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Brasileiros contam como está Nice após o ataque: “Tem muita gente irreconhecível e em estado de choque”

Maioria afirma que está com medo de sair às ruas e que será difícil continuar a vida 

Internacional|Bruna Vichi, especial para o R7

Cristianne Caldini Friedrich mora em Nice há três anos com o marido
Cristianne Caldini Friedrich mora em Nice há três anos com o marido Cristianne Caldini Friedrich mora em Nice há três anos com o marido

Os atentados terroristas da noite última quinta-feira (14), na cidade de Nice, na França, atingiram em cheio a comunidade de brasileiros que mora no local. Enquanto assistiam a queima de fogos em comemoração ao Dia da Bastilha, centenas de pessoas foram surpreendidas por um caminhão em alta velocidade. O ataque deixou pelo menos 84 pessoas mortas, além de ferir outras mais de 200.

Em entrevista exclusiva ao R7, brasileiros que moram em Nice e enfrentaram o terror relatam as cenas que viveram.

Carolina Figueiredo Pereira, uma brasileira do Rio de Janeiro, com 38 anos, mora em Nice há apenas dois meses e é produtora de televisão. Ela e o marido estavam na comemoração do Dia da Bastilha, quando perceberam que algo estava errado.

— Depois dos fogos, estávamos voltando pela rua. Decidimos subir pra calçada e começamos a ouvir os tiros e as pessoas vinham em nossa direção, correndo, em pânico. Nós demos as mãos e começamos a correr também.

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Os dois encontraram abrigo em um restaurante próximo, mas não encontravam respostas para o que estava acontecendo.

— Falavam em caminhão, em tiros, mas não tinha uma informação concreta. As pessoas estavam em pânico, muitas se perderam de suas famílias. Quando achamos que tinha acalmado, fomos andando pela praia para pegar o trem, já na direção contrária do local do atentado. Perto da avenida, aconteceu outra correria, mas acho que foi só pânico. Mesmo assim, nos abrigamos numa lanchonete.

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Na pressa para entrar na lanchonete, Carolina caiu e se machucou. Eles ainda se esconderam em mais um restaurante antes de conseguirem ir para a casa onde moram.

— Havia muita confusão na rua. Muitos policiais em posição, prontos para atirar, com escudos do choque.

O casal chegou em casa duas horas após o atentado e só depois conseguiu ter dimensão do que havia acontecido. Apesar de estarem bem, Carolina afirma que ficou em choque com tudo o que viu.

Luciana Alves de Almeida mora na cidade com seus dois filhos e o marido
Luciana Alves de Almeida mora na cidade com seus dois filhos e o marido Luciana Alves de Almeida mora na cidade com seus dois filhos e o marido

— Eu vi pessoas desesperadas, perdidas da família. Eu vi uma menina que, no desespero, se jogou do calçadão para a praia. Eu não fiquei para ver mortos e feridos, tudo o que eu queria era sair dali com meu marido.

Cristianne Caldini Friedrich, 49 anos, é paulistana, mas mora em Nice há três anos com o marido. O casal era dono de uma lanchonete em Florianópolis, mas, depois de três assaltos, decidiram se mudar para a França. Cristianne viu tudo pela janela do apartamento onde mora, próximo à Promenade de Anglais, onde o atentado aconteceu.

— Quando eu ouvi o barulho [dos tiros], achei que fossem os fogos. Só depois entendi o que estava acontecendo.

Ela afirmou também que, no mesmo instante, pegou o celular e entrou em um grupo no WhatsApp onde os brasileiros de Nice trocam informações.

— Todos nós estamos muito tristes. Conseguimos nos comunicar entre nós e todos enviaram mensagens para dizer que estavam bem. Um deles, na confusão, se separou da esposa e dos filhos e só os encontrou horas depois, dentro de um hotel, onde estavam mantidos em segurança.

A família, em questão, é a de César Pesqueiro. Na última noite, César desabafou em uma rede social sobre o que lhe aconteceu.

— Eu escapei com minha filha de seis anos, mas minha mulher, meu filho de quatro anos e minha filha de dez estão presos no hotel. A polícia diz que só vai liberar amanhã de manhã, são cerca de 20 pessoas em cada quarto. Não posso nem ir buscar minha família porque meu carro ficou abandonado na Promenade. 

