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Obama questiona silêncio da América Latina sobre situação na Venezuela

Internacional|

Washington, 9 abr (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse em entrevista exclusiva à Agência Efe que as "mudanças históricas" na política com Cuba já estão dando "resultados" e considera que seu país e todo o continente americano não devem "manter silêncio" sobre a situação na Venezuela. Obama reafirmou na entrevista, realizada antes do começo da Cúpula das Américas, seu compromisso de "associação" com a América Central para tentar resolver "fatores subjacentes, como a violência e a pobreza que levaram muitos a uma perigosa viagem ao norte" em busca de oportunidades. A relação atual entre os Estados Unidos e o resto das Américas é "a melhor em muitas décadas", ressaltou Obama, que encorajou todos a se sentirem "orgulhosos" de a comunidade interamericana estar hoje "muito dedicada aos princípios democráticos, ao progresso social e ao crescimento sustentável". Abaixo você lê o conteúdo da entrevista, em transcrição divulgada pela Casa Branca:. Agência Efe - Sr. presidente, o lema central da VII Cúpula das Américas é "Prosperidade com igualdade: o desafio da cooperação nas Américas". Em seu segundo mandato, suas políticas se centraram em tomar medidas para reduzir a inequidade e a distância entre ricos e pobres. Que tipo de compromissos concretos espera obter na cúpula e como os Estados Unidos podem ajudar a lutar contra a desigualdade na região? Barack Obama - Como presidente, dei minha palavra aos nossos irmãos e irmãs latino-americanos de que os Estados Unidos colaborarão com os países e os cidadãos da região como parceiros em igualdade de condições, baseando-nos em nossos interesses compartilhados e em uma relação fundamentada no respeito mútuo. Isso se deve a acreditar que as oportunidades e os desafios que nosso hemisfério enfrentam só podem ser resolvidos se trabalharmos juntos, com um espírito de responsabilidade compartilhada. E isso inclui abordar o tema das injustiças causadas pelas desigualdades de tipo econômico. Acho que esta cúpula pode ser construída sobre a base do incrível progresso que a região obteve nas últimas décadas. O crescimento econômico, o comércio e o compromisso compartilhado de ampliar as oportunidades tiraram milhões de pessoas da pobreza. Desde 2002, a classe média praticamente dobrou e constitui o grupo social majoritário em países como Brasil e México pela primeira vez na história. Apesar disso, junto da nova riqueza criada na região, um terço da população do continente ainda sofre com a pobreza extrema, e isso torna enormemente difícil obter acesso à educação, ao atendimento médico e aos serviços básicos que suas famílias precisam. Esta situação não só é um contrapeso para o crescimento econômico, mas também um desafio moral para todos nós. Estou convencido de que a melhor forma de preencher esta lacuna é fomentar o crescimento econômico em grande escala para criar novas oportunidades, assim como expandir o acesso às ferramentas que as pessoas necessitam para sair da pobreza, que incluem educação, aprimoramento técnico e capacitação laboral. Este é o motivo pelo qual temos impulsionado as trocas comerciais e os investimentos. Ao longo da região, estamos expandindo o acesso à eletricidade e conectando as famílias e as comunidades à economia global. Nossa Rede para Pequenas Empresas do continente americano está ajudando 250 mil pequenas empresas a crescerem em toda a região, e nossa iniciativa WE Americas está ajudando a dar força as mulheres empreendedoras. E com nossa iniciativa, a 'Força de 100 mil nas Américas' e outros programas de intercâmbio estudantil, estamos conectando nossos estudantes, jovens e empresários entre si e brindando-os com acesso a formação e às redes necessárias para colaborar e ter sucesso no século XXI. Minha viagem desta semana aprofundará este trabalho. Na Jamaica, anunciarei uma nova iniciativa para fortalecer os jovens empreendedores e os líderes da sociedade civil em todo o continente americano e trabalharei lado a lado com os líderes do Caribe para promover fontes de energia limpas e sustentáveis. A Cúpula das Américas no Panamá é uma oportunidade de continuar a melhorar a competitividade da região, e os Estados Unidos encorajarão todos os países do continente americano a ratificarem o Acordo sobre Facilitação do Comércio da OMC. Também desejo me encontrar outra vez com os líderes de toda a América Central para aprofundar nossas iniciativas de parceria a fim de promover a boa governança e melhorar as condições econômicas e de segurança, para que cada vez mais gente tenha a oportunidade de viver de forma segura e próspera nesses países. Ao mesmo tempo, cada governo tem a responsabilidade de realizar o que lhe cabe para garantir a boa governança e a transparência que estimulam o comércio, os investimentos e as iniciativas econômicas conjuntas, que fomentam mais prosperidade para todos, assim como promover a inclusão social que permite a todas as pessoas terem oportunidade de sucesso independentemente de suas origens. Efe - Esta será a estreia de Cuba na Cúpula, e com isso todos os países da região esterão juntos pela primeira vez na história. O senhor está pronto para anunciar a reabertura das embaixadas em Washington