Secretário-adjunto de Saúde de SP diz que greve de médicos é ‘irresponsabilidade’
Reprodução/ Record TVO secretário-adjunto de Saúde da Prefeitura de São Paulo, Luiz Carlos Zamarco, afirmou nesta sexta-feira (14), que considera a paralisação de médicos na capital uma "irresponsabilidade". A prefeitura, segundo ele, avalia acionar o Ministério Público contra a greve, que deverá ocorrer em meio ao aumento de casos e hospitalizações pela Covid-19.
Médicos da Atenção Primária à Saúde, que atendem pacientes nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da cidade de São Paulo, votaram pela paralisação da categoria na próxima quarta-feira (19). Os profissionais reclamam das equipes desfalcadas, diante do alto número de trabalhadores afastados por causa de sintomas gripais, e o não pagamento de horas extras.
"É uma irresponsabilidade de um sindicato promover uma greve no meio de uma pandemia, que está em elevação. O sindicato sempre teve mesa de negociação na secretaria", disse Zamarco. "Em vez de procurar o secretário para fazer uma conversa, apresentar a reivindicação, o sindicato optou por fazer uma procura pelos funcionários em nossas unidades, tentando convencê-los a não trabalhar."
O grupo deu até segunda-feira (17) para que a prefeitura apresentasse um plano de reposição dos funcionários ausentes, de modo que a paralisação pudesse ser reavaliada. Outra reivindicação da categoria é a desobrigação do comparecimento em fins de semana e feriados.
O secretário-adjunto afirma que a prefeitura já atende aos pedidos feitos pelos médicos. "Eles trabalharam bastante o ano passado, ficaram com banco de horas e estamos pagando as horas extras", afirmou. Segundo Zamarco, também estão sendo convocados outros profissionais para trabalhar sob regime de hora extra e ajudar as unidades que estão com mais atendimento. "Para não sobrecarregar o grupo que está no local." Segundo Zamarco, a gestão municipal pretende acionar o Ministério Público contra a paralisação.
Até esta quinta-feira (14), 3.193 profissionais de saúde da cidade de São Paulo estavam afastados por Covid-19 ou síndrome gripal. A rede municipal conta, atualmente, com 94.526 profissionais. Segundo o Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), ao menos 50 UBSs visitadas pela entidade relataram desfalques nas últimas semanas.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde informou que o sindicato enviou à pasta duas correspondências com reivindicações e "boa parte delas foi atendida", com o pagamento de 50% do banco de horas extras, além do pagamento de horas extras na folha mensal. O mesmo ocorreu para os plantões extras dos servidores efetivos, segundo a secretaria.
A pasta afirma também que contratou 280 novos profissionais e autorizou as OSSs (Organizações Sociais de Saúde) a contratar mais médicos e enfermeiros.
Victor Dourado, presidente do Simesp, entidade que representa cerca de 100 mil médicos no estado de São Paulo, sendo 60 mil da capital paulista, critica a posição da prefeitura. Segundo ele, a demanda de contratação de novos profissionais não tem sido atendida.
"Não adianta pegar uma unidade que devia ter dez médicos e fazer dois médicos atenderem continuamente. Precisa, além dos dois médicos, contratar a equipe completa", defendeu Dourado. O presidente do Simesp diz ainda que a demanda por mais profissionais vem desde 2021, quando a entidade já apontava que havia déficit de médicos nas OSSs, mas se agravou no início deste ano.
Outros sindicatos da saúde também se posicionaram com relação à greve dos médicos. O Sindicato das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Filantrópicos do Estado informou ter enviado três contrapropostas à categoria, mas sem acordo. O Sindicato dos Enfermeiros do Estado diz ser "solidário" ao movimento e prevê assembleia dia 19.
O cenário tem piorado desde o fim do ano, com o disseminação da variante Ômicron. A capital paulista registrou aumento de internações em enfermarias e UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) no início deste ano. Foram abertos mais leitos nos últimos dias para dar conta da demanda e mesmo com a abertura de novas vagas houve aumento nas taxas de ocupação.
Segundo Zamarco, no dia 1º de janeiro, a capital tinha 98 leitos de UTI para Covid e ocupação de apenas 16%. Novos leitos foram abertos diante da demanda nos últimos dias. Agora, são 474 leitos de UTI, com ocupação de 54,6%. O crescimento em número absoluto de internações também ocorreu nas enfermarias.
Apesar do aumento nos últimos dias, não há previsão de colapso do sistema de saúde. "A característica é diferente agora. Tem um rodízio rápido de leitos e os pacientes não têm complicações", diz o secretário-adjunto.
Mesmo os pacientes internados em UTI, em geral, não demandam intubação. A maior parte dos internados que têm complicações são pessoas não vacinadas contra a Covid-19 ou com esquema de vacinação incompleto.
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