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Jovem tem aparelho de audição confundido com ponto no Enem

Candidato diz que precisou chutar 20 questões por conta do nervosismo

Educação|Giorgia Cavicchioli e Ana Beatriz Azevedo*, estagiária do R7

Guilherme mostra o aparelho confundido com ponto eletrônico
Guilherme mostra o aparelho confundido com ponto eletrônico Guilherme mostra o aparelho confundido com ponto eletrônico

No dia 5 de novembro, quem fez a prova do Enem 2017 precisou fazer uma redação sobre os desafios para formação educacional de surdos no Brasil. Uma semana depois, fiscais da prova, treinados para identificar eventuais fraudes no exame, confundiram o aparelho auditivo de uma pessoa com deficiência com um ponto eletrônico.

O estudante Guilherme Maset, de 18 anos e portador de uma deficiência auditiva, diz ter passado por uma série de constrangimentos durante a realização da prova no domingo (12), na cidade de Monte Aprazível, no interior de São Paulo. Em entrevista ao R7, o jovem relatou que os problemas começaram no momento da inscrição para o exame.

Ao realizar a inscrição como deficiente auditivo, o laudo médico de Guilherme foi negado, o que obrigou o jovem a realizar novos exames médicos e mandar o laudo novamente. Na segunda tentativa, foi aprovado. “Em agosto desse ano eu fui lá, fiz outro exame e mandei para eles”, diz.

Mesmo com o direito de fazer a prova como uma pessoa com deficiência auditiva, o estudante teria sido designado para uma sala comum — e não para uma sala específica e separada para a realização de provas de deficientes auditivos.

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No primeiro dia de provas, Guilherme afirma que não teve nenhum problema em relação ao seu aparelho. No segundo dia de provas, porém, os fiscais, ao repararem o aparelho auditivo do garoto, teriam começado a gesticular e apontar para ele no meio do exame.

Depois disso, eles teriam começado a circular próximos à mesa em que o estudante realizava a prova. Guilherme relata ter ficado nervoso. “Me atrapalhou. Eu comecei a ficar com medo, meio apavorado de me tirarem a prova”, desabafa o jovem.

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Isso teria feito com que ele chutasse as 20 ultimas questões para sair logo do ambiente. “Se eles tivessem me colocado na sala normal [para pessoas com deficiência], do jeito que deveria ser, isso não teria acontecido”, afirma.

Ao entregar a prova, o garoto diz ter sido informado, então, que havia um problema com a documentação. Em seguida, diz ter sido encaminhado até um coordenador, que teria feito Guilherme tirar o aparelho auditivo e mostrar novamente a documentação. A suspeita dos fiscais era de que o aparelho fosse um ponto eletrônico.

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Segundo o estudante, isso mostra um “despreparo” dos fiscais, que acabaram gerando um “constrangimento”. Ainda de acordo com Guilherme, o tema de redação é uma “ironia”.

“Eles colocam uma redação com um tema desses e não sabem agir como deve ser feito. [Eles] têm que estudar o próprio tema. Com certeza muitos [deficientes] passaram por isso. Eles não têm preparo. Não conseguem agir sem constranger", explica.

Inscrição com a observação sobre a deficiência
Inscrição com a observação sobre a deficiência Inscrição com a observação sobre a deficiência

Nesta segunda-feira (13), a mãe do jovem relatou que procurou o coordenador em busca de orientação e que teria sido destratada por ele e chamada de “sem vergonha”.

Procurado pela reportagem, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) disse que o Enem deste ano foi organizado para atender 6.731.344 participantes. Para isso, segundo o instituto, foram necessários 600 mil colaboradores, distribuídos entre coordenadores estatuais, municipais, coordenadores de local, chefes de sala, assistentes e fiscais de corredor e de banheiro.

Segundo nota do Inep, “todos esses colaboradores passaram por um processo de capacitação presencial e a distância, nas quais foram repassadas todas as informações necessárias para a correta aplicação do Exame, com observância a todos os procedimentos dispostos no Edital e nos manuais, e orientações quanto ao tratamento a todos os participantes, de forma respeitosa, com observância às especificidades e necessidades especiais de cada um, em cada uma das 197 mil salas onde foram aplicadas as provas do Enem.”

Laudo médico com CID e dados pessoais de Guilherme
Laudo médico com CID e dados pessoais de Guilherme Laudo médico com CID e dados pessoais de Guilherme

Ainda por meio de nota, o instituto disse que “a coordenação de local de prova onde o participante citado realizou a prova foi consultada pelo consórcio aplicador e não foi identificado nenhum registro de anormalidade durante a aplicação da prova. ”

“O participante informou, no ato da inscrição, a condição de deficiente auditivo e solicitou tempo adicional. Conforme regras do Edital, houve a necessidade de ser incluído laudo médico para ser concedido o tempo adicional. Todavia, o laudo médico foi reprovado pelo consórcio, por não apresentar diagnóstico descritivo condizente com a solicitação do Participante ou o CID, não apresentar o carimbo do médico e pela não equivalência do CID informado e a descrição da doença, motivo pelo qual o tempo adicional requerido não foi concedido, conforme comprova-se por meio da análise do laudo médico do qual foram suprimidos dados pessoais do participante. O participante realizou a prova em sala regular”, conclui a nota do Inep.

* Sob a supervisão de Raphael Hakime, do R7.

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