A vida de Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, marcada por abandonos e pela adoção, teve um fim trágico. O adolescente morreu após ser agredido na escola em que estudava, em Ferraz de Vasconcelos, por um único motivo: ter sido acolhido por um casal gay.
O R7 esteve na casa da família, nesta quarta-feira (11), e conversou com um dos pais do garoto, Márcio Nogueira. Ele contou que adotou Peterson duas vezes. Na primeira, o garoto tinha apenas dois anos. Uma conhecida ofereceu a criança porque não tinha condições de cuidar dos filhos.
— Ela perguntou se eu queria o menino, eu não pensei duas vezes. Claro que aceitei.
Seis anos depois, o pai biológico pediu Peterson de volta e Márcio não conseguiu reverter o pedido de guarda. Quando o adolescente estava com 12 anos, ele conseguiu achar o menino em um abrigo público. A criança havia sido tirada dos pais biológicos por maus-tratos. Foi preciso pedir a guarda e lutar para tirar o garoto de lá.
— Foi aí que eu trouxe o Peterson e o irmão dele para casa. Nunca mais nos separamos.
No dia 5 de março, dia da briga na escola José Eduardo V Raduan, Peterson foi feliz para o colégio porque seu time, o Corinthians, tinha ganhado uma partida na Libertadores. Apesar de ter 14 anos e estar no ensino fundamental, ele ainda não sabia ler nem escrever. Só sabia cantar, como conta o pai.
— Ele saiu daqui cantando. Foi para a escola feliz porque o Corinthians tinha ganhado.
Morre filho de casal gay agredido em porta de escola
Márcio está há décadas com o companheiro Carlos, que não estava em casa no dia da visita da reportagem. "Estava resolvendo ‘as coisas do Peterson’", como disse o marido. O outro filho do casal, de 15 anos, está calado desde que tudo aconteceu. Segundo Márcio, ele viu a briga.
O avô de Peterson, Norberto Nogueira, desabafa sobre a dor da família.
— Como o menino sai de casa cantando e volta em um caixão? Como pode ser tudo tão triste assim? Meu coração está cortado.
A direção da escola nega que a agressão tenha ocorrido dentro do local. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que não há nenhum registro de agressão no interior da unidade onde o adolescente estudava e que as imagens das câmeras de segurança estão à disposição das autoridades policiais.
A família questiona as imagens mostradas à polícia com base em declarações de diversas testemunhas que garantem que a agressão ocorreu dentro da escola. Nogueira diz, ainda, não ter dúvidas de que o filho foi vítima de homofobia.
Agora, ele aguarda o laudo final sobre a morte.
— Primeiro de tudo eu vou esperar o laudo da morte. Saber de tudo. Depois vamos decidir o que fazer. Só sei que uma coisa não faltou ao Peterson: amor.