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Crise climática ameaça operações nos portos de São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul, aponta estudo

Pesquisa mostra prejuízos diários de US$ 20 mil a US$ 50 mil com navios atracados. Portos não estão preparados para mudanças

Cidades|Julia Girão, do R7*

Cerca de 95% do comércio exterior, em toneladas, transita pelo sistema portuário nacional
Cerca de 95% do comércio exterior, em toneladas, transita pelo sistema portuário nacional Cerca de 95% do comércio exterior, em toneladas, transita pelo sistema portuário nacional

A crise climática ameaça o funcionamento e deve causar prejuízos financeiros para os portos de Santos, em São Paulo, Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e Aratu, na Bahia. A previsão é mostrada por uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (6) e realizada pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). O estudo ressalta ainda que os portos, localizados em importantes regiões geográficas do país, não estão preparados para operar com a chegada das mudanças climáticas nos próximos anos.

O gerente do Polo Clima na I Care, responsável pela realização do estudo, Victor Gonçalves, afirmou ao R7 que chuvas mais frequentes e vendavais são apontados como alguns dos fatores que podem levar à interrupção das navegações nas regiões portuárias.

Cada vez que um navio de carga precisa ficar atracado nos "berços" dos portos, espécies de estacionamentos portuários, por mais tempo do que o planejado, a média da multa é de 20 mil dólares a 50 mil dólares por dia para a embarcação, estima o especialista. Além disso, há ainda as multas contratuais. 

O estudo “Levantamento de Riscos Climáticos e Medidas de Adaptação para Infraestruturas Portuárias” afirma ainda que vendavais e chuvas mais frequentes e intensos são algumas das ameaças que podem levar à paralisação da navegação nas regiões portuárias. “Uma vez que se tem uma série de grandes eventos climáticos extremos, pode haver danos físicos nas estruturas dos portos”, explica.

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Segundo dados da Antaq, cerca de 95% do comércio exterior, em toneladas, transita pelo sistema portuário nacional, que movimenta R$ 293 bilhões ao ano, cerca de 14% do PIB.

“Dependendo da condição climática, por questões de segurança, a Marinha trava todos os portos e nenhum navio pode entrar nem sair. Isso cria todo um impacto na cadeia logística", afirma Victor Gonçalves. 

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Os três portos analisados possuem históricos recorrentes de paralisações decorrentes de mudanças climáticas inesperadas, e nenhum deles, segundo o levantamento, está preparado para o aumento de eventos climáticos extremos.

Infraestrutura X clima

A interação das infraestruturas portuárias com o aumento da frequência e da intensidade dos ventos, por exemplo, pode resultar em uma maior demanda por manutenção, aumento de custos e capacidade operacional reduzida.

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O porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, segundo a pesquisa, é um dos mais propícios a sofrer impactos causados pela crise climática. Até 2026, a região é a que tem maior risco de prejuízos em função dos ventos que vêm do sul e do sudoeste. A frequência dos ventos que atingem o porto, diz o especialista, pode aumentar os custos de manutenção e operacional. Além disso, a região pode ter a capacidade reduzida.

Já no porto de Aratu, na Bahia, o estudo mostrou que as chuvas persistentes serão “muito frequentes” na região, o que se torna a maior causa de preocupação, principalmente para cargas com produtos sólidos, como soja e fertilizantes. Isso porque cargas específicas, como essas, não podem ser transportadas em condições de maior umidade, tampouco sob chuviscos.

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“Não tem uma infraestrutura que não sofra efeitos. O estudo destaca o problema entre a infraestrutura e o clima”, completa Victor Gonçalves.

Entre as possíveis medidas para a redução dos riscos está a criação de bases de dados sistematizados sobre paradas operacionais e danos causados por eventos climáticos. Além da melhoria nos processos de manutenção, investimentos em sistemas repensados para os novos padrões climáticos e o estabelecimento de práticas de monitoramento.

Porto de Santos

No Porto de Santos,um dos maiores e mais importantes do país, o levantamento mostra que as ameaças climáticas de maior probabilidade de ocorrência são as chuvas e os ventos fortes, que podem causar impactos no acesso viário ao terminal, em equipamentos de içamento, entre outros.

A cidade litorânea tem a probabilidade de 120 dias de chuva por ano, e as vagas para o local onde os navios ficam atracados são limitadas, afirma o gerente do Polo Clima.

De acordo com o especialista, Santos, porém, tem especificidades que devem ser levadas em consideração. O canal de acesso é, segundo ele, bastante extenso. Com isso, algumas áreas podem estar mais sujeitas a diversos eventos climáticos. A neblina, afirma ele, pode afetar mais a região de Ponta da Praia, Macuco, Outerinhos, Paquetá e Alemoa. Já a região da ilha de Barnabé pode sofrer com deslizamentos causados por chuvas, o que impacta o acesso viário.

Além disso, por estar imbricado com uma cidade de alta densidade populacional, o porto tem características diferentes dos outros. O acesso viário é dividido entre caminhões de grande porte e carros, o que favorece o aumento do trânsito. Isso ocorre de forma ainda mais acentuada quando o porto é paralisado por conta de eventos climáticos.

As chuvas fortes, que causam queda de árvores, impacto em vias férreas e inundações devido ao entupimento ou à incapacidade do sistema de drenagem das vias, podem levar a custos de reparo e de atraso na movimentação das cargas. Além disso, esses fenômenos provocam problemas de mobilidade na cidade de Santos que poderão impactar diretamente a operação no porto.

* Estagiária do R7, sob supervisão de Fabíola Perez

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