Os advogados de Fábio Schvartsman, presidente da Vale quando ocorreu a tragédia de Brumadinho, continuam indignados com o Ministério Público de Minas Gerais. Não pela inclusão de seu cliente no grupo dos 10 executivos responsabilizados pelo dilúvio de lama que matou 270 pessoas. O que os doutores não engolem é o enquadramento de Schvartsman por homicídio doloso.
Espertamente, os advogados alegam que o adjetivo doloso só se aplica quando o acusado prevê o resultado e busca realizá-lo. Fingem ignorar que esse é o dolo direto ou determinado, caracterizado pela intenção de matar. Mas há o dolo eventual: ocorre quando alguém, mesmo sem desejar efetivamente a consumação do crime, assume o risco de produzi-lo.
O rompimento da barragem de Brumadinho foi um homicídio doloso em larga escala, praticado em parceria por dirigentes da Vale e da Tüv Sud, empresa de consultoria contratada para avaliar periodicamente o nível de segurança das barragens. As investigações constataram que dirigentes da Vale e técnicos da Sud alteraram os índices de risco, para torná-los "aceitáveis". A vigarice assassina ocorreu em Brumadinho.
Horas depois do rompimento da barragem, Schwartzman deu as caras na tevê para colar os cacos da imagem da Vale. E soltou a frase decorada no camarim: "Não existem palavras para descrever a dor que estou sentindo com o que terá sido causado às vítimas, se elas existirem".
Já existiam vítimas. E sempre existiram palavras para descrever qualquer tipo de sofrimento. O que faltava a Schwartzman era alguma dor genuína. Se estivesse tão desolado , não ousaria erguer o monumento ao cinismo: "Viramos as barragens do avesso e contratamos as melhores auditorias do mundo".
Ele assumira a presidência da mineradora depois da tragédia de Mariana. Encarregado de evitar matanças desse porte, ajudou a parir o massacre de Brumadinho.
Demitido, foi consolado pela indenização de R$ 80 milhões.
Em Brumadinho, 11 famílias ainda não sabem onde estão seus mortos. Schwartzman talvez não saiba como gastar tanto dinheiro.