Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Para ministro, não pode haver 'precipitação' nas privatizações

Pontes defende que a decisão leve em conta necessidades estratégicas, retorno ao governo e principalmente garantia dos direitos dos servidores

Brasil|Do R7

Fachada de agência dos Correios em São Paulo
Fachada de agência dos Correios em São Paulo Fachada de agência dos Correios em São Paulo

Dentro do plano de enxugar a máquina pública, a equipe econômica do governo quer privatizar os Correios e liquidar a Ceitec, empresa responsável pela produção de chips de monitoramento de animais e medicamentos. Só os Correios têm mais de 100 mil funcionários e acumulam prejuízos nos últimos anos. Mas o Ministério da Ciência e Tecnologia, comandado por Marcos Pontes, tem defendido maior reflexão sobre a estratégia para as empresas que estão sob sua tutela.

Lei também: Governo pretende privatizar mais aeroportos e ferrovias

Pontes disse que não é contra o programa de privatização e que está "alinhado" às diretrizes do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas defende que a decisão deve ser baseada em fatos, números e um plano de negócios bem estruturado, que leve em conta as necessidades estratégicas do País, o retorno para o governo e "principalmente" a garantia dos direitos dos servidores. "É uma decisão importante que afeta dezenas de milhares de famílias e precisa ser feita de forma responsável e lógica, sem precipitação", afirma.

A privatização da Eletrobrás também esbarra no impasse sobre o modelo da operação e nas resistências políticas do Congresso Nacional e dentro do governo, inclusive na área militar. A empresa é um celeiro de cargos de indicação política para aliados. O secretário Especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, tem insistido em entrevistas recentes que a empresa será vendida ainda este ano, mas técnicos experientes do governo ouvidos pela reportagem apontam que as divergências são grandes e o processo pode não ser concluído em 2020.

Publicidade

Agenda

A reportagem apurou que o ministro Paulo Guedes tem conversado com o presidente Jair Bolsonaro sobre a necessidade de acelerar o processo de venda e liquidação das estatais. Bolsonaro já aceitou incluir os Correios na lista, segundo interlocutores do ministro. A crise provocada pela suspensão do aumento do diesel pelo presidente, na avaliação de assessores da área econômica, que colocou em xeque a agenda liberal de Guedes, segundo fontes, pode ajudar a "empurrar" a agenda de privatizações.

Publicidade

Leia também

Um sinal dessa melhora recente foi interpretada pela área econômica pela fala do presidente Bolsonaro de que tem "simpatia inicial" pela ideia de privatização da Petrobras. A declaração foi feita quando o presidente foi convidado a comentar a declaração dada na quarta-feira por Paulo Guedes, de que Bolsonaro havia "levantado a sobrancelha" quando foi aventada a ideia de privatizar a estatal.

Entre as empresas que devem ficar mais enxutas após a venda de subsidiárias, como Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa, o BB é o que levanta as maiores resistências. Avaliação interna é que a Caixa e a Petrobrás têm caminhado com as políticas definidas pelo ministro Paulo Guedes, mas no BB a implementação das mudanças tem sido mais difícil.

Publicidade

A Petrobrás já anunciou, semana passada, que vai vender 60% de quatro refinarias nas regiões Nordeste e Sul do País. Além de gerar caixa para a empresa, o esperado é que, com a participação da iniciativa privada, seja eliminada qualquer chance de o próximo governo interferir nos preços dos combustíveis, como aconteceu na gestão petista. A estatal também confirmou que estuda vender uma fatia de sua participação na BR Distribuidora.

Previdência

Nos bastidores do governo, a avaliação é de que a agenda de privatizações ainda não decolou por conta do foco na reforma da Previdência. A profusão de pessoas novas no governo também contribui para o desenrolar mais lento do processo. A percepção de quem é mais experiente no governo é de que a decisão de privatizar ou liquidar uma empresa traz embates internos e desgaste político num grau muito maior do que na iniciativa privada, e que o convencimento precisa começar dentro das próprias equipes.

Para uma fonte da área econômica, é uma questão de "conhecer como a máquina funciona". Além disso, diante do pouco dinheiro no caixa dos ministérios para tocar projetos, algumas empresas ainda são vistas pelos ministros como o instrumento possível para que as pastas levem adiante suas políticas. Reservadamente, o ministro Paulo Guedes e sua equipe têm dito a investidores ansiosos em ver progressos nessa agenda que o processo está decolando e vai surpreender nos próximos meses.

Segundo o secretário de Desestatização, Salim Mattar, das "empresas privatizáveis", o estudo que está sendo conduzido pela equipe econômica "contempla a reorganização, tempo de preparação para venda, separação por setores e negociação com os respectivos ministérios setoriais às quais pertencem". Mattar citou que o Ministério da Agricultura definiu recentemente sobre o enxugamento da Ceplac, ligada à lavoura de cacau e que poderá se tornar uma divisão de pesquisa da Embrapa e da Conab.

No mercado, a espera pelo avanço das privatizações é grande. Nos escritórios de advocacia e nos bancos, vários estudos têm sido feitos para dimensionar o efeito das vendas de ativos.

Eletrobrás

Apesar da resistência de alguns integrantes do Planalto, o processo para privatização da Eletrobrás está avançando. O presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, afirmou que os estudos sobre a venda da empresa continuam em andamento e estão sendo aprofundados. A maior dúvida é como será o processo, se por meio de uma capitalização ou privatização.

"Abriu um período de avaliação dessas alternativas. Estamos aprofundando estudos e devemos ter alguma conclusão, se vamos para capitalização, olhando para eliminação do risco hidrológico ou se vamos para um programa de venda da empresa", disse o executivo, durante evento organizado pela agência de classificação de riscos Fitch Rating, na quarta-feira, em São Paulo.

Na ocasião, Ferreira Júnior voltou a se mostrar mais favorável ao processo de capitalização como uma forma de fortalecer a empresa e dar a ela capacidade de fazer frente aos investimentos necessários para o setor. "Ela não é capaz de enfrentar um programa de investimento nas proporções do que ela representa", defendeu o executivo, acrescentando: "É preciso capitalizar a empresa, que tem importância no País."

O executivo explicou que, apenas para a empresa manter seu market share, ela teria de investir por ano entre R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões. "Ano passado, esteve entre R$ 4,6 bilhões", disse. Segundo Ferreira Junior, para os próximos anos, mantendo um nível saudável e o endividamento controlado, os investimentos ficariam também na casa dos R$ 4 bilhões.

Redução de custos

O executivo voltou a defender um enxugamento da folha de pagamento da companhia. A venda da empresa, segundo ele, não seria para tirá-la do Estado, mas "dos empregados", diante do forte "corporativismo dentro da empresa". "A Eletrobrás tinha 26 mil empregados. Chegamos a 13,5 mil. O drama principal é o drama da governança."

O presidente da Eletrobrás afirmou ainda que terá de seguir vendendo ativos para melhorar a geração de caixa e seu perfil de crédito, caso haja atraso na privatização da estatal. "Teremos de continuar vendendo ativos", afirmou, reiterando que a companhia deve anunciar agora em maio a venda de 40 Sociedades de Propósito Específico (SPEs).

Ferreira Júnior comentou ainda que a estatal está na fase final das obras nas usinas de Santo Antonio e Jirau, em Rondônia. "Sinop será concluída no primeiro semestre e Belo Monte, até novembro", frisou o executivo. Ele ressaltou os esforços de corte de custos que a Eletrobrás tem feito e disse que eles devem continuar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.