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Manobra fiscal aprovada pelo governo é como pagar o mínimo da fatura do cartão

Novos cálculos vão deixar contas no azul 'artificialmente', mas dívida vai aumentar no futuro

Economia|Joyce Carla, do R7

Parlamentares concluíram nesta terça (9) alteração da meta fiscal
Parlamentares concluíram nesta terça (9) alteração da meta fiscal Parlamentares concluíram nesta terça (9) alteração da meta fiscal

Com as contas do País no vermelho, o Congresso concluiu nesta terça-feira (9) uma mudança na lei orçamentária de 2014 (apelidada pela oposição de “manobra fiscal”) que altera a forma como será calculado neste ano o superávit primário — a poupança que o governo faz para pagar os juros de sua dívida. Para as contas do Brasil, no entanto, a mudança não terá nenhum efeito prático. Com ou sem essa manobra, a dívida brasileira irá aumentar por uma razão bem simples: o governo gastou mais do que arrecadou.

De janeiro a outubro, o rombo do governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência Social) foi de R$ 11,55 bilhões negativos — vale ressaltar que a meta seria economizar R$ 116,1 bilhões.

Para reverter esse quadro e fechar o ano com as contas aprovadas, o Palácio do Planalto mobilizou o Congresso e aprovou uma regra que vai considerar os gastos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e das desonerações tributárias como parte do superávit primário (VEJA OS GASTOS ABAIXO).

A solução, no entanto, só vai impedir o Planalto de ter problemas com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Para as contas, como explica o professor de finanças do Ibmec/RJ Gilberto Braga, a situação é semelhante a pagar o mínimo na fatura do cartão de crédito. Como o País não terá todo o dinheiro para pagar a dívida, será preciso refinanciá-la.

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— Apenas a mudança no cálculo da meta fiscal não implica em pagar mais ou menos juros. Só implica não ficar fora da Lei de Responsabilidade Fiscal. No entanto, se o Brasil não pagar os juros da dívida, será como uma bola de neve. Por isso, é importante ter uma estratégia de pagamento da dívida pública.

A seguir, tire suas dúvidas sobre as principais questões que envolvem a revisão da lei orçamentária de 2014.

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O que é superávit primário e déficit primário?

O “resultado primário” é a diferença entre receitas e despesas do governo, excluindo-se da conta as receitas e despesas com juros. Os dados consideram os gastos do governo com salários, investimentos, obras, programas sociais, entre outros, enquanto a receita são os impostos e recebimento de dívidas, por exemplo.

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Caso essa diferença seja positiva, tem-se um “superávit primário”; caso seja negativa, tem-se um “déficit primário”. O superávit primário é uma indicação de quanto o governo economizou ao longo de um período de tempo com objetivo de pagar os juros sobre a sua dívida. O resultado negativo indica que o governo teve de se endividar para poder cumprir com seus compromissos.

Com o déficit primário, os juros não pagos de dívidas anteriores se somam à atual dívida — ou seja, fica maior a dívida pública.

Por que é preciso fazer economia para pagar os juros da dívida?

Assim como um consumidor que usa o cartão de crédito, se o governo não pagar os juros da dívida, ela aumentará. Neste ano, o Brasil já pagou mais de R$ 258 bilhões em juros, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

O que é essa manobra fiscal?

O governo enviou uma lei ao Congresso para considerar os investimentos feitos pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e as desonerações tributárias concedidas neste ano como parte do superávit primário. Sem essa mudança, o Brasil provavelmente não ficaria com as contas no azul e estaria ilegal, conforme a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Por que o governo fez as desonerações tributárias?

Segundo o professor de economia do Mackenzie Agostinho Celso Pascalicchio, as desonerações tinham a intenção de reduzir os custos da produção, estimular setores específicos da economia e diminuir a pressão da inflação.

No entanto, as medidas não atingiram o objetivo, já que o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano terá um crescimento muito baixo e a inflação continua acima do teto da meta.

Braga, do Ibmec/RJ, afirma que as desonerações até poderiam ter efeitos positivos, já que o governo abre mão de receber um valor agora para compensar a arrecadação no futuro. Mas, como o governo continua gastando muito, entra em um círculo vicioso: o governo deixou de arrecadar com as desonerações, mas empresas e consumidores produziram e consumiram menos, então, ao final, o governo não teve a arrecadação de volta.

Como fica a credibilidade do País para os investidores?

Péssima, segundo Braga. O professor diz que a manobra fiscal para fechar as contas deste ano traz certa insegurança contratual, especialmente para o investidor estrangeiro.

— Mudar a regra no meio do jogo faz com que o investidor não tenha confiança no pagamento da dívida.

Como fica a dívida do Brasil no futuro?

Pascalicchio afirma que serão necessários pelo menos dois anos para corrigir o superávit do País. Ele lembra que, além de pagar os juros da dívida, o governo precisará levantar dinheiro para financiar as obras do PAC. Com essa manobra fiscal, diminui a credibilidade do País e aumenta o risco Brasil. Com isso, os empréstimos no futuro ficarão mais caros.

Braga diz que será preciso cerca de um ano e meio para arrumar a casa, mas que a próxima equipe econômica tem anunciado metas que tornaria desnecessário o uso dessa mesma manobra nas contas de 2015. Isso seria positivo para controlar a dívida.

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