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Disputa interna no PSDB trava de vez a terceira via; tucanos se reúnem nesta terça

Carta de Doria gerou desconforto, e espera-se discussão na sigla; pesquisa sobre pré-candidatos será divulgada nesta quarta

Brasília|Sarah Teófilo, do R7, em Brasília

Ex-governador de São Paulo João Doria
Ex-governador de São Paulo João Doria Ex-governador de São Paulo João Doria

Depois de prévias conturbadas, o PSDB continua sem um entendimento único sobre como deve ser o caminho a ser tomado pelo partido para as eleições presidenciais deste ano. 

A carta enviada pelo pré-candidato a presidente da República pela sigla, João Doria, ao presidente tucano, Bruno Araújo, gerou desconforto e críticas dentro da Executiva Nacional, que se reúne nesta terça-feira (17), em Brasília, com as bancadas da Câmara e do Senado, para discutir a situação. Na prática, a disputa leva a um distanciamento ainda maior de uma terceira via unificada, com o MDB e o Cidadania, a tempo das eleições.

Na carta, Doria chamou de "tentativa de golpe" a possibilidade de ele não ser definido nas convenções como o candidato presidencial da sigla. A carta foi divulgada depois que PSDB, MDB e Cidadania encomendaram uma pesquisa qualitativa para ver como Doria e a senadora Simone Tebet (MS), candidata do MDB, estão posicionados no país. Sabe-se que a rejeição de Tebet é menor que a de Doria, e a decisão foi vista como uma forma de tirar Doria de vez da disputa como cabeça de chapa.

A resposta do presidente Bruno Araújo à carta de Doria deixou claro o tom das discussões desta terça-feira. O presidente nacional dos tucanos divulgou uma convocação de reunião presencial da sigla ressaltando que "todas as negociações de uma aliança em torno de uma candidatura única se iniciaram com notória anuência" de Doria. Araújo disse ainda que as deliberações sobre uma pesquisa foram feitas com a anuência da Executiva Nacional.

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Hoje, o partido é dividido em dois entendimentos: um, de que Doria precisa ser confirmado como o candidato do PSDB, porque essa teria sido a decisão do partido nas prévias; e o outro, de que as prévias o escolheram como nome do PSDB, mas não como candidato às eleições, tendo em vista que a discussão estava aberta ainda com outros partidos. A ala que pensa dessa forma diz, inclusive, que o próprio Doria sempre se manteve aberto para discussão com o MDB, e que discutir significa a possibilidade de abrir mão da candidatura própria.

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Integrante da Executiva Nacional do PSDB, o deputado Luiz Carlos (AP) ressalta que os planos do partido foram decididos junto com Doria e que ele mesmo disse que a sigla poderia continuar dialogando com o MDB, inclusive após o desembarque do União Brasil. "Não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos. Ou continua discutindo com o MDB ou fica chapa pura", disse.

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O parlamentar afirma que a carta o pegou de surpresa e que o sentimento interno foi de desconforto e desconfiança. De acordo com ele, as prévias decidiram que o nome do partido é Doria, mas não que ele seria lançado candidato a presidente. "Não há outro nome no PSDB, isso eu concordo. Agora, se ele será o candidato, a discussão é mais ampla", disse. O parlamentar defende a tese de que a pesquisa realizada pelas siglas não vai decidir o cabeça de chapa da coligação, mas será apenas usada nas discussões entre as legendas.

Essa briga interna é resultado, principalmente, da situação do PSDB em São Paulo. O partido quer o apoio da Prefeitura de São Paulo, comandada por Ricardo Nunes (MDB), para que o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), tenha sucesso nas eleições. É por isso que o apoio do MDB é tão importante aos tucanos do estado. O problema é que Doria perdeu apoio regional. Luiz Carlos, inclusive, diz que o partido talvez tenha que decidir melhor seu objetivo: se é fazer o governador de SP ou apresentar uma alternativa no campo nacional.

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Outra ala do partido é favorável ao entendimento de que, nas prévias, os tucanos decidiram que Doria é o candidato à Presidência da República, algo que só precisa ser confirmado nas convenções. Esse grupo entende que não confirmar Doria como o candidato presidencial seria um desrespeito às prévias. O senador Plínio Valério (AM), que fez campanha para Eduardo Leite e votou nele nas prévias, integra essa ala, encabeçada hoje pelo deputado Aécio Neves (MG).

"A prerrogativa é do Doria. Embora saiba que ele vai perder as eleições, eu defendo que as prévias sejam respeitadas", disse. Para ele, a realização de pesquisa para decidir o candidato é perigosa, tendo em vista que o resultado deve ser positivo para Tebet, nome do MDB (mas que também não é unanimidade na sigla).

"O MDB não dá garantia nem para a Simone, como daria para o Doria? Essa é uma aliança fadada ao fracasso. É conversa para boi dormir. Cada um vai lançar o seu e pronto. Duvido que eles apoiariam o Doria", disse.

A pesquisa deve ser amplamente discutida na reunião desta terça-feira, quando, na opinião de integrantes da Executiva Nacional e parlamentares, a divulgação deve ser posta em deliberação. Muitos discordam do posicionamento favorável a que ela seja tornada pública.

Analista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, André César afirma que essa crise interna "pode ser a pá de cal" da terceira via. "Vai cada um para um canto", disse. O PSDB, segundo ele, sai ainda mais enfraquecido da disputa, com risco real de se tornar uma bancada nanica após o pleito deste ano. César acredita que o partido precisa cuidar da situação de São Paulo, sob o risco de perder a primeira eleição estadual desde 1994.

"Os danos estão aí. O custo político dessa disputa interna vai ser grande. E priorizar São Paulo pode conter esse estrago. O PSDB corre o risco de se tornar irrelevante, e isso é ruim para a democracia brasileira, goste deles ou não", afirmou. O analista frisa que lá atrás, em tese, a terceira via era uma boa ideia. Mas a falta de um nome e um projeto que a unificasse inviabilizou a frente ampla como alternativa real.

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