Aedes albopictus não faz a transmissão de febre amarela
Wikimedia CommonsA febre amarela não tem transmissão pelo Aedes albopictus, pelo menos até o momento. O Instituto Evandro Chagas, ligado ao Ministério da Saúde, divulgou no último dia 15, estudo que comprova a presença do vírus no mosquito, mas análises ainda estão sendo feitas para avaliar sua capacidade de transmissão.
Segundo a entomologista Cecília Kosmann, coordenadora de suporte científico da empresa de biotecnologia Oxitec, é possível um mosquito carregar um vírus e não transmiti-lo. Isso ocorre quando o vírus não consegue vencer barreiras dentro do organismo do inseto, como seu sistema imune, para chegar às glândulas salivares.
Diferentemente das espécies que hoje transmistem a febre amarela no país, Haemagogus e Sabethes, o Aedes albopictus não vive exclusivamente em região de mata. Ele é considerado um mosquito de transição, já que se adapta tanto em áreas verdes quanto ao meio urbano.
Segundo Instituto Evandro Chagas, caso haja transporte dessa espécie para as cidades, ela poderá servir de vetor de ligação entre os dois ciclos possíveis - urbano e silvestre. “Esse achado é importante porque o Aedes albopictus pode vir a estabelecer um ciclo intermediário da febre amarela nas Américas, semelhante ao que ocorre na África”, afirma Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas.
Transmissão urbana
Da mesma família do Aedes aegypti, o Aedes albopictus é menos competente que o “primo” para transmitir doenças. Ao menos a linhagem que existe no Brasil. Segundo a entomologista, o Aedes albopictus é capaz de transmitir 20 vírus; já o Aedes aegypti, 100. “O Aedes aegypti é um vetor muito mais competente e diversificado”, afirma.
Ela explica que as linhagens do Aedes albopictus apresentam diferentes capacidades vetoriais. Na Ásia, por exemplo, da onde essa espécie é nativa, o Aedes albopictus é o principal vetor de arboviroses. “A linhagem que invadiu a América do Norte, por exemplo, parece ser mais competente do que a que invadiu o Brasil. Lá o mosquito transmite doenças como febre amarela e dengue”, afirma.
O albopictus dos Estados Unidos ainda dispõe de um mecanismo de sobrevivência que o ajuda a resistir a baixas temperaturas – lembrando que tanto ele quanto o aegipzi são de regiões tropicais. Ele entra em dia-pausa: reduz o metabolismo na fase ovo durante o inverno rigoroso, voltando a se desenvolver quando a temperatura estiver mais alta.
Estudos já foram feitos no Brasil na década de 1980 para investigar a capacidade de transmissão da febre amarela do Aedes albopictus, segundo a entomologista. Duas cepas foram investigadas – uma proveniente de Trinidad e Tobago e outra do Peru. A pesquisa, realizada em laboratório, revelou que somente 10% dos mosquitos eram capazes de transmitir a doença. “Mas, vale ressaltar que não existe indícios, até o momento de que o Aedes albopictus esteja transmitindo alguma doença no Brasil”, afirma.
Aedes e febre amarela
O Aedes albopictus e o Aedes aegypti são do mesmo gênero. Apresentam semelhanças genéticas, mas são de espécies distintas. O Aedes albopictus chegou do continente asiático ao Brasil há pouco mais de 30 anos. A porta de entrada foram o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Já o Aedes aegypti é proveniente do continente africano e desembarcou no país no século 16 com os navios negreiros.
Segundo a entomologista, geralmente os insetos vêm por meio de navios, onde acúmulos de d´água servem de criadouros para sua reprodução. “O grande problema para controlar qualquer espécie de mosquito é a globalização. Os insetos estão associados aos humanos. Então onde o humano vai, o mosquito vai atrás”.
Ele está distribuído em áreas rurais da grande maioria dos Estados brasileiros. “O Aedes albopictus tem sido encontrado em vários Estados da Amazônia, do Centro Oeste, Sudeste, em quase todo o país, embora em menor quantidade do que o aegypti. Nós sabemos que há uma competição sobre o nicho ecológico entre essas duas espécies de mosquitos. Onde há uma predominância de Aedes aegypti, o albopictus não se instala, e vice-versa”, afirma Vasconcelos.
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No Brasil, o albopictus está mais associado a ambientes rurais e o aegypti, urbanos, devido ao hábito alimentar de cada um. “O sangue humano é a principal fonte alimentar do aegypti. Já o albopictus é oportunista, se alimenta do que tiver”, explica Cecília.
Morfologicamente são muito parecidos. Ambos são escuros com listras brancas, que na verdade são escamas.
O diferencial está no tórax. O aegypti tem um desenho que lembra uma lira (instrumento musical) no tórax. Apresentam atividade diurna com picos no início da manhã e final da tarde, quando a temperatura está mais amena. Na natureza, se reproduzem em criadouros naturais, como bromélias, bambus e poças d´água.
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