Na manhã desta sexta-feira (15), César informou a todos que já havia reencontrado sua família.

Luciana Alves de Almeida também é uma brasileira em Nice. Ela mora na cidade com seus dois filhos e o marido.

— Ontem, como a maioria das pessoas, eu ia descer para a Promenade com meus amigos, porém, o tempo virou e a previsão era de chuva, então, desisti. Escutei barulhos, mas achei que eram os fogos. Duas horas depois de deitar para dormir, fui acordada por amigos que conseguiram escapar do atentado. Um deles, Anderson Happel, teve a perna cruelmente machucada pelo caminhão. Caminhões não passam na orla nem em dias normais, é proibido. Imagina só a noite, em uma via fechada, comentou Luciana, ainda em choque.

Camila mora em Nice há oito anos e é casada com um francês, com quem tem um bebê
Camila mora em Nice há oito anos e é casada com um francês, com quem tem um bebê Camila mora em Nice há oito anos e é casada com um francês, com quem tem um bebê

Além disso, Luciana afirmou que existem muitas pessoas machucadas dentro dos hospitais. 

— Tem muita gente irreconhecível e em estado de choque no hospital, sem poder ser reconhecida. A sorte é que há um ano, inauguraram um grande hospital que abrigou os adultos. A cidade está de luto.

A família da carioca Camilla Campos, 29 anos, também foi afetada pelo atentado. Camila, que trabalha como guia de turismo e mora em Nice há oito anos, é casada com um francês, com quem tem um bebê. Os dois foram às celebrações, mas voltaram para a casa antes do atentado. Entretanto, os sogros e o cunhado não tiveram a mesma sorte.

— Todos estão bem, mas ficaram presos no hotel, onde se esconderam até às 3h da manhã. Eu tenho medo de viver, tenho medo de sair, de ir ao supermercado. Eles estão em toda as partes.

Camilla conta tudo o que os familiares viveram na última noite.

— As pessoas se esconderam aonde puderam, nos hotéis, nos restaurantes, os hóspedes abrigavam a todos nos quartos. Duas senhoras muçulmanas abrigaram meus sogros e a prima do meu marido, criança, que viu tudo e estava aos prantos.

Bernadette dos Santos mora em Nice, mas estava com a família em Paris
Bernadette dos Santos mora em Nice, mas estava com a família em Paris Bernadette dos Santos mora em Nice, mas estava com a família em Paris

O cunhado de Camila escondeu-se com a namorada em um banheiro do hotel Meridien.

Repercussão em Paris

Enquanto centenas de pessoas eram atacadas em Nice, parisienses e turistas comemoravam o Dia da Bastilha aos pés da Torre Eiffel, na capital francesa. Entretanto, o momento de festa e alegria foi interrompido pela notícia de que Nice estava sob ataque, o que causou grande desespero em todos.

A brasileira Bernadette dos Santos, 48 anos, que mora em Nice, aproveitou a data para viajar com a família até Paris. Enquanto aproveitava a queima de fogos, ela foi avisada de que alguém estava atropelando a todos com um caminhão.

— Foi horrível, foi uma correria, um aperto. Os policiais não sabiam o que estava acontecendo, apontaram até uma arma para o meu filho.

Bernadette mora em Nice desde 2009, com seus cinco filhos. Ela trabalhava no aeroporto internacional de Nice, como cozinheira de uma empresa de aviação.

Bernadette usou seu celular para filmar a queima de fogos, mas foi surpreendida pela notícia e continuou a gravar a reação das pessoas.

— Eu achei que tinha desligado meu celular, depois que vi que filmei todo o desespero. Eu só queria chamar meus filhos, procurei por todos. Depois chamei meus amigos para ver se estavam todos bem. A gente não sabia o que estava acontecendo.

Com a crescente onda de terror na França, no momento em que souberam do ataque, Paris, a capital, virou um transtorno. As autoridades não sabiam se haveriam ataques simultâneos, portanto, a aglomeração ao redor da Torre Eiffel foi dispersada.

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