e Havana junto com o presidente cubano, Raúl Castro? Acredita que o regime cubano está fazendo o suficiente para melhorar a situação dos direitos humanos na ilha e realizar progressos nesse sentido? Obama - As mudanças históricas de nossa política que anunciei em dezembro representaram o rompimento de uma estratégia que, durante mais de 50 anos, não conseguiu melhorar as condições políticas ou econômicas do povo cubano. Como parte desse anúncio, os governos de Cuba e dos Estados Unidos se comprometeram a negociar o restabelecimento de relações diplomáticas, cuja ruptura aconteceu em 1961, e nós temos a intenção de cumprir esse compromisso. O secretário de Estado (John) Kerry e sua equipe já realizaram uma série de diálogos bilaterais com Cuba, as negociações mais intensas e de mais alto nível das últimas décadas. Nossos diplomatas estão realizando progressos significativos e estou convencido que poderemos levar adiante a reabertura de nossas respectivas embaixadas. De toda forma, a reabertura das embaixadas é só uma parte do processo de normalização entre nossos dois países. Enquanto isso, nossos governos já iniciaram as conversas sobre temas como aviação civil, direitos humanos, telecomunicações e outros assuntos que afetam os cidadãos dos dois países. Estou convencido de que isso beneficiará os Estados Unidos e a Cuba, melhorará as vidas dos cubanos e impulsionará uma cooperação mais efetiva no hemisfério. Nossa nova política sobre Cuba também facilitará uma ligação maior com o povo cubano, incluindo o aumento do fluxo de recursos e de informação - e isso já está mostrando resultados. Vimos um aumento no contato entre o povo de Cuba e os Estados Unidos e o entusiasmo do povo cubano com estas mudanças demonstra que estamos no caminho correto. Como disse em dezembro, continuamos a ter diferenças significativas com o governo cubano, incluindo temas relacionados aos direitos humanos, e os Estados Unidos sempre apoiarão os valores universais como a liberdade de expressão e a liberdade de assembleia. Durante a Cúpula das Américas, me reunirei com líderes da sociedade civil de toda a região, incluindo de Cuba, como faço frequentemente em diferentes países ao redor do mundo, porque acreditamos que a sociedade civil tem um papel crucial para apoiar o progresso de nossas sociedades. Efe - A solicitação de US$ 1 bilhão para ajudar os países da América Central a melhorarem sua segurança para conter a imigração ilegal para os Estados Unidos ainda precisa de aprovação no Congresso. Além disso, suas ordens presidenciais sobre imigração continuam bloqueadas nos tribunais. O que está sendo feito para tentar avançar nestes dois assuntos? Obama - Este US$ 1 bilhão que pedi para nossa estratégia na América Central não é somente para a segurança, nem foi pensado só em resposta ao crescimento que observamos da imigração. Pelo contrário, é parte de nossa estratégia elaborada para nos associarmos com os países centro-americanos enquanto eles trabalham para resolver os fatores subjacentes que têm levado muitos a realizar essa perigosa viagem rumo ao norte, incluindo a violência e a pobreza. Serve para contribuir com os esforços contínuos da minha administração em promover a segurança e a prosperidade na região, incluindo os programas de prevenção de violência nas comunidades. Durante minha viagem desta semana, continuarei a defender nosso pedido de US$ 1 bilhão para o Congresso, destinado a ajudar os líderes da América Central a realizar as difíceis reformas e os investimentos necessários para lidarem com os desafios inter-relacionados à segurança, ao governo e à economia da região. Os povos da região querem as mesmas coisas que os povos de todo o mundo: instituições democráticas, eficazes, responsáveis e transparentes, comunidades seguras para suas famílias e economias integradas para que a região possa competir na economia mundial. Os Estados Unidos estão comprometidos a serem seus aliados para construir esse futuro. Ao mesmo tempo, mantenho meu total compromisso para resolver nosso sistema de imigração, que não funciona. As ações executivas que anunciei ano passado foram pensadas para regular alguns dos problemas que temos atualmente, e embora algumas dessas ações estejam aguardando em nossos tribunais, acredito que a lei está do nosso lado e que no final tudo irá adiante. Mesmo assim, as medidas que tomei não são um substituto para a reforma detalhada e bipartidária que precisamos para melhorar nosso sistema de imigração mais completamente, em que milhões de pessoas continuam vivendo à sombra. Por isso mantenho meu compromisso de trabalhar com o Congresso para aprovar uma reforma migratória integral. EFE - No resto do mundo se percebe que os Estados Unidos perderam influência e presença no continente americano. As organizações regionais como Unasul e Celac são vistas como mais eficazes e poderosas do que a OEA e, por exemplo, o Brasil se uniu ao banco dirigido pela China, o AIIB. O senhor acredita que os Estados Unidos continuam sendo o principal e mais importante aliado da região? Obama - Sim, porque a relação entre os Estados Unidos e o continente americano é como nenhuma outra no mundo todo. Estamos ligados diretamente por laços familiares, comerciais, culturais, por valores compartilhados e por nossas aspirações para o futuro. Estamos