Aliado de Bashar al-Assad na guerra da Síria, o Irã pode ser também o estopim para a queda do ditador, que neste momento pode estar com os dias contados. Ele já está sendo ameaçado pelos Estados Unidos, após o presidente Donald Trump afirmar que irá lançar mísseis na Síria, em retaliação a suposto ataque químico.
Mas pode ser Israel quem irá tirá-lo do poder. O ataque israelense à base T-4, em Homs, no último domingo (8), foi um divisor de águas dentro do conflito. Pela primeira vez o governo iraniano admitiu baixas nesta guerra, com a informação de que sete membros da Guarda Revolucionária do Irã foram mortos na ação.
E - se cumprida - a promessa do Irã de retaliar o ataque será, possivelmente, o golpe fatal para o governo Assad. Reunido com seus ministros ligados à segurança, nesta quarta-feira (11), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pediu discrição em relação ao tema, considerando-o muito delicado. Mas tudo indica que foi aventada a possibilidade de Israel dar um fim ao governo Assad, caso o Irã retalie a ação israelense.
A posição de oficiais do alto escalão do Exército de Defesa de Israel, segundo relatou o The Jerusalem Post, é categórica. Israel, segundo eles, tem a consciência do risco de uma escalada do conflito, envolvendo a Rússia (protetora de Assad) e os Estados Unidos. Mas, como sempre fez em grande parte de sua existência, pagará o preço para não ter sua soberania ameaçada, segundo esses oficiais.
— O regime de Assad e o próprio Assad desaparecerão do mapa e do mundo se os iranianos tentarem prejudicar Israel ou seus interesses desde o território sírio.
Israel, neste caso, ao contrário do que ocorreu em 1991, na Guerra do Golfo, deixaria de lado a frieza, e reagiria com suas próprias forças. E seria, desta vez, um instrumento para facilitar os planos dos Estados Unidos, que também ameaçam retaliar um suposto ataque com armas químicas atribuídos ao presidente sírio.
Neste caso, Israel faria o trabalho, que envolveria os americanos apenas como aliados indiretos. E esperaria pela reação dos russos, que, segundo afirmação do presidente Vladimir Putin em conversa telefônica com Netanyahu, nesta quarta-feira, poderia ameaçar a segurança israelense.
Putin pediu a Netanyahu que "ele se abstenha de qualquer ação que possa desestabilizar ainda mais a situação no país, que representaria uma ameaça para a sua segurança".
Mas, nesta conversa em que os lados falam sem ouvir o outro, o presidente russo parece não ter mencionado o Irã, cuja presença na Síria, conforme Israel já repetiu inúmeras vezes, é considerada uma ameaça.
E é essa presença iraniana que se constitui o problema nuclear para Israel, e não "a importância do respeito à soberania da Síria", conforme Putin afirmou na conversa. Os oficiais israelenses realçaram tal objetivo, em suas declarações.
— Nossa recomendação ao Irã é que ele não tente agir, porque Israel está determinado a continuar com essa questão até o fim.
O próprio ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman, ultradireitista do partido Israel Beiteinu, ressaltou que a presença do Irã em território sírio, próximo à fronteira com o Líbano, é prejudicial à segurança de Israel, em função do discurso hostil do governo iraniano à existência do Estado Judaico.
— Não importa o preço, não permitiremos que o Irã tenha uma presença permanente (militar) na Síria. Não temos outra escolha.
Na guerra de 1991, o governo do primeiro-ministro, Yitzhak Shamir, do Likud, não reagiu aos ataques com mísseis Scuds, lançados pelo governo do iraquiano Saddam Hussein. Em combinação com os Estados Unidos, Israel deixou que o conflito ficasse a cargo dos americanos, que inclusive enviaram soldados para Israel, a fim de proteger a população local com mísseis de defesa Patriots.
Apesar de poder provocar a retaliação russa, e consequências de repercussões incalculáveis, uma ação pontual de Israel contra Assad pode também resultar simplesmente na queda de Assad.
O ditador líbio, Muamar Kadafi, também tinha apoio russo até setembro de 2011. Em outubro, ele foi retirado do poder e morto por opositores, após ataques ocidentais.
A Rússia, naquele momento, abriu mão do apoio e não se opôs à autoridade do Conselho Nacional de Transição local. Isso mostra que, para um ditador, a proteção de uma potência vai até onde ele lhe interessar. Por trás de toda a aura do poder, os ditadores são, acima de tudo, descartáveis.