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Torneio de xadrez motiva jovens da Fundação Casa por futuro melhor

Internos destacam melhora da autoestima e do raciocínio durante a 15ª edição da competição, realizada nesta segunda-feira (23), no Pacaembu

São Paulo|Cesar Sacheto, do R7

Internos da Fundação Casa disputaram torneio estadual de Xadrez, no Pacaembu
Internos da Fundação Casa disputaram torneio estadual de Xadrez, no Pacaembu Internos da Fundação Casa disputaram torneio estadual de Xadrez, no Pacaembu

Resgate da autoestima, desenvolvimento de foco, motivação em busca de um futuro melhor, longe do crime ou das drogas. São alguns dos pensamentos mais citados por adolescentes infratores durante a disputa da etapa final da 15ª edição do Torneio Estadual de Xadrez da Fundação Casa, nesta segunda-feira (23), no ginásio do Pacaembu, em São Paulo.

A competição reuniu 102 adolescentes de 24 centros da Fundação Casa. O trânsito ruim provocado pela fina garoa que caiu sobre a cidade no período da atrasou a chegada de caravanas que haviam saído do interior.

Independentemente da classificação obtida, o contato com o esporte foi destacado pelos jovens como a principal conquista do campeonato. A prática do xadrez deverá ser levada adiante por muitos dos jovens envolvidos na competição.

"Me apeguei ao xadrez e consegui me aperfeiçoar. É um jogo que trabalha bem a mente. Se torna algo muito bom, ajuda a melhorar a nossa autoestima, trabalha o raciocínio. Também ajuda a passar o tempo, distrair a cabeça. E percebi que me ajuda na escola, principalmente nas perguntas de raciocínio lógico", revelou Bruno*, de 17 anos, que cumpre medida socioeducativa por tráfico de drogas em Bernardino de Campos, no interior do Estado.

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Para Bianca, 18 anos, uma jovem do Rio de Janeiro que, há nove meses, cumpre medida socioeducativa na Unidade Chiquinha Gonzaga, no bairro da Moóca, na zona leste paulistana, o xadrez foi uma descoberta que lhe deu a oportunidade da ressocialização.

"Acho que é uma coisa nova para a gente. Não fazia isso lá fora. É uma maneira de ganhar pontos lá dentro [da unidade] e de ter uma visão diferente. A gente pode ver as coisas aqui fora. Faz muito tempo que não saio da unidade", frisou.

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Bianca, de 18 anos, diz se sentir estimulada pelo xadrez a seguir competindo
Bianca, de 18 anos, diz se sentir estimulada pelo xadrez a seguir competindo Bianca, de 18 anos, diz se sentir estimulada pelo xadrez a seguir competindo

Internada na Fundação Casa por tráfico de drogas e associação ao tráfico, Bianca também se mostrou bastante motivada e disse que está decidida a seguir jogando xadrez depois de ser reinserida na sociedade.

"O xadrez me motivou muito. Me deu uma expectativa maior, um foco. A gente precisa de foco para esquecer a nossa realidade lá dentro. Gostei muito da experiência. Pretendo continuar jogando e competindo", projetou.

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Incentivo ao esporte e à cultura

O secretário estadual da Justiça e presidente da Fundação Casa, Paulo Dimas Mascaretti, ressaltou o intuito de despertar as "boas escolhas" como objetivo principal dos investimentos feitos pelo governo paulista em ações extracurriculares destinadas aos adolescentes infratores.

"A vida pode trazer outras perspectivas de conhecimento por meio do esporte e da cultura", completou o secretário.

Sonho com o estrelado no esporte

O ex-lateral Zé Maria, ídolo da torcida do Corinthians e tricampeão mundial de futebol pela seleção brasileira na Copa de 1970, convidado para entregar as medalhas aos vencedores, considera o trabalho com os jovens da Fundação Casa, que iniciou há 20 anos, como um "recomeço" de vida.

Ídolo do futebol, Zé Maria entregou as medalhas
Ídolo do futebol, Zé Maria entregou as medalhas Ídolo do futebol, Zé Maria entregou as medalhas

"É uma missão. Não conhecia a Febem [antigo nome da Fundação Casa]. Hoje conheço bem o trabalho que é realizado. No esporte, temos feito o que é possível. Esse é o trabalho em que a gente mais direciona esses jovens na questão da oportunidade. O esporte traz esse diferencial do comportamento. da disciplina, do respeito", afirmou o ex-atleta.

Ciente que brilhar em um grande time de futebol é o maior sonho de muitos adolescentes, Zé Maria contou que mantém contatos com diversos clubes e que faz um trabalho de recrutamento entre os mais habilidosos em várias modalidades. Mas, o ex-campeão deixa claro que o caminho para o sucesso requer muita dedicação.

"A ansiedade deles é muito grande. Eles acham que é fácil ser um jogador de futebol. E não é bem assim. O calendário nosso contempla quase todas as atividades: futebol de campo, de salão, basquete, atletismo, xadrez. A gente procura escolher aqueles que têm qualidades e faz alguns encaminhamentos. É uma forma que buscamos para estimular esses jovens a buscar o caminho bom que é o esporte", complementou o ex-jogador.

Professores tensos

Do lado de fora da quadra onde as disputas ocorriam, monitores e professores que acompanhavam os jogos com uma expressão de apreensão. A tensão e os comentários nervosos sobre as partidas tomaram conta dos funcionários da Fundação Casa durante a torcida pelos internos.

"Não podemos falar nada. Se fosse no vôlei ou no handebol, você ainda grita. Aqui, é só ela", desabafou Edelcio Osvaldo Ruiz, professor de educação física que trabalha há 44 anos na Unidade Chiquinha Gonzaga, campeã do torneio feminino.

Resultados

O trabalho de Edelcio foi recompensado. Uma de suas pupilas, de 17 anos, conquistou o título do torneio feminino.

"Nem gostava muito de xadrez. Depois que fui para a Chiquinha, conheci o Edelcio e ele começou a me treinar. Eu não tinha muita paciência, mas fui desenvolvendo [a paciência e] a estratégia de jogo. Fico muito orgulhosa por mim. Não acreditava que poderia ganhar", festejou a jovem, que treinou por dois meses para participar do campeonato.

No masculino, Jorge, de 19 anos, da Casa Tamoios, de São José dos Campos, foi o grande campeão. O rapaz fez questão de agradecer o incentivo que recebeu de um dos seus monitores.

"Aprendi com um dos coordenadores de segurança. Ensinar xadrez nem era a função dele. Mas, por ser uma pessoa de grande coração, me ajudou. Tomei gosto pela prática. Essa conquista foi um dos maiores feitos da minha vida. Foi uma grande realização", disse o jovem.

(*) Nome fictício criado para preservar a identidade dos infratores, conforme determinação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)

Veja imagens do Torneio Estadual de Xadrez da Fundação Casa de SP:

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