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Realengo: vítima que perdeu movimento das pernas já fica em pé e sonha em ser delegada

Após quatro anos do massacre, Thayane Tavares persegue sonho de voltar a andar 

Rio de Janeiro|Bruna Oliveira, do R7

Thayane consegue ficar em pé com a ajuda de novo equipamento
Thayane consegue ficar em pé com a ajuda de novo equipamento Thayane consegue ficar em pé com a ajuda de novo equipamento

O dia 7 de abril de 2011 tinha tudo para ser mais um dia de aula normal na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio. Mas um ex-aluno do colégio Wellington Menezes de Oliveira invadiu o local e disparou contra estudantes. O Massacre de Realengo, como o caso ficou conhecido, deixou 12 mortos e 12 feridos. Quatro anos após a tragédia, uma das sobreviventes, Thayane Tavares, de 17 anos, ainda não retomou a vida normal. A estudante, que foi atingida por quatro tiros — dois na barriga, um no braço e outro na cintura —, perdeu o movimento das pernas. Desde então, ela luta para voltar a andar.

Na época do massacre, Thayane tinha apenas 13 anos. Ela viu a vida mudar completamente quando os médicos constataram que os disparos provocaram uma lesão incompleta na medula. O diagnóstico causou um baque, mas a jovem jamais se entregou e virou exemplo de superação. Além da fisioterapia, Thayane também apostou no esporte para acelerar a sua recuperação. Desde 2012, ela pratica paracanoagem em clube na Urca, zona sul do Rio.

— O esporte é a minha vida. A paracanoagem é uma terapia para o corpo e para a mente. A atividade me dá uma sensação de liberdade. Além disso, ela me ajuda a ter controle do tronco e a ganhar força nos braços.

Thayane vê um grande progresso no seu quadro nos últimos quatro anos. A jovem já recuperou a sensibilidade nas coxas. Ela também consegue movimentar a perna esquerda e cruzar uma sobre a outra. A estudante conta que até fica em pé, com a ajuda de um novo equipamento.

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— Há duas semanas, experimentei a órtese, uma espécie de trava que segura o joelho. Gostei muito, mas senti muita dor. Consegui ficar em pé por alguns minutos. Ainda não me adaptei ao equipamento. Vou precisar ter paciência para conseguir usá-lo.

O maior sonho de Thayane é voltar a andar.

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— Os médicos não falam sobre as minhas chances, mas já me mexo sozinha. Antes, não conseguia nem ficar sentada. Não tenho dúvidas de que vou conseguir voltar a andar. Me sinto uma vitoriosa.

Lembranças do massacre

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Atirador matou 12 estudantes e feriu outros 12
Atirador matou 12 estudantes e feriu outros 12 Atirador matou 12 estudantes e feriu outros 12

Thayane lembra de tudo daquela manhã de horror na escola Tasso da Silveira. Após ser ferida, a jovem caiu no chão da sala de aula, mas se manteve lúcida durante o tempo em que o atirador descarregou duas armas nos alunos. A jovem acredita que só escapou porque fingiu que estava morta.

— Vi ele atirar contra meus colegas e recarregar as armas. Só fechei o olho quando ele chegou perto de mim. Ele mexeu no meu pé e disse “você vai morrer porque é muito bonitinha”.

A jovem ficou três meses internada no Hospital Adão Pereira Nunes. Thayane passou por seis cirurgias, ficou quatro dias em coma e quase morreu devido a uma infecção. A estudante também perdeu duas grandes amigas no Massacre de Realengo. Mesmo assim, decidiu concluir o ensino fundamental no colégio em que viveu os piores dias de sua vida.

— Minha mãe não gostou da ideia, mas eu queria mostrar que era forte. Foi muito estranho. A sensação era que eu poderia ver meus amigos mortos entrarem a qualquer momento pela porta.

Com 17 anos, Thayane está perto de se formar no colégio. Ela se prepara para o vestibular e quer cursar Direito.

— Meu desejo é ser delegada. Quero fazer justiça, não no meu caso. Mas quero ajudar as pessoas. Eu já tinha essa vontade antes, e a tragédia só me deu mais força para buscar o meu sonho.

Apesar do trauma, Thayane revela que perdoa o atirador que a deixou na cadeira de rodas.

— Minha vida nunca mais foi a mesma. Não tive festa de 15 anos porque se não podia dançar a valsa, não fazia sentido para mim. Estou numa cadeira de rodas. Mas não sinto nada por ele. Aliás, sinto pena porque faltava Deus e amor no coração dele.

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