Chávez perde batalha contra câncer que continua misterioso

Caracas, 6 mar (EFE).- Um câncer que continua a ser uma incógnita venceu o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que morreu ontem em um hospital militar em Caracas, após 20 meses de luta contra a doença que acabou pouco a pouco com sua vida. Chávez, o homem enérgico que governou a Venezuela entre 1999 e 2012, não resistiu a uma doença misteriosa que deu margem a várias conjecturas jornalísticas e médicas, enquanto seu governo, com o objetivo de preservar a intimidade do presidente, se defendia do que chamou de "jornalismo mortuário". No dia 30 de junho de 2011, Chávez confirmou que já havia se submetido a duas cirurgias, a última para a retirada de um "abscesso" na zona pélvica, no qual foi constatada a presença de células cancerígenas. Mas o tipo e a localização exata da doença nunca foram oficialmente especificados. Em setembro de 2011, o próprio governante afirmou - com uma luva de beisebol na mão e fazendo lançamentos para desmentir um suposto agravamento de seu estado de saúde - que o tumor retirado tinha o tamanho de uma bola de beisebol e qualificou como "falso" um relatório jornalístico sobre um suposto câncer no cólon. "Felizmente para mim e para quem gosta de mim, (o câncer) estava encapsulado no meu corpo, ele foi se protegendo e virou uma bola dura. Ah, se tivesse passado mais tempo, talvez pudesse ter se rompido", comentou o chefe de Estado, que faleceu aos 58 anos. No entanto, ele se negou a identificar o tipo de câncer, e quando perguntaram diretamente sobre o assunto, respondeu: "Não há algo de morbidez nisso? Cada um faça a reflexão que tiver que fazer". Mas nem suas palavras ou as declarações oficiais amenizaram as versões da imprensa e de analistas depois de Chávez ter passado por sessões de quimio e radioterapia, além das operações às quais se submeteu em fevereiro e dezembro do ano passado. Alguns especialistas ousaram dizer, em declarações citadas por meios de comunicação, que Chávez sofria de "um rabdomiossarcoma, tumor cancerígeno dos músculos que estão aderidos aos ossos, que já apresentava metástase". Outros afirmaram que o "abscesso" pode ter sido causado pela metástase de um tumor de próstata, ou que se tratava de um câncer digestivo que causou uma perfuração. Também foram levantadas hipóteses sobre se tratar de um adenocarcinona de reto ou de cólon. O governo venezuelano nunca confirmou nem desmentiu nenhuma das suposições, para manter o mistério sobre a doença do chefe de Estado. Em outubro de 2011, o médico Salvador Navarrete, que já fez parte da equipe médica de Chávez, garantiu que o governante tinha um "tumor de pélvis" que era "muito agressivo" e que a expectativa de vida podia ser de "até dois anos". "A informação que eu tenho, segundo a família, é que ele tem um sarcoma, tumor maligno e agressivo, e tenho certeza de que essa é a verdade", afirmou o médico venezuelano. O Executivo venezuelano informou que até 3 de março de 2013 foram publicadas sob o conhecimento do governo "51 notícias sobre a saúde do presidente Hugo Chávez, entre comunicados oficiais, declarações telefônicas, entrevistas e mensagens em redes sociais". Em entrevista à Agência Efe em janeiro desse ano, o vice-presidente, Nicolás Maduro, defendeu a política de comunicação do governo e garantiu que "o manejo de toda a situação de saúde do presidente Chávez foi feito com um critério muito claro do papel cumprido pelo chefe de Estado". "Adotamos o que consideramos uma opção correta com base na luta por ideais, na defesa da política e do aspecto humano do presidente Chávez e de sua família", disse Maduro. Após a morte de Chávez, o ex-presidente do Uruguai Tabaré Vázquez, oncologista e o primeiro governante de esquerda de seu país, considerou um "paradoxo" que o líder venezuelano tenha sido vítima de uma "doença que ajudou a combater em várias frentes" e lembrou que "colaborou" com US$ 2,5 milhões para o Instituto Nacional do Câncer de Montevidéu, entre outras doações. EFE lb/apc/id