Mais de 40% dos casos de desaparecimento são causados por conflitos familiares, indica pesquisa
Questões relacionadas à violência policial e doméstica também têm contribuído para sumiços
São Paulo|Ana Ignacio, do R7
Entre 2013 e 2016 o Estado de São Paulo registou 17.939 casos de pessoas desaparecidas. De acordo com o Plid (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos) do Ministério Público, 42,86% dos casos foram causados por conflitos familiares. Jovens entre 12 e 17 anos lideram a lista de desaparecidos no Estado (32,7%), seguidos de pessoas entre 35 a 64 anos (28,8%) e jovens entre 18 e 24 anos (13,4%).
A promotora e coordenadora do programa em São Paulo, Eliana Vendramini, explicou ao R7 que saber o motivo do sumiço de pessoas é importante e é necessário tentar entender o que está por trás dele.
— No caso dos conflitos internos pode ser porque tem alguém cooptando um jovem para o tráfico, por exemplo, ou pode ser um desentendimento interno com os pais.
Eliana destaca também outros motivos que tem causado o desaparecimento de pessoas e que começam a chamar a atenção.
— Você tem violência policial, tráfico de pessoas para os mais variados fins e agora o que desponta é violência doméstica. Essa tem feito muita gente desaparecer para fugir do conflito interno.
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Os dados também indicam que há mais registros de desparecimentos em bairros periféricos. O líder de boletins de ocorrência é Francisco Morato, na Grande São Paulo, com 179 casos.
— Os BOs reportam para bairros mais periféricos e com grande vulnerabilidade educacional, de segurança, de lazer. Quando você demanda desaparecimento em outras regiões [mais centrais], outras forças atuam e você consegue ajuda.
Investigações
Para a promotora, apesar dos avanços obtidos em casos de desaparecidos, ainda há muitas mudanças que precisam ser feitas nesta área. Entre elas, Eliana destaca que a realização do BO não garante que os casos serão investigados e as famílias acabam ficando desamparadas.
— Importante saber que até 2015 não se investigava casos de desaparecidos. Começaram a investigar em 2015 porque nós cobramos para começar a obrigar essa investigação em casos de crianças e doentes mentais. A lei diz que só se investiga casos com indícios de crime. Fazer um BO não gera investigação automática.
Segundo Eliana, em casos de desaparecimento, os familiares devem, além de registrar o BO, procurar o Plid (pelo telefone 11 3119-7183) e entidades de apoio como Mães da Sé, Mães em Luta e instituto Impar para buscar respaldo jurídicos, emocional e legal para garantir que a investigação do caso seja levada adiante.