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Falta pouco para a família Brandão receber a tão esperada notícia da alta médica do pequeno Heitor, seis anos, o gêmeo siamês que sobreviveu à cirurgia de separação realizada no final de fevereiro em Goiânia. Em entrevista ao R7, a mãe dos garotos, Eliana Brandão, 38 anos, contou que nos próximos 15 dias eles devem retornar ao seu lar. A professora também revelou os momentos mais difíceis desse processo e o que deseja daqui para frente. Confira a entrevista!
Reprodução / Facebook
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R7: Em qual estágio da gestação você recebeu a notícia de que os gêmeos eram siameses? Você chegou a cogitar uma interrupção da gravidez por conta disso?
Eliana Brandão: Com cinco meses de gestação descobri que eram gêmeos e também siameses. Confesso que fiquei sem saber o que fazer, pois nem tinha ouvido falar sobre siameses. Depois que entendemos a gravidade do caso, eu e meu marido começamos a nos questionar sobre como seria cuidar desses bebês. Pesquisando na internet descobrimos que o dr. Zacharias do Hospital Materno Infantil, em Goiânia, é referência na separação de siameses. Foi ele que nos deu esperança e ao mesmo tempo nos trouxe um pouco de tranquilidade. Mas, em nenhum momento pensamos em buscar a Justiça para fazer o aborto. Depois que o choque passou, entendemos que era para termos os bebês. No oitavo mês de gestação, já me mudei para Goiânia para fazer o partoReprodução/Rede Record
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R7: O Heitor e Arthur sempre quiseram se separar? Eles tinham personalidades diferentes?
Eliana Brandão: Sempre permiti que eles fizessem parte desse processo de escolha sem que nada fosse imposto. Um dia antes da cirurgia perguntei se eles queriam desistir, mas os dois disseram que não. Fiquei aliviada de saber que essa não era apenas a minha vontade. Eles tinham personalidades totalmente diferentes. Enquanto o Artur parecia mais nervoso, o Heitor é mais sentimental. Embora cada um tivesse suas próprias vontades, sempre precisavam entrar em um acordo para assistir televisão ou tomar banho, por exemplo. Às vezes precisava da minha interferência para apaziguar alguma discussãoReprodução / Facebook
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R7: Qual é o estado de saúde atual do Heitor? Já há alguma previsão de alta médica?
Eliana Brandão: Heitor continua na UTI, mas está muito bem. Segundo os médicos, em 15 dias ele deve receber alta do hospital. Estamos torcendo para que esse tempo seja abençoado e cumprido. Ele está doido para ir embora para casa, sabe que tem uma família grande esperando por ele. Vamos retomar nossa vida em família que a gente pouco teve. Vai ser um momento de descanso para todosReprodução/Facebook
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R7: Como é o seu dia a dia? Você fica o tempo todo no hospital com o Heitor?
Eliana Brandão: Fico a maior parte do tempo no hospital, que tem UTI humanizada e nos permite passar 24 horas com o Heitor. Às vezes vou para a casa de apoio que me acolheu para descansar ou tomar banho, mas sempre fica alguém da família com ele, inclusive para dormir. Atualmente, revezo com o meu filho mais velho e de coração LeonardoReprodução / Facebook
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R7: A equipe do hospital parece ter se envolvido bastante com o caso de vocês, tanto que o Heitor ganhou uma festa de aniversário na UTI. Como é essa relação?
Eliana Brandão: Por mais que seja um ambiente hospitalar, a gente se sente bem porque toda a equipe tenta amenizar o clima pesado que os hospitais costumam ter. O Heitor é muito paparicado por todos e ficou muito feliz com a festinha de aniversário que organizaram para ele. A equipe vai fazer muita falta para a gente, pois nossa convivência é diáriaDivulgação
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R7: Você perdeu um filho três dias depois da cirurgia de separação. Como foi lidar com isso e, ao mesmo tempo, dar força para o outro filho que estava internado na UTI?
