Vizinhos cogitam pedir a saída da família de Roger Abdelmassih de prédio
Mesmo sem confirmação de que ex-médico vá para edifício, moradores já se mobilizam
São Paulo|Fernando Mellis, do R7

Moradores do edifício Monte Verde, no Jardim Paulistano, bairro nobre de São Paulo, estão apavorados com a possibilidade de ter como vizinho Roger Abdelmassih.
Desde que a Justiça concedeu a prisão domiciliar ao ex-médico, existe a possibilidade de que ele cumpra a pena em um dos 17 apartamentos do prédio, onde moram a mulher dele e os filhos gêmeos do casal.
A síndica do prédio, que está em viagem à Europa e retorna ao Brasil no sábado (24), já está decidida a reunir os condôminos, inclusive o proprietário do apartamento onde mora a família de Abdelmassih, e exigir a saída deles, caso o ex-médico condenado a 181 anos por estupro de pacientes passe a ocupar o imóvel.
Os condôminos deverão pedir que o dono rescinda o contrato de locação.
O R7 apurou que o aluguel e condomínio do apartamento, de 260 m², custam em torno de R$ 19 mil mensais.
A família mudou para o local cerca de três meses após a prisão de Abdelmassih no Paraguai, em agosto de 2014.
Proprietários de apartamentos no prédio ao lado chegaram, na época, a recusar alugar para a família do ex-médico temendo que ele pudesse, em algum momento, morar no local.
Um dos principais temores da vizinhança é de que a rua vire um local de aglomeração de manifestantes e jornalistas.
Na manhã desta sexta-feira (23), mulher e filhos de Abdelmassih não estavam no prédio. Especula-se que possam estar em um sítio da família em Avaré, no interior paulista. Mesmo sem a certeza de que a pena será cumprida no apartamento do Jardim Paulistano, moradores da região já demonstravam indignação.
— Não me importa se ele não vai poder sair do apartamento, é revoltante ver esse homem em qualquer lugar que não seja na cadeia — disse uma moradora de um prédio próximo à reportagem.
A região onde a família de Abdelmassih mora é bastante segura. O prédio fica próximo a dois tradicionais clubes da cidade — A Hebraica e Pinheiros —, além do shopping de luxo Iguatemi. Na rua, mesmo durante o dia, seguranças privados com motos fazem rondas na região de cinco em cinco minutos.
Prisão domiciliar
A Justiça do Estado de São Paulo aceitou na quarta-feira (21) o pedido de prisão domiciliar feito pelo ex-médico Roger Abdelmassih. De acordo com a decisão da 1ª Vara das execuções Criminais de Taubaté, para ter direito a deixar a cadeira Abdelmassih deve permanecer em sua casa durante todo o dia e a noite, exceto para tratamento médico e hospitalar; comunicar a Justiça sobre eventual alteração de endereço; não se ausentar do País ou do município sem autorização prévia da Justiça; usar tornozeleira eletrônica; passar por perícia médica a cada três meses; e entregar seu passaporte, caso já não tenha feito, no prazo de 24 horas.
Desde o dia 18 de maio, Abdelmassih está internado no hospital São Lucas, em Taubaté, interior de São Paulo, para tratar de problemas pulmonares. A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) informou que foi dado o cumprimento da prisão domiciliar na quinta-feira (22), por volta da 10h15, no hospital.
Ainda na quinta-feira ele recebeu a tornozeleira eletrônica e foi retirada a escolta destacada para a vigilância do condenado. Agora, a transferência do paciente para tratamento domiciliar depende apenas de autorização médica.
O caso
Abdelmassih foi preso no dia 19 de agosto de 2014, no Paraguai após investigação da reportagem da Record TV localizar o paradeiro do ex-médico. A prisão foi feita por agentes paraguaios da Secretaria Nacional Antidrogas, com apoio da Polícia Federal. Ele era procurado no Brasil, depois de ter sido denunciado por pacientes de cometer estupro em sua clínica de fertilização em São Paulo, entre os anos de 1995 e 2008.
O ex-médico, que era considerado um dos principais especialistas em fertilização no Brasil, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por crimes de estupro praticados contra 56 mulheres. Ele teve o registro profissional cassado em agosto de 2009.
Apesar da condenação, em novembro de 2010, Abdelmassih não foi preso imediatamente em virtude de um habeas corpus concedido pelo então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes. Em fevereiro de 2011, porém, o habeas corpus foi cassado pelo próprio STF.
Nessa época, Abdelmassih já era considerado foragido da Justiça. Em janeiro de 2011, nova prisão foi decretada pela 16ª Vara Criminal da capital, baseada na solicitação de renovação do passaporte do próprio médico, o que configurava risco de fuga. Ele, no entanto, conseguiu fugir do país e passou a constar na lista de criminosos procurados pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).
Abdelmassih chegou a ser condenado a 278 anos de reclusão por 48 crimes de estupro contra 37 pacientes entre 1995 e 2008. Em 2014 sua pena foi reduzida para 181 anos em regime fechado. Desde agosto de 2014, Abdelmassih vinha cumprindo pena na Penitenciária II, de Tremembé, interior de São Paulo.