Famílias que participaram do documentário Jambalaia assistiram ao lançamento do longa-metragem no espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, na zona sul do Rio, nesta quinta-feira (2), ao lado do diretor Breno Moreira.
O documentário mostra a vida dos moradores antes e depois da demolição do Jambalaia — complexo de prédios que eles ocupavam em Campo Grande, na zona oeste. A construção inacabada foi implodida, em 2018, sob a alegação de risco de desabamento, por parte das autoridades.
O filme dá voz às pessoas que construíram, em meio a dificuldades, alegrias, sonhos e esperança, suas histórias naquele lugar durante anos. Entre elas está Delane Maris, de 44 anos, que voltou a uma sala de cinema depois de muito tempo e se emocionou ao ver a própria história.
" A lembrança que temos ainda está muito forte. Foi um filme que vimos, mas foi a história que vivemos. Sofremos, convivemos ali. E rever aquilo tudo, depois de quatro anos, é difícil de explicar. O trabalho que o Breno fez foi mais para mostrar para a sociedade que o que passamos lá não era mentira. Passamos por muitas dificuldades. Tivemos bons momentos e, ao mesmo tempo, muita tristeza", disse, sem conseguir segurar as lágrimas.
A história das famílias chegou até o diretor Breno Moreira por meio de um pedido de ajuda do amigo Paulinho Soró, que viveu no edifício por sete anos e sempre buscou melhorias para todos.
Ele contou que a luta por moradia digna para as famílias ainda segue:
"Nós temos um grupo com mais de 200 famílias. O total vai de 300 a 310 inscritos que recebem um aluguel social pelo município do Rio. A gente está nessa luta para que agora venham a ser construídas unidades habitacionais. A gente pede que esse projeto saia da gaveta e venha atender a nossa população carente".
Com uma captação que utiliza a câmera parada e poucas interferências durante as entrevistas, o documentário Jambalaia, vencedor do prêmio de melhor filme no Festival Visões Periféricas, é o primeiro longa-metragem da carreira do diretor Breno Moreira, que citou como inspiração o cineasta Eduardo Coutinho.
"[O documentário] marca meu trabalho da forma mais genuína possível. Foi um filme feito entre amigos, com muita raça e muito amor. Como o próprio Paulinho falou, a gente não só levou, mas a gente recebeu muitos sorrisos também. Num lugar com muita dificuldade de se viver, a gente pôde capturar vidas muito felizes. Eu, que faço publicidade além do cinema, poder fazer um documentário e estrear de forma tão bela, com essas pessoas, é um presente que o cinema está me dando", disse.
O filme fica em cartaz até o dia 8 no espaço Itaú de Cinema, sempre na sessão das 13h30.