Liberação da Anvisa é o primeiro passo para comercialização do imunizante no país
FreepikA nova vacina contra a dengue já em uso no Brasil traz esperanças de dias melhores em um país que registrou no ano passado quase 1,5 milhão de casos prováveis da doença.
Até então, o único imunizante disponível – apenas na rede privada – era a Dengvaxia, indicada somente a quem já teve dengue pelo menos uma vez na vida. É possível ser infectado pelo vírus quatro vezes, já que há quatro sorotipos.
A nova vacina, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda, é a Qdenga. Ela fornece proteção contra os quatro sorotipos e pode ser aplicada em quem ainda não teve a doença.
O imunizante foi liberado para indivíduos de 4 a 60 anos de idade. O esquema vacinal inclui duas doses subcutâneas com intervalo de três meses entre elas.
A aprovação da Qdenga pela EMA (Agência Europeia de Medicamentos) serviu como base para a decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em março.
Ao órgão europeu, a Takeda apresentou dados de 19 estudos científicos que envolveram mais de 28 mil crianças e adultos.
O ensaio clínico final demonstrou que o imunizante foi capaz de prevenir 80,2% dos casos sintomáticos de dengue 12 meses após a vacinação.
Além disso, evitou em 90,4% as hospitalizações em casos de dengue 18 meses após as injeções.
Após 4,5 anos da vacinação, a eficácia para casos sintomáticos caiu para 61%, mas a prevenção de internações hospitalares se manteve alta, em 84%.
A Qdenga é baseada no vírus vivo e atenuado do sorotipo 2 da dengue. Segundo o fabricante, é ele que fornece a "espinha dorsal" genética para que haja a proteção contra os demais sorotipos.
Na prática, esse vírus não é capaz de causar doença nas pessoas que recebem a vacina.
Ainda assim, existem contraindicações. Segundo o laboratório, os seguintes grupos não devem receber a Qdenga:
• Pessoas com imunodeficiência congênita ou adquirida, incluindo terapias imunossupressoras, como quimioterapia ou altas doses de corticosteroides sistêmicos nas quatro semanas anteriores à vacinação;
• Indivíduos com infecção sintomática pelo HIV ou com infecção assintomática pelo HIV quando acompanhados de evidência de comprometimento da função imunológica; e
• Grávidas e lactantes.
Os estudos apontaram uma série de possíveis efeitos colaterais após a vacinação.
Os mais comuns (afetaram mais de uma em dez pessosas) foram:
• dor no local da injeção;
• dor de cabeça;
• dores musculares;
• vermelhidão no local da injeção;
• mal-estar;
• fraqueza;
• infecções no nariz ou garganta;
• febre.
Os efeitos adversos considerados comuns (afetaram até uma em cada dez pessoas) foram:
• inchaço no local da injeção;
• dor ou inflamação no nariz ou garganta;
• coceira no local da injeção;
• inflamação da garganta e amígdalas;
• dor nas articulações;
• sintomas gripais.
Outros sintomas mais incomuns, como diarreia, coceira e erupções na pele, também foram identificados nos estudos.
Com a aprovação pela Anvisa, no início do ano, a rede privada já poderia comprar o imunizante – e assim o fez. As clínicas particulares em todo o país começaram a oferecê-lo nesta semana, a um custo que varia entre R$ 350 e R$ 500, a depender do estado.
O Ministério da Saúde poderá comprar o imunizante para uso em toda a população ou em grupos específicos que julgar necessário, porém, o tema deve ser levado para discussão na Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS).
Nesta semana, o coordenador substituto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Daniel Ramos, disse que a Qdenga poderá estar disponível no SUS em um ano e meio.
"Estamos aguardando o posicionamento oficial da OMS [Organização Mundial da Saúde], previsto para setembro", afirmou em uma audiência na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados.
Segundo ele, também estão em andamento os trâmites de importação do lote inicial da vacina.
"Isso se deve aos procedimentos de importação do lote inicial e também à transferência de tecnologia para a Bio-Manguinhos e a Fiocruz, permitindo a produção no Brasil", completou o coordenador.