A África concentra 46% dos quase 1.000 casos da nova variante Ômicron da Covid-19 detectados em países ao redor do mundo, mas as restrições de viagens impostas às nações do sul do continente permanecem sem justificativa, diz a OMS (Organização Mundial da Saúde).
"Com a Ômicron presente em cerca de 60 países em todo o mundo, as proibições de viagens que afetam principalmente os países africanos são difíceis de justificar", disse a diretora regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti, em comunicado divulgado nesta quinta-feira (9).
Até agora, a variante foi registrada em 11 países africanos, incluindo a Tunísia, no norte, Nigéria, Gana e Senegal, no oeste, Uganda e Moçambique, no leste, e Zâmbia, Zimbábue, Botsuana, Namíbia e África do Sul, no sul.
Ontem à noite, Serra Leoa foi adicionada a essa lista, confirmando seu primeiro caso de Ômicron em um viajante que chegou da Nigéria, no dia 25 de novembro, o mesmo dia em que cientistas e autoridades sul-africanas anunciaram a detecção da variante, caracterizada por um elevado número de mutações.
As proibições impostas por países de todo o mundo, porém, afetaram países africanos onde a presença da variante ainda nem sequer foi registrada.
A União Africana (UA) já reivindicou na última terça a retirada dessas medidas porque "as evidências atuais, que sublinharam a propagação (da Ômicron) em todo o mundo (...), não dão suporte às proibições seletivas de viagens impostas aos países do sul da África".
DIFICULDADES PARA VACINAR
Por outro lado, a chegada de vacinas ao continente se acelerou nas últimas semanas, embora a África ainda esteja atrasada em relação ao mundo, com apenas 7,8% de sua população — cerca de 1,3 bilhão de pessoas — tendo recebido a dosagem completa de vacinação.
"Passamos de uma situação em que recebíamos entre 2 e 3 milhões de doses semanais para uma situação em que recebemos 20 milhões semanais", comemorou hoje, em entrevista coletiva virtual, o coordenador do Programa de Desenvolvimento de Vacinas de Imunização e Saúde da OMS para a África, Richard Mihigo.
No entanto, alguns países têm dificuldade em absorver as doses recebidas e implantar suas campanhas de imunização, como a República Democrática do Congo, que recebeu cerca de 4 milhões de doses, mas aplicou menos de 190 mil, segundo os últimos dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC África, que está sob a responsabilidade da UA).
Nesse sentido, 23 do total de 54 nações soberanas do continente usaram apenas entre 50% e 79% das doses recebidas, enquanto 27 países já aplicaram mais de 80% e apenas dois administraram menos da metade.
Segundo Mihigo, o principal problema que os países enfrentam no planejamento de suas campanhas de imunização é a falta de "previsibilidade", já que muitas vezes as autoridades ficam sabendo do número total de doses a receber e do prazo de validade poucos dias antes da chegada do medicamento.
A OMS quer melhorar essas condições para as doses que chegam à África por meio do mecanismo Covax, promovido por essa agência e outras organizações para garantir o acesso global e equitativo à vacina.
No momento, segundo a OMS, apenas seis dos 54 países do continente atingiram a meta de vacinar 40% de sua população até o fim deste ano.
A África registrou mais de 8,8 milhões de casos e mais de 224 mil mortes por Covid-19 até o momento, de acordo com os últimos dados oficiais.