Parentes e amigos das oito vítimas da chacina ocorrida na sede da Pavilhão 9, torcida organizada do Corinthians, estão se reunindo em uma grande corrente para que o caso não caia no esquecimento da sociedade e que todos os envolvidos no crime sejam punidos. O crime aconteceu em abril deste ano.
Para isso, foi marcada uma manifestação nesta segunda-feira (6), às 17h, na Ponte dos Remédios. Até às 11h30, mais de 400 pessoas já tinham confirmado presença no evento do Facebook.
Fernando* é pai de uma das vítimas e diz que a manifestação serve para mostrar para as pessoas que “nem todo mundo era bandido” dentro da quadra.
— Queria mudar essa imagem que ficou. Nem todo mundo da torcida é bandido. Aquelas pessoas eram trabalhadoras.
Ele também afirma que, mesmo em casos de supostos criminosos no local, eles deveriam ser presos e julgados da maneira como a lei prevê.
— É para a justiça que ele tem que pagar, não com a vida.
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Muito emocionado, o pai relembra das atividades do filho que “estudava, trabalhava e era um atleta”. Ele afirma que, só quando algo assim acontece com alguém da família que “a gente consegue enxergar com outros olhos”.
— Eu perdi um filho de 19 anos. Mas, do jeito que vai, muitas outras crianças vão morrer. Eu, como pai, sinto pelas mães [das vítimas].
Fernando diz que, chamando a atenção para o caso mais uma vez, pode ser possível encontrar o terceiro envolvido no crime. Assim como os outros dois que já foram presos, o terceiro suspeito também seria um policial militar. O pai da vítima tem medo, inclusive, de ser a próxima vítima.
— Quem é essa pessoa? Por que [fez isso]? Onde está? Quem garante que não possa cometer outros crimes?
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Ele conta que as pessoas estavam “se divertindo” no local, mas que a torcida organizada é sempre muito marginalizada e que isso traz também preconceitos raciais.
— Nesse momento, a gente quer que a sociedade fique a nosso favor. Dá a impressão que os bandidos eram eles. E eles não eram isso. Foi pai, foi filho, foram jovens trabalhadores, meu filho era estudante.
Policiais
Um policial militar e um ex-PM suspeitos de participação na chacina foram detidos em maio, em São Paulo. O pai do jovem morto diz que os envolvidos no crime eram pessoas que “deveriam estar nos protegendo”.
— Ninguém entra em um lugar, mata oito pessoas e sai assim. Isso vai ser normal? Está clara de como foi feita a coisa.
Fernando diz, ainda, que muitas vezes fica “revoltado” pensando em tudo o que pode ter acontecido, mas que são sensações que “vão se misturando”.
— Nós não estamos no Estado Islâmico. Eles [policiais suspeitos] acham que eles são a lei.
* O nome é fictício para proteger a identidade do entrevistado.