O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, nesta terça-feira (27), que a intervenção federal no Rio de Janeiro e a consequente escolha de um general da reserva do Exército — Joaquim Silva e Luna — para ocupar o cargo de ministro da Defesa, atestam a fraqueza do governo Temer.
— Um governo fraco sempre apela para os militares.
O tucano participou do Fórum Estadão Reconstrução do Brasil, em São Paulo.
FHC ainda afirmou que o Exército não resolve o problema sem um trabalho de inteligência. O ex-presidente lembrou que, durante seu governo (1995-2003), a situação do Estado do Espírito Santo foi considerada caótica, mas, na ocasião, optou por não fazer uma intervenção para não parar as votações no Congresso.
Segundo o ex-presidente, o principal problema da segurança está relacionado à corrupção nas forças policiais.
— As pessoas não têm confiança na polícia.
Alckmin
Fernando Henrique ressaltou também as incertezas do cenário eleitoral poucos meses antes das Eleições 2018. Ao ser questionado sobre candidatura à Presidência de Geraldo Alckmin, seu colega de PSDB, FHC se limitou a dizer que o governador de São Paulo tem experiência e é capaz de governar.
— Alckmin precisa mostrar sua experiência para as pessoas. Acho difícil um reacionário ganhar a maioria no Brasil. O Alckmin tem chances de ganhar. Vai depender da campanha e de despertar confiança na sociedade.
Para o ex-presidente, ter Pérsio Arida à frente do programa econômico de Alckmin é positivo. No entanto, o tucano aponta ser necessário deixar claro para a população o que significa ter um economista com tanta experiência na área. FHC aproveitou para comentar sobre outros possíveis candidatos, como o ministro da Fazenda.
— [Henrique] Meirelles, por exemplo, se cercou de gente competente, baixou inflação, mas a população sente isso na prática?
Para FHC, é preciso sair da "bolha", avaliar o que as pessoas estão buscando. Na visão dele, o primeiro ponto é retomar o crescimento, gerar empregos e renda. Em segundo lugar, está a questão da segurança pública e da ética política. Questionado sobre os candidatos Jair Bolsonaro e Ciro Gomes, FHC afirmou ser necessário estudar os candidatos.
— Precisamos conhecer as ideias do Bolsonaro, saber o que ele pensa sobre economia, empregos etc. Ele simboliza o autoritarismo e não creio que cresça, mas não tenho bola de cristal e na política tudo pode acontecer.
Com relação ao candidato Ciro, FHC disse considerá-lo impetuoso e que "muda muito de opinião e de partido".
— O ego é tão grande que quer tirar proveito. É preciso ter coerência. O Ciro é instável, cresceu sendo um iconoclasta: se tem governo, é contra.
Ainda sobre as Eleições 2018, disse que atribuíram a ele, nas últimas semanas, o lançamento de diversos candidatos. Entre eles, Luciano Huck.
— Sou amigo da família, conheço o Luciano, mas eu nunca propus essas candidaturas. Também não acho que o Joaquim Barbosa será candidato. O que eu acho é que as pessoas estão buscando o novo.
O tucano brincou ao dizer que "Fernando Haddad é meu candidato no PT" e destacou que mesmo novos candidatos e os novos partidos não vão acabar com o "velho", uma vez que existe um modelo vigente.
Para o ex-presidente, os partidos que assumiram um número maior de prefeituras e de governos terão mais tempo de programa eleitoral na TV, o que, na prática, faz diferença na campanha.
Outro aspecto importante, na opinião dele, é a governabilidade. Não é possível governar sem apoio do Congresso.
— Os partidos podem ser fracos, mas o Congresso é forte. Os presidentes que não entenderam isso caíram.