca mais deu notícias.

52 anos depois

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Marco Antonio, o terceiro filho do casal, hoje é vendedor de produtos hospitalares e pai de dois filhos. Nesses anos todos, nunca perdeu a esperança de reencontrar as irmãs.

Série especial: R7 apresenta cenário alarmante do desaparecimento de pessoas em São Paulo

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O primeiro sinal delas veio ao acaso. Em agosto de 2013, durante uma festa de formatura, o filho Hudson encontrou uma amiga do Ministério Público de Minas Gerais. Ele contou a história do pai. Ela investigou e, uma semana depois, o improvável aconteceu. Ilda, uma das irmãs desaparecidas, estava em São Paulo.

Hudson conseguiu achar seis números de telefone de Ilda. Ele e o pai telefonaram mas não conseguiram contato. Um colega localizou mais um número num cadastro de crédito. Bingo.

Primeiro contato

Marco Antonio ligou para Ilda no dia 6 de setembro de 2013. Hudson disse que foi o momento mais emocionante de sua vida. A própria Ilda não acreditava no que estava acontecendo. Ambos choraram muito ao telefone.

Ilda desconhecia a existência dos irmãos e nem imaginava ter uma mãe biológica diferente da que conheceu a vida toda. A mãe, dona Ana, mora em Jacareí, interior paulista e ainda é viva. Foi na casa dela que se encontraram no dia 14 de setembro, após 52 anos de incertezas. Parte da família Paiva renasceu.

Ilda, a lituana de Varginha

Criada por uma família de origem soviética, lembra que durante a infância e adolescência os pais conversavam com ela em russo e lituano, línguas que, segundo ela, dominava quando criança. Com o tempo, ela perdeu o idioma, os pais faleceram e os dois irmãos, 22 e 18 anos mais velhos do que ela, também. Nunca foi dito que era adotada até que Marcos entrou em contato.

Ilda, hoje com 59 anos, enfermeira, divorciada, mãe de três filhas e avó de três netas, está para se aposentar como zeladora da igreja presbiteriana em que trabalhou por 30 anos no centro de São Paulo. Pretende se mudar para o interior, por isso procurou financiar um imóvel. Em dezembro de 2013, ao dar entrada nos documentos no banco, reparou pela primeira vez que na certidão de nascimento constam os pais Ana Ribeiro de Paiva e José Paiva, ou seja, os pais biológicos.

Para ela ainda não caiu a ficha.

— Ainda não consigo chamar ela de mãe [...] Ela me pergunta quando vou chamá-la de mãe, e eu respondo que é quando o coração mandar.

Jussara e as filhas Juliana a e Rosa em festa de aniversário
Jussara e as filhas Juliana a e Rosa em festa de aniversário Jussara e as filhas Juliana a e Rosa em festa de aniversário

Jussara, o último desafio

O pedido de ajuda recebido pelo PLID para ajudar na localização de Jussara levou à montagem de uma força tarefa entre o Ministério Público de São Paulo e o blog Desaparecidos.

Após longos 15 dias de investigação e centenas de homônimos pesquisados em onze Estados, surge uma luz. Um aviso na internet publicado em 2011 por Rosa Paiva, que diz ser filha de Jussara, estaria procurando sua tia Ilda. Não havia telefone de contato nem e-mail. Começou então outra batalha para encontrar Rosa. Três dias depois, ela foi localizada em Carapicuíba, na Grande São Paulo.

Quem atendeu minha primeira ligação foi uma tia de Rosa que confirmou que a sobrinha era filha de Jussara e neta de José Paiva e que os dois já tinham falecido. Dois dias depois, conhecemos Rosa e Juliana, as duas filhas de Jussara. Contaram que quase não tiveram convivência com o avô José Paiva, a quem descreveram como um homem violento, alcoólatra e que andava em companhia de pessoas perigosas.

“Minha mãe sofreu muito na mão dele”, relatou Rosa, 26, a mais nova das filhas e hoje mãe de Stephany, 8, Sophia, 4, e Gabrielli, 2. Segundo ela, após anos de sofrimento com ataques de epilepsia e violência doméstica praticada pelo pai, Jussara conheceu seu Sebastião, coveiro, homem religioso e de bom caráter com quem ficou casada até ela falecer em outubro de 2000 aos 44 anos de idade.

Seu Sebastião fala da ex-mulher com muito carinho e nunca mais casou após a morte da companheira, com quem teve as filhas Rosa e Juliana, esta última também mãe de duas crianças, Renan, de dez anos, e Ruan, de cinco.

O encontro final da Família Paiva

Em janeiro deste ano, após informar à família em Minas Gerais sobre nossa descoberta, os Paiva de Varginha vieram ao encontro das filhas e netas de Jussara num emocionante encontro em Carapicuíba. Dona Ana Paiva, a matriarca, também veio de Jacareí.

Rosa disse que a emoção tomou conta da família e entre abraços e lágrimas selaram o final de algo que nunca deveria ter acontecido, a fragmentação da família.

Os motivos que levaram ao sequestro nunca serão esclarecidos. José Paiva morreu sem revelar os porquês do crime. Sua mãe, que foi coautora do sequestro, faleceu pouco tempo após chegar a São Paulo. José Paiva se casou de novo e nunca contou nada à nova companheira.

Os segredos do crime foram enterrados com os autores.

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