Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Marcado por maior repressão e violência, quarto dia de protesto tem mais de 240 detidos

Os confrontos começaram ainda na concentração, na região do Teatro Municipal

São Paulo|Fernando Mellis e Thiago de Araújo, do R7

Policiais entraram em confronto violento com manifestantes
Policiais entraram em confronto violento com manifestantes Policiais entraram em confronto violento com manifestantes

Com maior registro de violência e repressão policial, o quarto protesto contra o aumento da tarifa do transporte coletivo em São Paulo acabou com pelo menos 241 detidos e diversos registros de jornalistas e manifestantes feridos nesta quinta-feira (13). Os confrontos começaram ainda na concentração, na região do Teatro Municipal, por volta das 17h.

Antes da caminhada, policiais isolaram os manifestantes e revistaram as mochilas — ocasião em que começaram as detenções. Jovens foram levados ao 78º DP (Jardins) por estarem carregando itens considerados suspeitos. Além disso, a PM impediu que o grupo começasse o protesto até que eles definissem e comunicassem qual seria o trajeto realizado. Teria sido, então, combinado — com três representantes do movimento — que os jovens sairiam do Teatro Municipal, passariam pela rua Barão de Itapetininga, avenida Ipiranga e chegariam até a praça Roosevelt.

Segundo a Polícia Civil, 202 detidos foram levados para o 78º DP. A Polícia Militar levou outros 36 manifestantes para o 1º Distrito Policial (Sé). Outras três pessoas detidas foram ouvidas no 4º DP (Consolação) e já foram liberadas.

Os confrontos mais violentos começaram por volta das 19h, na região da rua da Consolação, quando supostamente os manifestantes tentaram subir a via em direção à avenida Paulista. O major Lídio da Polícia Militar declarou que o descumprimento do acordo feito com o Movimento Passe Livre gerou o confronto.

Publicidade

— O movimento não cumpre palavra. Então, o que foi acertado é que eles viriam até a praça Roosevelt para fazer a manifestação aqui. Como eles não cumpriram o acordo, nós estamos recuando nossa linha [de bloqueio] para que depois a própria imprensa registre que eles não estão cumprindo o acordo.

Policiais militares jogaram bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo nos manifestantes, que revidaram tacando objetos. Além disso, os jovens colocaram fogo em lixo e picharam e depredaram ônibus.

Publicidade

Após os confrontos, os manifestantes começaram a se dispersar e alguns grupos conseguiram fechar ruas da região e, depois, chegaram à avenida Paulista.

Trânsito

Publicidade

Quando os manifestantes tomaram a rua da Consolação, muitos motoristas que estavam na pista sentido bairro foram obrigados a parar. Enquanto a negociação com a PM não evoluía, o grupo ficou ocupando as pistas. Preso no meio da multidão, o motorista Marcelo Izumi tentava chegar ao Hospital Sírio-Libanês, na região da avenida Paulista. Ele já estava aguardando havia meia hora e tentava cruzar para a pista sentido contrário, em busca de uma alternativa.

— Eu pego ônibus também, eu entendo [o protesto]. A gente tem que ter paciência. Só não concordo com a violência.

Detidos

O estudante de direito Arthur Cuzziol afirmou ter sido agredido por uma policial militar durante uma abordagem, na avenida Paulista. Ele foi levado à delegacia em seguida.

— A policial perguntou: “por que você está de cabeça erguida?” Aí eu falei: “estou de cabeça erguida porque não tenho motivo para baixar a cabeça”. No que passamos na calçada, no escuro, levei uma borrachada [golpe de cassetete] na barriga. Aí ela falou, “agora você baixou a cabeça”. E aí me trouxeram para cá [78º DP].

Leia mais notícias de São Paulo

Ele também garantiu que não estava carregando nada ilegal ou que fosse motivo para ser detido.

— A alegação era que tinha coisa na minha mala. Tinha um spray na mala, que não é meu, é de um rapaz que tinha sido enquadrado na minha frente.

Um estudante de 16 anos disse que policiais o detiveram, na região da avenida Paulista, e teriam colocado duas pedras na mochila dele para poder levá-lo à delegacia.

— Eles jogaram bombas de gás em três locais, impedindo que eu pudesse sair por qualquer um deles e pegaram um monte de gente que estava lá. Quando foram ver a minha mochila, não me deixavam ver o que eles estavam fazendo, só senti que estava mais pesada depois, quando peguei aqui na delegacia. Tinham duas pedras dentro, mas não fui eu que coloquei.

Abuso

O vereador Ricardo Young (PPS) esteve no 78º DP acompanhando o registro dos boletins de ocorrência. Ao sair do local, o vereador criticou a ação da PM durante o protesto.

— O processo de detenção foi um pouco violento. Houve um certo abuso do uso do gás lacrimogêneo. Cercaram um grupo de meninas que foram muito pressionadas, passaram mal com o gás e mesmo assim a polícia não cedeu.

Ainda segundo Young, não havia relato de violência física até o momento.

— Houve uma pressão forte, uma dissuasão psicológica e moral muito forte. Eu acho absolutamente desigual o aparato [usado pela PM] para a natureza da manifestação. Isso não significa que o vandalismo não deva ser reprimido. Deve ser, mas a polícia tem condições de identificar [os vândalos] aqui no DP.

Jornalistas detidos e feridos

Profissionais de imprensa ficaram feridos e alguns foram detidos durante a cobertura do protesto. A repórter da TV Folha Giuliana Vallone foi atingida no olho por uma bala de borracha. Ela estava na rua Augusta quando foi ferida. De acordo com a Folha de São Paulo, o repórter fotográfico Fábio Braga também foi atingido por dois disparos, sendo um no rosto e outro na virilha.

O repórter Piero Locatelli, da revista CartaCapital, e o fotógrafo do Terra Fernando Borges foram detidos nesta quinta-feira. Locatelli foi liberado após algumas horas e Borges passou 40 minutos detido junto com manifestantes. 

O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella, determinou que a Corregedoria da Polícia Militar apure os episódios envolvendo fotógrafos e cinegrafistas durante a manifestação.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.