Quando uma manifestação de cunho político no Brasil ganha as ruas, ela é, geralmente, organizada e composta majoritariamente por jovens. Apesar disso, esse engajamento não se repete na representatividade do Congresso Nacional. Nas duas Casas Legislativas, a Câmara e o Senado, 62% dos parlamentares estão acima dos 50 anos. Na Câmara, eles representam 59%. No Senado, chegam a 87%.
“No caso do Senado, isso se justifica. É uma casa destinada a representar os Estados, não a população. Tanto que frequentemente são recrutados ex-governadores, ex-presidentes”, explica o professor José Alvares Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP (Universidade de São Paulo).
Na Câmara, o grupo majoritário (36,84%) está na casa entre 51 e 60 anos. Mas existem os deputados novatos. A faixa entre 21 e 30 anos conta com 20 integrantes, o que representa 4% da casa.
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Uldurico Junior (PTC-BA), de 23 anos, é o caçula do legislativo nacional. Integrante de uma família de políticos (ele é filho do ex-deputado federal Uldurico Pinto e neto do também ex-deputado José Alencar Furtado), o estudante universitário foi eleito na primeira eleição que disputou.
— Na minha região, eu sentia falta de um representante a nível federal. Eu me propus a ser candidato, sempre gostei muito de política, sempre quis entrar e não tinha idade até então.
Na outra ponta da pirâmide etária está Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que completa 85 anos em maio e é o mais velho do legislativo. Apenas como deputado federal são dez mandatos.
Ele destaca que um dos principais amadurecimentos que a experiência traz é perceber que alguns objetivos “são difíceis de serem atingidos”.
— A idade é muito importante, a participação dos jovens é muito importante, principalmente quando são jovens esclarecidos. Mas, a experiência daqueles que têm mais tempo de parlamento é válida, porque a política é muito complexa, é cheia de riscos e as pessoas mais experientes, logicamente, têm uma vivência maior.
Bonifácio de Andrada nega que falta sangue novo no Congresso e se diz entusiasmado com a nova legislatura, “embora não esteja muito otimista com os problema nacionais”.
José Alvares Moisés ressalta que não existe uma fórmula perfeita de representação no Congresso para o bom desempenho do Legislativo.
— Uma coisa fundamental, olhando as experiências internacionais, é que não existe faixa etária ideal para designar bons ou maus políticos. No caso do Brasil, do jeito que tem funcionado a política, está acontecendo um progressivo desinteresse das faixas etárias mais novas. É mais difícil recrutar os mais jovens para se candidatar.
Consequência
Não são só os jovens que são poucos vistos no Congresso. Mulheres e negros também têm baixa representatividade. Segundo o cientista político, isso dificulta a discussão de alguns temas.
— Os homens, por exemplo, nem sempre representam temas femininos adequadamente. A questão do aborto, por exemplo, entra marginalmente na pauta.
Atualmente, tramita na Câmara o PL 882/2015, de autoria de Jean Wyllys (PSOL-RJ), que pretende autorizar a interrupção de gravidez no SUS até a 12ª semana. O projeto, apresentado em 24 de março, contraria o presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Logo após assumir o cargo, Cunha foi categórico e disse que o tema só seria votado “passando por cima de seu cadáver”.
Renovação obrigatória
No Senado, há uma proposta de emenda constitucional (PEC 50/14) que limita em apenas uma vez a reeleição do Legislativo. De autoria da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), o texto argumenta que “um dos mais graves problemas da democracia brasileira consiste no afastamento entre a sociedade e os seus representantes nos poderes Legislativo e Executivo”.
A senadora ainda critica em sua justificativa que uma das causas desse afastamento é a profissionalização da política. A atividade política se tornou uma carreira, em que muitos do que nela ingressam não mais retornam para as suas atividades profissionais de origem.