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Israel: museu relembra debate entre Bob Dylan e jornalista

Passado e presente se cruzam na Universidade de Tel Aviv, e o encontro faz com que pais e filhos tenham opiniões diferentes

Nosso Mundo|Eugenio Goussinsky, do R7

Dylan e repórter tiveram longa discussão, mas sem ódio
Dylan e repórter tiveram longa discussão, mas sem ódio Dylan e repórter tiveram longa discussão, mas sem ódio

O Museu da Diáspora, em Tel Aviv, realizou recentemente uma exposição sobre a vida e obra de Bob Dylan. Em uma ala discreta, um complexo de três recintos interligados, por entre painéis de exposição, misturou imagens, a música, as palavras e o silêncio. As pessoas, assim, sentiram a personalidade de Dylan.

A irreverência deste artista de origem judaica fala muito sobre a questão religiosa, os traumas, os anseios, a busca e o medo do sucesso.

Questões humanas se entrelaçam naquelas paredes, numa transmissão invisível do que ocorre lá fora, da atmosfera luminosa de Tel Aviv até fronteiras que ultrapassam o Estado de Israel, atravessam o mar, acompanham o ser humano em sua trajetória dia a dia.

Em uma das peças, um vídeo, com áudio, mostrava Dylan dando uma entrevista informal a um jovem repórter, Terry Ellis, enquanto dedilha algumas notas na guitarra e depois fuma um cigarro. A fumaça se mistura ao seu pensamento límpido, durante o longo diálogo.

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Dylan convida, com uma dose de crueza, que esconde um toque de gentileza, o repórter a um debate filosófico sobre comunicação, sobre o que considera a inútil busca da imprensa por notícias concretas a respeito das celebridades.

Em São Paulo, Memorial do Holocausto lembra dor de judeus

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Uma discussão antiga, já em voga naqueles anos 60, em que o repórter, tímido, mas ao mesmo tempo disposto a rebater, defende que a informação é um instrumento necessário para a sociedade.

Com muita segurança, Dylan acua o interlocutor. Contesta a definição do que é informação, duvida da precisão da verdade revelada em qualquer entrevista curta, mostrando que uma relação profunda, ou um dom, muitas vezes não encontra explicação no espaço destinado a ela em um artigo ou reportagem. Dylan debochava da mediocridade vendida como verdade, por meio das aparências.

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Percebi que um menino de nove anos, à minha direita, sentiu pena do repórter, achando Dylan um tanto grosso. Contou isso para o pai, que contestou, numa linguagem acessível, afirmando admirar o compositor e também o jornalista, simplesmente por se mostrarem na transparência dos argumentos, frente a frente, sem barreiras de quem era quem. Sem ódio. 

Uma das alas contém maquetes de sinagogas históricas
Uma das alas contém maquetes de sinagogas históricas Uma das alas contém maquetes de sinagogas históricas

O museu fica em um dos prédios da Universidade de Tel Aviv. As universidades em Israel já dão sinal de sabedoria. Situam-se em cima de colinas.

Tudo é visto de um prisma mais elevado. As tensões humanas, os conflitos do dia a dia. As urgências se dissolvem no cenário amplo. Cada um é importante neste contexto. O passado, o presente, o todo.

Na Universidade de Jerusalém, se observa toda a Esplanada das Mesquitas, envolta em um céu de porcelana dourada. Na de Tel Aviv, se vê a cidade entremeada de árvores e prédios, exalando com o murmúrio do vento um pouco do mar, da história, dos romanos, dos ingleses e da rotina da cidade moderna em terreno bíblico.

A instituição tem como tema os hábitos e a história dos judeus fora de Israel, desde a queda do Segundo Templo, em 70 d.c.

Réplicas perfeitas de sinagogas do mundo, de diversas épocas, estão expostas ao lado de itens religiosos utilizados em vários destes locais. Havia também uma exposição sobre judeus negros, vindos do Iêmen, e a difícil adaptação deles nas cidades israelenses.

Para completar, tinha um programa interativo para crianças, no fundo do museu. Lá, por meio de ilustrações coloridas e alegres, a vida de vários judeus célebres, em todas as áreas, era mostrada, desde os da antiguidade até nomes como Barbara Streisand e Freud.

E enquanto terminava meu almoço na lanchonete do local, após conhecer a loja em frente à recepção, me perguntava o que era tudo aquilo lá. Um museu que falava tanto do passado, mas de forma tão leve, que forçava a inspiração para o futuro.

Museu fica dentro da Universidade de Tel Aviv
Museu fica dentro da Universidade de Tel Aviv Museu fica dentro da Universidade de Tel Aviv

Então, em meio ao alarido dos alunos e professores sentados em mesas ao lado, ouvi aquele mesmo menino comentar com o pai algo sobre o poeta Leonard Cohen, protagonista de outra exposição, feita de videoclipe com pessoas refletindo os valores da vida, diante da morte, ao som da música Hineni.

Sentado na mesa da frente, o garoto disse ter se assustado com o que viu. O recinto da mostra, realmente, continha uma sobriedade melódica, pulsante e fúnebre.

O pai, mais uma vez, discordou do menino. Falou que se encantou com aquelas cenas. E completou, antes de terminar o sanduíche de atum: "Um dia você não vai sentir esse medo".

Aquele museu, enfim, é uma ponte para o mundo. Mostra dois lados, o sofrimento e a esperança. Expõe a angústia da fama. O humano no religioso. Revela discordâncias profundas, mas complementares. Também entre pai e filho. Sustentadas pelo carinho silencioso. No alto de uma colina.

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