Ao retomar nesta terça-feira (30) o policiamento do Complexo da Maré, na zona norte da cidade, o secretário de estado de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que a nação precisa “alargar os horizontes” e discutir as causas da violência urbana.
— Tenho dito que este problema não é único e exclusivo da polícia. A polícia é ponta do iceberg, a seta da flecha. A nação deve enfrentar a violência urbana como um problema da nação. As causas nunca são discutidas, e a polícia trabalha com a consequência.
O secretário destacou que, no primeiro momento, será feito um cerco à comunidade, com a instalação de 16 bases e operações pontuais, com apoio da inteligência. Ele pretende instalar quatro Unidades de Polícia Pacificadora na área.
— Visamos a maior redução de possível de danos à comunidade e o diálogo constante com os moradores, que cobram políticas públicas.
Cerca de 3 mil militares das Forças Armadas atuaram na Maré, uma comunidade de cerca de 140 mil pessoas a pedido do governo do Rio. Por um ano e três meses, as equipes ficaram instaladas para conter o poder do tráfico de drogas no local. Agora eles serão substituídos por 1,8 mil policiais militares.
— É um plano inicial, se vai aumentar ou diminuir dependerá dos resultados.
Durante a cerimônia, o coronel Carlos Alberto Barcellos, da Força de Pacificação, falou que o sentimento que fica é do dever cumprido, apesar das críticas de moradores e organizações de defesa de direitos humanos à ocupação militar..
— O momento é de refletir e de agradecer a todas instituições que participaram conosco do esforço de trazer um pouco mais de segurança e estabilidade.
Barcellos lembrou que a desarticulação de organizações criminosas – que há anos disputam território e o mercado de compradores de drogas – é complexa.
— Não bastam ações na área de segurança pública. É preciso que outras agências do governo estejam presentes e desenvolvam ação de apoio e de cidadania. Sem dúvida, nesse sentido, demos nossa contribuição.
Beltrame defendeu a atuação em conjunto com governo do Rio e citou que a prefeitura petende instalar 10 escolas de tempo integral na região.
Para os moradores, que em maio tiveram um encontro com o governador do Rio, Fernando Pezão, há tempos a solução militar não era a mais eficiente. Eles denunciaram que uma série de abusos ocorreram durante a ocupação. Na época, o presidente da Associação dos Moradores da Vila do João, Marco Antônio Barcelo Gomes afirmou que armas não são a solução.
— Não queremos UPPs só com armamento, pois estamos vendo que isso não está dando certo. Queremos educação, saneamento, atividades esportivas, cultura.
A presidenta da Associação Conjunto Bento Ribeiro Dantas, na Maré, Cremilda Carvalho, disse, também em maio deste ano, que faltou respeito do Exército com moradores.
— Os tanques estão quebrando nossas calçadas, inocentes estão levando tiros. Agora está pior do que antes. Queremos projetos sociais para os adolescentes e jovens, que estamos perdendo para o crime, afirmou.
O complexo de favelas da Maré é considerado estratégico pela proximidade com as principais vias expressas da capital: a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, que dão acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim e à Baía de Guanabara. A polícia registra conflitos entre três das maiores facções criminosas do tráfico e de milícias, todos armados.