O presidente do Uruguai, José Mujica, afirmou nesta quarta-feira (5) que seu governo despreza as advertências da Jife (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes) que questiona em seu último relatório anual a legalização da produção e venda de maconha aprovada no país.
— A ONU, que é tão velha, está puxando a nossa orelha. E vamos dar tanta bola para isso como dão as grandes potências quando tomam suas decisões. Vamos ganhar esse jogo. Vamos mostrar qual é o caminho das reformas.
Mujica fez estas declarações após receber um prêmio da Aldhu (Associação Latino-Americana para os Direitos Humanos (Aldhu), entregue em reconhecimento às "reformas substanciais" empreendidas durante seu governo, entre elas a regulação da maconha.
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— Somos um país pequeno e eles se assustam. Mas me assusta mais que levemos 100 anos reprimindo e ficarmos pior, multiplicando a riqueza que vai parar na mão dos grandes, enquanto os povos e a juventude se desfazem.
Fins recreativos
A Jife assinalou na segunda-feira (3), na apresentação de seu relatório anual, que a lei uruguaia que regula a produção, venda e consumo de maconha viola os tratados internacionais sobre drogas e "marca uma tendência perigosa".
A Convenção de 1961 sobre drogas - adotada por 186 países, incluído o Uruguai - só contempla o uso da maconha para fins médicos e científicos. A Jife afirma por isso que qualquer uso recreativo, como o que prevê a lei uruguaia, sai do estipulado.
Apesar da dureza do relatório, o presidente do organismo, Raymond Yans, mostrou sua disposição para renovar a "estreita cooperação" com o Uruguai para abordar sua lei de legalização do cannabis, respeito à qual agora mantêm um "diálogo difícil", reconheceu.
O Uruguai legalizou a compra e venda e cultivo da maconha em 10 de dezembro do ano passado, com a aprovação no Senado do projeto legislativo que se encontra em fase de regulamentação.