Ocupação: deputado. Esse foi o ofício descrito no registro da candidatura de 243 dos 513 parlamentares eleitos para a Câmara dos Deputados em 2014. Além desses, 14 vereadores e três senadores também foram eleitos para a Casa. Isso significa que, a partir de 2015, mais da metade da Casa (50,7%) será composta por parlamentares que já possuem algum cargo político eletivo.
Os números reacendem o debate sobre a profissão de político no Brasil. O cientista político e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Cláudio Couto diz que “é inevitável” que pessoas que ocupem cargos eletivos por longos períodos se considerem deputados por profissão, por exemplo.
— Eu acho até bom que se assumam como políticos profissionais. Ajuda a desestigmatizar um pouco essa ideia de que políticos não devem ser profissionais. Em todos os ramos de atividade a gente percebe que as pessoas que desempenham melhor as suas tarefas são profissionais. Só na política que a gente tem a ideia que deveria ser o contrário. Não faz sentido isso.
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Reeleito para mais um mandato na Câmara, Tiririca (PR-SP)está entre os que se declararam deputado por ocupação no registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em 2010, quando foi eleito pela primeira vez, ele disse ser “ator e diretor de espetáculos públicos”. Marco Feliciano (PSC-SP) também trocou a ocupação no registro deste ano, em relação à última eleição: passou de “empresário e pastor evangélico” para deputado.
Para o cientista político David Fleischer, a principal fonte de renda do parlamentar deve ser levada em conta para considerar a profissão dele.
— O prefeito e o vereador é mais fácil [conciliar cargo público e outra profissão]. Quando ele vai para a Assembleia Legislativa, às vezes é muito longe da terra dele. Ou quando ele chega a Brasília, é mais longe ainda. Fica muito difícil você voltar e exercer a sua profissão. Alguns que são empresários conseguem manter a profissão porque são sócios, advogados. Tem certas profissões que é mais fácil você continuar exercendo.
Entre os eleitos para a Câmara, 16,6% declararam ser advogado ou empresário. Cerca de 80% têm curso superior, segundo dados do TSE.
Porém, também há casos como o de André Moura (PSC-SE). Desde 1997 na vida pública, ele já foi prefeito, deputado estadual e federal. Sem formação superior, a profissão dele no site da Câmara é “político” e no TSE, deputado. Arnaldo Jordy (PPS-PA) também tem ensino superior incompleto, segundo consta no cadastro da Casa, e, assim como o colega de Parlamento, declarou-se “político”. Os dois foram reeleitos.
A renovação da Câmara foi de 43,5% nessas eleições, sendo que 198 deputados assumirão pela primeira vez o cargo. Outros 25 não participaram da legislatura atual, mas em algum momento já tiveram mandato e foram eleitos em 2014.