Assim como a Guerra do Líbano (1975-1990), a atual Guerra da Síria demonstra no mais alto grau o quadro de fragmentação do Oriente Médio. Nem a imagem de Israel como um país estruturado tem servido para aglutinar as forças antagônicas que se digladiam na região, mesmo que todas elas vejam no Estado Judaico um inimigo em comum.
Muito mais do que estratégias, são os rompantes que movimentam as guerras na região. No Líbano, quando cristãos maronitas lutavam contra palestinos, drusos, xiitas, a Síria apoiou ora um lado, ora outro. E a virulência entre xiitas e sunitas, que já existia, não prevaleceu.
Organização internacional vai à Síria investigar uso de armas químicas
Grupos sectários se fragmentaram desde o início da guerra na Síria, em 2011, culminando com uma série de novas forças resistindo aos ataques do governo em Ghouta Oriental.
Lá estavam presentes partes do Exército Livre da Síria, representadas pelo grupo Faylaq al-Rahman e também remanescentes da Frente Al-Nusra, agora sob a bandeira do salafista Hay'at Tahrir al-Sham. Sem contar com o Jaish al-Islam, também radical sunita, suspeito de receber dinheiro saudita.
A quantidade intensa de fragmentações marca a principal diferença da Guerra da Síria, em relação à do Líbano. Outra diferença é que o governo libanês já era dividido, sem haver um poder centralizado como na Síria.
Era, inclusive, para, após o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Líbano fazer parte da Síria, algo que não aconteceu também em função de uma Constituição libanesa que, para tentar organizar um país integrado, determinou que o presidente fosse cristão maronita e o vice, sunita.
A França, que tem se mobilizado para dar uma resposta ao último ataque químico, administrava o Líbano como uma parte da Síria.
De qualquer maneira, houve um nítido aumento do número de grupos na guerra síria. E dentro desse emaranhado de adversários, não deixa de ser possível que Bashar al-Assad, em um rompante aniquilador, tenha apoiado o uso de armas químicas no último sábado (8), em Douma, quando pelo menos 60 civis morreram.
A lógica diz que que ele não tem participação nisso. As investigações da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), sediada em Haia, a pedido da Síria, podem ajudar a comprovar isso. Assim como possíveis investigações da ONU (Organização das Nações Unidas) a pedido dos Estados Unidos.
O governo sírio tem o controle da região. Não seria interessante para ele reacender o conflito geopolítico e atrair novamente os Estados Unidos e até aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para o campo de batalha.
Mas, se por algum detalhe, este controle sírio não se configurou como um controle "total", qualquer contrariedade mínima já pode ser motivo para uma rompante de fúria. E, justamente pela ausência da lógica, não será surpresa se as organizações internacionais confirmarem que o governo sírio está por trás deste brutal ataque.
Esse é o funcionamento de Assad, que aparentemente se mostra uma pessoa fria. Calmo por fora, feroz por dentro. Explicações racionais, portanto, não podem ser a única base para análise das ações nesta guerra.
Diante de tantos inimigos, um homem paranoico pode muito bem enlouquecer ao se sentir ameaçado. E quando isso acontece, já não existe mais sensatez. Prevalece apenas a explosão da química na mente de um ditador.