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Desabamento de prédios que matou 22 pessoas completa 2 anos sem condenações e indenizações 

Famílias tentam superar a dor e querem que Justiça aponte responsáveis por tragédia

Rio de Janeiro|Do R7

Documentos, dinheiro, equipamentos e até corpos se perderam em meio às toneladas de escombros
Documentos, dinheiro, equipamentos e até corpos se perderam em meio às toneladas de escombros Documentos, dinheiro, equipamentos e até corpos se perderam em meio às toneladas de escombros

A dor de quem perdeu amigos e parentes ou viu o investimento de uma vida inteira desaparecer sob toneladas de escombros ainda é bem forte. Incomoda tanto que, para quem foi afetado diretamente, é difícil acreditar, mas dois anos já passaram. Em 25 de janeiro de 2012, o edifício Liberdade e dois prédios menores desabavam e deixavam um grande vazio na rua Treze de Maio, região nobre do centro do Rio de Janeiro. O tempo corre depressa. As soluções não. Até hoje, nenhuma das vítimas ou familiares dos 22 mortos recebeu qualquer indício de indenização. Ninguém foi responsabilizado.

Luiz Carlos Caruso é uma das centenas de pessoas que ficaram marcadas pela tragédia. A filha Priscila Montezano morreu no desabamento. O corpo dela, assim como de mais quatro pessoas, nunca foi encontrado. A única expectativa de Caruso é ver a Justiça determinar as indenizações e punir os culpados.

— É inacreditável, já passou muito tempo. Não recebemos nada, nem uma ligação da empresa, prefeitura, governo. Só quem nos liga é a Defensoria Pública, pois entramos com ação por lá. Queremos uma resposta. Nada mais pode ser feito, só lutar para que alguém seja responsabilizado por essa tragédia.

Além das vidas perdidas, o desastre rasgou os planos de muita gente, como Renan Magalhães Pimentel. A livraria dele foi destruída. O prejuízo foi de R$ 900 mil, entre equipamentos e estoque. A seguradora saiu pela tangente, alegando não prever desabamento. Apesar de lembrar cada detalhe, Renan prefere não se estender no assunto.

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— O fato é que fiquei sem rumo, não abri em nenhum outro lugar. E nem vou abrir. Raspei minha poupança para indenizar funcionários e procurei outras coisas. Isso atrapalhou tudo que tinha planejado. A seguradora pulou fora. Agora, dependo de uma posição da Justiça. Tenho que receber algo, pois o prejuízo foi muito grande. É ruim demais falar sobre isso.

Os três edifícios concentravam 59 empresas, entre consultórios, cursos, escritórios e empresas de tecnologia. Segundo levantamento da Associação de Vítimas da Treze de Maio, somente 25% conseguiu se reerguer. O Estado chegou a anunciar um fundo de empréstimo em torno de R$ 10 milhões, mas as condições impostas foram muito rigorosas. Somente dois estabelecimentos conseguiram um aporte de R$ 100 mil para tocar em frente.

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Na Justiça, tudo segue lentamente. Em 23 de outubro do ano passado, a 31ª Vara Criminal começou a ouvir as testemunhas de acusação e de defesa sobre as causas do desabamento. No início de janeiro de 2013, foi aberto processo contra o dono da empresa T.O (Tecnologia Organizacional), Sérgio Alves, e sua funcionária Cristiane do Carmo Azevedo. Uma obra de reforma feita pela empresa - que ficava no edifício Liberdade, com participação direta dos dois réus, é considerada a principal causa do desabamento.

A denúncia inicialmente feita pelo Ministério Público englobava ainda quatro operários da obra. A juíza Simone de Faria Ferraz, porém, rejeitou. Segundo ela, incluir como acusados os pedreiros Gilberto Figueiredo de Castilho Neto, André Moraes da Silva, Alexandro da Silva Fonseca Santos e Wanderley Muniz da Silva era uma ação "exagerada, não razoável mesmo", pois "receberam ordens e croquis de plano a ser executado e são, ao que se constata, homens de pouca formação, homens comuns do povo que constroem este País”.

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A segunda audiência sobre a tragédia da Treze de Maio está marcada para o próximo dia 30. Mais testemunhas de acusação serão ouvidas e as de defesa devem começar a depor. Luiz Carlos Caruso, o pai de Priscila, já marcou a data na agenda.

— É o que temos de fazer. Acompanhar as audiências, saber como as coisas estão e torcer para algo se resolver, finalmente.

A Defensoria Pública, por meio do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh), informou que “vem prestando assistência jurídica integral e gratuita aos familiares das vítimas e que foi ajuizada uma ação civil pública, entretanto, a decisão de primeira instância não foi favorável aos familiares das vítimas”.

Na mesma nota, a Defensoria afirmou que “convicta de que a ação civil pública é o melhor instrumento jurídico para a defesa dos seus assistidos, a Defensoria Pública entrou com recurso e aguarda a decisão do Tribunal de Justiça. A expectativa, segundo o coordenador do Nudedh, Francisco Horta Filho, é de que a decisão seja revertida o mais rápido possível, para que as famílias recebam a indenização”.

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