ligados pelos bilhões de hispano-americanos, que é a população que mais aumenta nos Estados Unidos e cuja influência só crescerá nas próximas décadas. E desde que assumi meu cargo, reforçamos nossos laços com a América Latina, incluindo os econômicos, que ampliaram as exportações americanas para a região em quase 70%. De fato, não exagero ao dizer que nossa relação com o continente americano é a melhor que temos em muitas décadas. O novo capítulo do compromisso que começamos com Cuba foi apoiado em toda a região, e também é uma oportunidade histórica de melhorar a cooperação e o progresso com a região. Os Estados Unidos lideram os esforços internacionais para apoiar as nações do Caribe na medida em que assegurem seu futuro energético. Estamos trabalhando de perto com Canadá, Chile, México e Peru para fechar um acordo de comércio do século XXI no Acordo Estratégico Trans-Pacífico de Associação Econômica. Quando se trata de defender a segurança, a prosperidade e os direitos humanos do povo do continente americano, ninguém faz tanto, em mais lugares, do que os Estados Unidos. Embora seja verdade que a região mudou dramaticamente nas últimas duas décadas, o fez de forma consistente com nossos valores e interesses nacionais. Podemos nos sentir orgulhosos de a comunidade interamericana de hoje ser uma em que não há conflitos entre os estados e que está muito dedicada aos princípios democráticos, ao progresso social e ao crescimento sustentável. Interessa-nos muito que os países no continente americano se relacionem e formem relações comerciais com Europa, África, Índia e Ásia; pode significar mais prosperidade e oportunidade para todos nós. Agradecemos as contribuições de qualquer país ou organização regional que esteja trabalhando ativamente para alcançar nosso objetivo, compartilhado, de ter um hemisfério democrático, mais próspero e seguro, do Canadá ao Chile. À medida em que os países do continente americano expandem suas relações internacionais e assumem um papel mundial mais ativo, um papel que antes de tudo avança em nossos valores e interesses compartilhados, é natural que outros atores internacionais e novas organizações sub-regionais tenham um papel mais importante na região. Se esses países e organizações se esforçam para respeitar a segurança, a prosperidade e os direitos humanos da região, é algo positivo. EFE - Em março o governo americano emitiu uma ordem presidencial para impor sanções à Venezuela e declarou o país uma "ameaça" à segurança nacional. Essa ordem presidencial foi criticada por alguns países da região. Por que acham que esta foi a decisão correta para lidar com a situação da Venezuela? Os EUA estão abertos a um diálogo direto com o presidente venezuelano Nicolás Maduro? Obama - Quero ser claro: nosso interesse principal e durável é uma Venezuela que seja próspera, estável, democrática e segura. Queremos que o povo venezuelano triunfe e prospere. Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial da Venezuela, com mais de US$ 40 bilhões de comércio bilateral por ano. Temos conexões muito profundas e duradouras entre famílias e nossos cidadãos. Acredito firmemente no compromisso diplomático, e os Estados Unidos continuam abertos ao diálogo direto com o governo venezuelano para discutir qualquer tema de interesse mútuo. A Venezuela enfrenta desafios enormes neste momento. Durante muitos meses, os vizinhos da Venezuela tentaram promover o diálogo interno e uma solução política às divisões que fragmentam a sociedade venezuelana, esperando prevenir que a situação da Venezuela afetasse negativamente outros na região. Apoiamos de forma constante esse tipo de diálogo e continuamos a vê-lo como o melhor caminho para a Venezuela. Isso não significa que nós, nem qualquer outro membro da comunidade interamericana, deva se manter em silêncio sobre nossas preocupações com a situação da Venezuela. Não achamos que a Venezuela seja uma ameaça aos Estados Unidos e os Estados Unidos não são uma ameaça ao governo da Venezuela. Mas continuamos muito preocupados sobre como o governo venezuelano continua se esforçando para intimidar a seus adversários políticos, inclusive com a prisão e com as acusações políticas a líderes eleitos, e a erosão contínua dos direitos humanos, da mesma maneira que deveríamos nos preocupar com ações desse tipo em qualquer outro país do mundo. Por isso, as sanções que impusemos estão voltadas a dissuadir a violação dos direitos humanos e a corrupção. Estas sanções estão focadas especificamente nas pessoas responsáveis por perseguir seus adversários políticos, de restringir a liberdade da imprensa, pelo uso da violência e pelas detenções arbitrárias. Estas sanções não querem derrubar o governo venezuelano, nem promover a instabilidade na Venezuela. Daqui em diante, continuaremos trabalhando de perto com outros (países) da região para encorajar o governo venezuelano a realizar seu compromisso de promover e defender a democracia em seu governo, como está na Carta da OEA, a Carta Democrática Interamericana, e em outros instrumentos relevantes relacionados com a democracia e os direitos humanos. A cúpula esta semana no Panamá é um momento importante para os líderes de toda a região reafirmarem o compromisso com estes princípios e valores. EFE mb/cd/id

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