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Alemanha ensina idioma e modo de vida do país para integrar refugiados

País europeu recebeu 1 milhão de imigrantes em 2015 e enfrenta manifestações frequentes

Internacional|Raphael Hakime, do R7, em Dresden, na Alemanha*

Refugiados têm aulas de alemão para se integrar à realidade do País
Refugiados têm aulas de alemão para se integrar à realidade do País Refugiados têm aulas de alemão para se integrar à realidade do País

Safyan Aslam tem 26 anos, mora em Dresden, na Alemanha, desde agosto de 2015 e sonha ser cozinheiro – embora se contente com qualquer trabalho que pintar, pois está desempregado. Oito anos dessa vida foram dedicados a fugir para bem longe de Gujrat, no Paquistão, onde nasceu.

Localizada a 175 km de Islamabad, capital do país, a cidade fica bem no meio da Caxemira, uma região disputada com muito sangue por Paquistão, Índia e China.

Cansado do conflito, tomou a decisão em 2008: deixou a família e pagou US$ 7.000 (cerca de R$ 25 mil) para um “coiote” leva-lo até a Grécia — uma peregrinação de 6.500 km que requereu caronas em ônibus, trens, pessoas desconhecidas dispostas a ajudar e, sobretudo, sola de sapato.

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Após prisões no Irã e na Turquia, conseguiu chegar à Grécia, onde ficou por oito anos, colecionando bicos de ajudante geral, assistente de cozinha, pedreiro, entre outros.

Angustiado com os olhares de reprovação que recebia nas ruas (e com os péssimos salários) da Grécia, migrou para a Alemanha em agosto do ano passado – não antes de ser preso mais uma vez, na República Tcheca.

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Safyam se juntou aos 4.178 refugiados da Síria, Afeganistão, Líbia, Iraque, entre outros, que vivem em Dresden. Na Alemanha, o número de refugiados que que cruzaram a fronteira em 2015 já supera 1 milhão, conforme dados oficiais.

Os primeiros refugiados que chegaram à cidade foram diretamente para a Universidade Técnica de Dresden. O reitor, Hans Müller-Steinhagen, disse que não ficou com medo, mas revela preocupação com os refugiados.

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— A quantidade de refugiados indo para a Alemanha, e para Dresden, estava aumentando rapidamente. Então, tivemos apenas dois dias para preparar todos os nossos centros de esportes [ginásios], uma das nossas cafeterias e outras áreas para arrumar lugar para os refugiados ficarem. De uma quarta-feira até uma sexta, os primeiros 600 refugiados chegaram.

Müller-Steinhagen diz que contatou a Cruz Vermelha, a polícia local e outras autoridades para providenciar camas, comida e roupas para os refugiados.

— Eu estava preocupado para conseguir tudo dentro do tempo e arrumar um espaço suficiente. Então, eu enviei um e-mail para todos os nossos funcionários e alunos para pedir ajudar e, dentro de 24 horas, nós conseguimos 300 voluntários.

No ápice, o campus da universidade chegou a abrigar mais de 1.500 refugiados. Diante da situação inusitada, o vice-reitor para assuntos internacionais, Hans Georg Krauthäuser, criou uma divisão especial para cuidar exclusivamente dessa nova população.

— Hoje, os refugiados vão agora diretamente para o nosso escritório internacional para conseguir todas as informações que precisam.

Apoiador da causa, o vice-reitor questiona: “Se você é um refugiado, para onde você vai? Para um lugar onde você possa viver em paz e tenha um mínimo de conforto”.

Porém, o alemão reconhece que a cidade não estava preparada para uma quantidade tão grande de refugiados, o que provocou uma série de manifestações favoráveis e contrárias à chegada dos migrantes.

— Há uma situação muito complicada em Dresden nesse momento. De um lado, temos milhares de pessoas na cidade que estão ativamente ajudando os refugiados. Por outro lado, temos outras milhares de pessoas que fazem manifestações todas as segundas-feiras. Minha impressão é de que as pessoas contrárias são minoria, mas “gritam muito alto”.

Krauthäuser critica a postura das autoridades, que, segundo ele, não se posicionam claramente o que querem. Ele defende a absorção dos imigrantes, uma vez que podem contribuir para o desenvolvimento da sociedade e ampliar o intercâmbio cultural.

— Acho um pouco óbvio o porquê de eles virem para a Alemanha. É um país muito bom, muito conhecido em todo o mundo. Eles poderiam ir para Luxemburgo, que também é um país muito bom, mas não é tão conhecido. Nós somos um país plural, o dinheiro está aqui, então acho que estamos preparados para abrigar essas pessoas necessitadas.

Safyan agora faz aulas diárias de alemão e aprende o modo de vida alemão com voluntários, dispostos a abraçar a causa e inserir os refugiados ao país. O reitor da universidade, uma das vozes mais ativas na cidade, assegura que os cursos de línguas e as atividades para reintegrar os refugiados à sociedade: “Isso continua, claro”.

Apesar da dificuldade com o idioma, o paquistanês, com os olhos marejados e um sorriso no rosto, garante: “Não quero mais partir. Ao contrário da Grécia, aqui as pessoas te olham nos olhos e querem te ajudar. É de coração”.

*O jornalista viajou a convite do Daad (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico)

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