A pista de pouso localizada dentro de uma propriedade da família do ex-piloto Nelson Piquet, próxima ao local onde um pequeno avião se acidentou nesta segunda-feira (31), já foi alvo de disputas internas e polêmicas judiciais.
Em 3 de maio de 2012, o irmão do piloto, Geraldo Piquet, chegou a ser preso em Brasília sob a acusação de desmatamento ambiental.
Geraldo foi detido por agentes da Delegacia do Meio Ambiente (Dema) por dar seguimento às obras de ampliação da pista de pouso mesmo sem a autorização de autoridades administrativas e ambientais do Distrito Federal.
O acusado foi liberado após o pagamento de fiança equivalente a 15 salários mínimos e respondeu com base na Lei dos Crimes Ambientais.
O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram-DF) foi quem notificou o proprietário. Dias depois, Geraldo então teria pedido autorização ao Ibram sem, no entanto, interromper os trabalhos no terreno.
À época, a assessoria do Ibram informou que a autorização seria concedida, mas que o proprietário errou ao não esperar a permissão.
O terreno fica a 6,7 milhas náuticas (11,2 km) da cabeceria da 29R, uma das pistas do aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, como mostram dados da plataforma RadarBox.com.
Na arte do RadarBox, inclusive, percebe-se a proximidade.
Mas a pista de Nelson Piquet é regulamentada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Nos registros do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) ela é identificada como Piquet (SSGP).
Os dados ROTAER indicam 15 51 16S/047 48 34W. A orientação da pista é a de indicação 28, com um terreno em rampa, inclinada.
Mesmo assim, sua localização geográfica, nas coordenadas -15.85315,-47.80596,z17, sofre questionamentos por alguns pilotos.
Um comandante de aviação comercial ouvido pelo Blog sob a condição de anonimato questionou a autorização concedida à família Piquet:
"Esse aeródromo é um absurdo porque fica no final da [pista] 29 de Brasília, eu nunca vi um aeroporto funcionar no final de um terminal de grande porte em uma capital."
O terreno fica próximo ainda a condomínios de classe média alta de Brasília, área considerada nobre de Brasília.
A polêmica em torno do terreno não se restringe a pilotos de linhas comerciais.
A própria família Piquet enfrentou um contencioso interno que foi parar na Justiça.
A briga envolvia Nelson Piquet, o irmão e a ex-mulher de Geraldo.
A disputa pela propriedade, de acordo com o JusBrasil, começou porque Geraldo, sem o consentimento da esposa, havia vendido ao irmão o direito de posse sobre a área, que, na verdade, pertencia à Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap).
Com a separação de fato do casal, a ex-mulher de Geraldo passou a reivindicar seus direitos em relação à fazenda.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal considerou inválida a transferência de posse feita sem a assinatura da esposa, mas reconheceu ao ex-piloto os direitos sobre as benfeitorias que havia construído no local, onde passou a residir.
Inconformados com a decisão, os irmãos Piquet entraram com recurso no STJ.
O acordo só chegou 14 anos depois, quando as partes se entenderam sobre a posse de uma área de 91 hectares localizada próximo ao Lago Sul, uma das regiões mais valorizadas de Brasília.
A conciliação foi promovida e homologada pelo desembargador convocado Vasco Della Giustina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).