Eliana Brandão: Essa foi a parte mais difícil de todo o processo. Eu não podia demonstrar o que estava sentindo e precisava me transformar toda a vez que entrava na UTI para ver o Heitor. Não queria que ele percebesse a minha tristeza, por isso fingia que não estava sofrendo para ele também não sofrer. Por mais que a gente soubesse dos riscos da cirurgia, estávamos muito confiantes e fomos pegos de surpresa. Não tive tempo de viver o luto, aindaReprodução / Facebook
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R7: Como vocês contaram a notícia para o Heitor? Qual foi a reação dele?
Eliana Brandão: Na verdade a gente esperou ele se manifestar. Eu até tentava entrar no assunto, mas ele sempre fugia da conversa. No fundo acho que ele já sabia, mas não queria ter a confirmação. Ele só perguntou do irmão sete dias após sua morte. Dissemos que Artur foi morar com Deus e que virou uma estrelinha. Foi uma forma mais amena de falar sobre a morte com Heitor, porque não queríamos traumatizar. Ele reagiu bem, diz que sente muito falta, mas também fala que Artur mora em seu coraçãoReprodução / Facebook
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R7: O caso dos gêmeos siameses ganhou repercussão nacional. Pessoas de todo canto do País postam mensagens de apoio nas redes sociais para vocês. Você acha que essa força ajuda de alguma forma?
Eliana Brandão: Sem dúvida, ajuda bastante. Agradeço de coração a cada uma dessas pessoas. A força das orações e a corrente que elas fizeram e ainda fazem nos dá mais força. Continuo pedindo oraçõesReprodução / Facebook
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R7: Você comentou que o momento mais difícil foi a perda do Artur. E qual foi o momento mais feliz?
Eliana Brandão: Passamos por muitos momentos tensos, mas não angustiantes porque sempre recebíamos as informações dos médicos. Para mim, o momento mais feliz foi quando eu vi os dois separados logo após a cirurgia na UTI depois de todos esses anos de espera. Foi um momento mágico, que não dá para descrever, apenas sentir. Aquela imagem jamais vai sair da minha cabeçaReprodução / Facebook
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R7: Você também é mãe de outros filhos, mas agora sua atenção está mais voltada para a recuperação do Heitor. Como você equilibra isso?
Eliana Brandão: Leonardo tem 22 anos e é um anjo que surgiu em nossas vidas há quatro anos. Ele se tornou parte da nossa família, é nosso filho de coração e fica comigo o tempo todo. A Cecília tem apenas sete anos e por conta dos estudos está morando com a avó materna na Bahia. Como meu marido precisa trabalhar, não dava conta de cuidar dela. Eles ficam juntos nos finais de semana. Cecília amadureceu muito cedo, sente nossa falta, assim como a gente sente a dela, mas é bem compreensiva e sabe que o irmão precisa mais de mim no momentoReprodução / Facebook
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R7: Depois de o Heitor receber alta do hospital, qual é o maior sonho da família Brandão?
Eliana Brandão: Nosso maior sonho é retomar para casa e viver em família. Agora esse sonho está cada vez mais próximo. Durante cinco anos não tivemos esse momento familiar, mas vamos recuperar todo o tempo perdido. Nunca questionei Deus sobre tudo o que aconteceu com a gente. Sei que tudo o que ele faz é para o nosso bem. Só tenho que agradecer por tudo o que ele tem feito em nossas vidasReprodução / Facebook
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R7: O Heitor ficou com uma série de sequelas por causa da cirurgia. Ele tem noção de suas limitações?
Eliana Brandão: Algumas coisas ele já acostumou como as bolsas para fazer as necessidades fisiológicas, já que não tem órgão genital. Esse é apenas o início de uma nova vida, ele vai ter muito tempo para se recuperar totalmente. Vai precisar de fisioterapia e de próteses de quadril e pernas para ficar mais independente. Daqui para frente vamos correr atrás de tudo o que for possível para ele ter uma vida melhor. Heitor e Artur nunca foram à escola porque viviam em hospitais. Essa sempre foi uma vontade deles. Agora, vai poder estudar e ter uma vida social. Sua qualidade de vida vai ser bem melhorReprodução / Facebook