Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Brasileiro passou por ponte na Itália na véspera de ela desabar: 'Tremia'

O caminhoneiro Carlos Eduardo Fernandes disse ao R7 que tragédia não foi maior porque a semana é de feriados. Veja vídeo dele passando pela ponte

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Caminhão que escapou por pouco do acidente na ponte Morandi, em Gênova
Caminhão que escapou por pouco do acidente na ponte Morandi, em Gênova Caminhão que escapou por pouco do acidente na ponte Morandi, em Gênova

"Sempre que um caminhão freava, você sentia aquela ponte tremer." É este o relato do brasileiro Carlos Eduardo Fernandes, de 39 anos, que trabalha como caminhoneiro na Itália e mora há dois anos na comuna de Borgonovo Val Tidone — a 130 km do local onde o desabamento de um viaduto deixou pelo menos 23 mortos nesta terça-feira (15).

Em entrevista ao R7, Fernandes — que é natural de Rio Claro, no interior de São Paulo — conta que costumava passar pelo local a trabalho até quatro vezes por semana. A última foi nesta segunda-feira (13), por volta das 17h30 do horário local (12h30 no horário de Brasília).

Chamado de Ponte Morandi, o viaduto que dava acesso a uma autoestrada se situava perto da cidade portuária de Gênova e sofreu um colapso estrutural, segundo a Defesa Civil. Choveu muito nesta manhã na região e havia pontos de alagamento no momento do acidente.

'Ponte era mal cuidada'

Publicidade

O brasileiro ressalta que as preocupações da população com a segurança no local são de longa data.

Fernandes vive há 4 anos na Itália
Fernandes vive há 4 anos na Itália Fernandes vive há 4 anos na Itália

“Mesmo olhando de baixo, você percebia que a ponte era mal cuidada. Partes do concreto já haviam sumido porque, aqui na Itália, na época das neves, as autoridades cobrem as vias com sal e outros produtos para evitar a formação de gelo. Só que essas substâncias acabam corroendo o asfalto”, explica.

Publicidade

Na opinião do paulista, mesmo o fluxo de caminhões sobre o viaduto sobrecarregava a estrutura.

“A região ali tem três portos, mas eles foram construídos depois da ponte. Ela provavelmente não foi planejada para suportar todo o movimento que os portos levaram para a área”, completa.

Publicidade

Tragédia poderia ter sido maior

Segundo o brasileiro, apesar da gravidade do acidente, a tragédia poderia ter sido maior se tivesse acontecido em uma semana útil. Ele contou que o movimento normal da ponte é muito mais intenso do que o registrado nesta terça-feira, véspera de feriado (15 de agosto é o chamado 'ferragosto', início das férias de verão na Itália).

"Só não aconteceu uma tragédia maior porque esta semana é de feriado aqui na Itália, então o movimento estava bem menor, quase nada de veículos. Tem dia que em cima daquela ponte é só caminhão e carro parado. Hoje a tragédia foi pequena perto do que poderia ter sido", diz Fernandes.

Diversas estruturas que ficam embaixo do viaduto, como casas e barracões de empresas, também estariam vazios por conta da data. "Havia apenas três ou quatro caminhões em cima da ponte na hora do desabamento porque o porto está meio fechado pelo feriado", conta.

Veja vídeo gravado pelo caminhoneiro cruzando a ponte que caiu

Obras de reestruturação

Dados da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômica) apontam que os investimentos da Itália em estradas caíram drasticamente desde 2006: naquele ano, foram mais de 14 bilhões de euros (aproximadamente 61 bilhões de reais), valor que despencou para pouco mais de quatro bilhões (17 bilhões de reais) em 2015.

Projetado pelo engenheiro Riccardo Morandi, o viaduto foi construído entre 1963 e 1967 e chegou a ser batizado e "Ponte do Brooklyn" pelas semelhanças com o ponto turístico de Nova York.

Enquanto alguns relatos dão conta de que a última obra de reestruturação da ponte de 1.182 metros foi feita em 2016, outros afirmam que o viaduto passava atualmente por manutenção e estava com um guindaste instalado para auxiliar os trabalhos.

As equipes de resgate italianas já alertaram para riscos de novos desabamentos na região. “A entrada para o meu bairro está fechada para dar preferência à passagem de ambulâncias”, destaca a brasileira Samyra Ramos, de 26 anos, que vive há quatro meses no bairro Cornigliano, a 1,5 km do local do acidente.

“Passei o dia todo hoje ouvindo sirenes e barulhos de helicóptero. Choveu muito forte e estamos aqui sob o alerta laranja — que significa risco de raios e tempestades. As autoridades nos aconselham a não sair de casa.”

Clima de indignação

Samyra, que nasceu em Maringá, no Paraná, afirma que o clima entre os que vivem na região é de indignação. Na opinião dela, o desabamento era uma tragédia anunciada: “Desde sempre eu escutei reclamações do pessoal que mora aqui, que a ponte balançava com o movimento dos carros, que ninguém se sentia seguro andando por lá. Dizem que há três anos não realizavam uma obra de manutenção efetiva na ponte. As más condições eram conhecidas”.

O caminhoneiro brasileiro Carlos Fernandes reforça o coro: “Nesse último domingo mesmo eu disse à minha esposa que não gostava de passar por ali. Não havia nenhuma sensação de segurança”, comenta. De imediato, ele acredita sua rotina de trabalho será afetada pelo acidente. “O tráfego de caminhões era proibido dentro das cidades ali — só era possível passar pela ponte. As regras de trânsito provavelmente vão ser mudadas”, finaliza.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.