A Copa do Mundo e a grande quantidade de feriadões contribuíram para o fraco desempenho da economia brasileira ao longo de 2014, segundo especialistas consultados pelo R7. O resultado oficial ainda não saiu, mas deve indicar estagnação ou até recuo da atividade econômica.
A preocupação, no entanto, é que o número de paralisações em 2015 — a começar pelo Carnaval — é ainda maior e deve afetar novamente o PIB (Produto Interno Bruto) nacional.
A divulgação dos dados do crescimento no último trimestre do ano passado, marcado para acontecer no dia 27 de março, não deve apontar que a economia permaneceu estagnada, segundo a estimativa divulgada nesta semana pelo BC (Banco Central).
O índice do BC (Banco Central) que mede o crescimento da economia, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), indicou que o PIB recuou 0,15% no ano passado. Trata-se de uma prévia do resultado oficial.
Christian Barbosa, profissional especialista em produtividade, avalia que os feriados afetam diretamente o desempenho do PIB, porque a diminuição das vendas e da produção não são compensados pelo turismo gerado nos períodos. Com isso, ele classifica os feriados que caem na terça e na quinta-feira como os piores carrascos para o setor produtivo.
— O Brasil tem muitas emendas, o que é uma coisa muito típica nossa. Então, a gente não perde só a quinta, mas a quinta e a sexta-feira. Acho que isso é um grande problema para a economia.
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Barbosa explica ainda que a perda de desempenho causada pelos feriados acontece não somente pelas pausas em si, mas também pelos desdobramentos gerados na volta ao trabalho.
— Segunda-feira é um dos dias mais improdutivos, porque você passa o fim de semana relaxando e até a segunda engatar de vez, você demora cerca de duas ou três horas para começar a trabalhar.
Segundo Fernando Macedo, especialista em redução de custos para empresas, o planejamento prévio é essencial para não haver tantas perdas com a grade quantidade de feriados. Para ele, em muitas situações fica mais barato o empregador não pagar os benefícios ao funcionário do que ter um profissional desmotivado dentro da empresa.
— Se você já sabe que vai ter os feriadões, trabalhe antes para isso (...) O nível de produtividade sempre cai. É muito melhor você já ter planejado e colocar algumas regras internas.
Copa do Mundo
Para Barbosa, o andamento da economia foi diretamente afetado pelo Mundial, que gerou paralizações inesperadas em todos os setores.
— A Copa do Mundo gerou um monte de feriados imprevistos e fora isso as pessoas estavam muito focadas no evento. Mesmo quando não era jogo do Brasil, a gente via que os funcionários paravam no período de um jogo ou eram dispensados mais cedo porque estavam envolvidos em ver a Copa.
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Antônio Carlos Soares, CEO do Runrun.it, ferramenta que mede a produtividade por meio do volume de tarefas entregues por funcionários ativos das empresas, o evento esportivo chegou a diminuir o nível de produção pela metade.
— Existiu uma flutuação muito grande durante a Copa. A gente teve dias com queda de produtividade superior a 50%. Isso aconteceu de forma expressiva, em todos os setores e no Brasil inteiro.
Soares afirma que durante as eleições, ao contrário do que era esperado, a ferramenta não identificou queda no ritmo de produção.
“Catástrofe anunciada”
Neste ano, 11 dos 12 feriados nacionais ocorrerão em dias de semana, três a mais que no ano passado. Dentro desse cenário, economistas consultados pelo BC projetam um PIB de 0,44%.
De acordo com a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), estima-se que os feriados deste ano resultem em perdas de até R$ 64,6 bilhões para a indústria brasileira, valor que representa cerca de 4,8% do PIB Industrial brasileiro, comparado com 3,6% em 2014.
Barbosa estima que, aliado ao grande número de feriados, o ano de 2015 será marcado pelos problemas com o abastecimento de água e energia elétrica, o que pode ocasionar uma recessão.
— Se você pegar a quantidade de feriados que a gente vai ter, junto com os problemas hídricos e os de energia elétrica, a gente tem uma catástrofe anunciada. Neste ano, realmente, se o PIB ficar negativo, não vai me surpreender.