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Caso Ferrugem: 'Não sabem viver em sociedade', diz viúva após indiciamento de suspeitos

Investigação aponta que os quatro jovens que estavam em embarcação vão responder por homicídio triplamente qualificado

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

Polícia concluiu que Adolfo Duarte, conhecido como Ferrugem, foi morto por ciúme
Polícia concluiu que Adolfo Duarte, conhecido como Ferrugem, foi morto por ciúme Polícia concluiu que Adolfo Duarte, conhecido como Ferrugem, foi morto por ciúme

A empresária Uiara Sousa Duarte, mulher de Adolfo Duarte, ambientalista encontrado sem vida na represa Billings, na zona sul de São Paulo, viveu uma angústia de quase três meses até a polícia finalizar a investigação sobre a morte do companheiro, conhecido como Ferrugem. Após o indiciamento dos quatro jovens que estavam com o barqueiro no dia em que desapareceu, Uiara diz que ainda sente indignação ao pensar sobre as causas do assassinato. "Essas pessoas não sabiam conviver em sociedade", disse ao R7.

O motivo do assassinato, segundo a polícia, foi ciúme por parte de um dos jovens. Um dos investigados, Mauricius da Silva, pediu para ser ouvido pela polícia outra vez e mudou a versão que havia dado sobre os fatos. Ele afirmou que Vithorio Alax Silva Santos, também presente no barco, matou Adolfo Duarte depois que o ambientalista aceitou dançar com uma das mulheres na embarcação.

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Uiara lembra que o marido era extrovertido e comunicativo. "Ele sempre foi muito solícito, dessas pessoas que interagem, isso era uma qualidade e um defeito", diz. "Falava para ele: 'cuidado, nem todo mundo vai te entender'. Acredito que tenha faltado um pouco de prudência por ele ter dançado com essas meninas", afirmou. Para ela, os jovens podem ter interpretado o comportamento do ambientalista de maneira negativa: "Ele era uma pessoa muito aberta para conversas."

Desde o desaparecimento de Adolfo Duarte, Uiara afirma que o caso não se tratava de um acidente. Após ler o inquérito policial, ela ressaltou a impressão inicial de que algum desentendimento havia enquanto o marido guiava o barco. Nesta quarta-feira (19), a Polícia Civil indiciou os quatro jovens que participavam do passeio e pediu a prisão preventiva deles.

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Saindo da esfera policial, o caso irá para o Ministério Público de São Paulo. Os jovens responderão por homicídio triplamente qualificado. "Ainda tem o julgamento e mais alguns passos pela frente. Mas só o fato de eles estarem presos e, não na sociedade, me deixa mais tranquila".

Apesar do desfecho da investigação, Uiara afirma que desde que Ferrugem desapareceu, em 1º de agosto, a família sente a ausência de Adolfo. "O peso emocional está vindo agora, principalmente para a Helena (filha do casal, de 15 anos)", relata. "É um processo de adaptação todos os dias, perdemos a base e a segurança. Tenho vivido um dia de cada vez". 

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Convívio com o luto

Após a confirmação da morte de Ferrugem, Uiara Duarte e Helena enfrentam a rotina sem o marido e o pai. "Não vamos trazer a naturalidade da vida como ela era. Vou ter que refazer essa adaptação", lamenta a mulher que perdeu um filho pequeno, vítima de câncer.

Ela conta que vive momentos de solidão desde a perda de Adolfo, e até hoje se pergunta sobre o porquê de ter de passar pela tragédia. "Sinto um pouco de raiva, os outros três poderiam ter ajudado. o Adolfo não está mais aqui para responder por isso", diz.

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Em convívio com o luto, Uiara tem tentado levar adiante projetos relacionados à ONG Meninos da Billings, projeto idealizado pelo marido. O trauma em razão da perda, porém, impõe dificuldades para a continuidade do trabalho à frente da organização.

"Hoje, ainda conversando com as pessoas, elas não acreditam. O legado dele é trabalhar para a melhoria da população, da conscientização. Ele deixa um pedaço dele para cada pessoa com quem ele trabalhava. Vamos tentar tocar esse legado', afirma. O projeto ainda busca parcerias. 

Polícia indicia jovens na embarcação

A polícia concluiu que a morte de Adolfo Duarte foi causada por ciúme. Após a investigação, a polícia indiciou os jovens que estavam na embarcação após o desaparecimento do barqueiro e pediu a prisão preventiva dos quatro suspeitos.

Segundo a polícia, no momento em que não estava na presença de Vithorio Alax Silva, um dos jovens, o investigado Mauricius da Silva decidiu mudar sua versão e pediu para ser ouvido mais uma vez. No novo depoimento, disse que Vithorio matou Adolfo, conhecido como Ferrugem.

Mauricius e Vithorio, de acordo com o depoimento, tinham a intenção de ficar com as jovens quando começaram o passeio. Na noite da diversão, Vithorio teria se sentido enciumado quando Ferrugem dançou com Mikaely. Nesse momento, ele teria, segundo a polícia, acionado intencionalmente um dispositivo do barco para ocasionar o solavanco e a queda da vítima, juntamente com Mikaely.

Os laudos do IML (Instituto Médico Legal) revelaram que não houve afogamento. Segundo os resultados, o ambientalista morreu por asfixia mecânica. De acordo com o depoimento de Mauricius, Adolfo teria tentado retornar ao barco pela escada dos fundos, mas Vithorio não teria permitido. No depoimento, Mauricius não soube informar "qual o instrumento usado por ele [Vithorio] para asfixiar a vítima".

Agora, segundo a polícia, é possível dizer que o executor da asfixia mecânica foi Vithorio e que os demais participaram do embate corporal e colaboraram para que o crime fosse praticado.

Os quatro jovens vão responder por homicídio triplamente qualificado. A perícia realizada nos celulares dos envolvidos mostrou diálogos em que os jovens combinaram versões e planejaram uma fuga. Eles estavam presos temporariamente desde o dia 4 de agosto. A polícia indiciou os quatro jovens por homicidio triplamente qualificado e representou pela prisão preventiva.

Desaparecimento e morte de Ferrugem

O ambientalista Adolfo Souza Duarte desapareceu após cair de uma embarcação na represa Billings, no Grajaú, zona sul de São Paulo, no dia 1º de agosto. Segundo informações do boletim de ocorrência, ele trabalhava com viagens de barco para visitantes que quisessem conhecer a represa.

Após buscas, corpo de ambientalista foi encontrado na represa Billings, em SP
Após buscas, corpo de ambientalista foi encontrado na represa Billings, em SP Após buscas, corpo de ambientalista foi encontrado na represa Billings, em SP

Nessa noite, os amigos Kathielle Souza Santos, Mikaely da Silva Moreno, Vithorio Alax Silva Santos e Mauricius da Silva estavam em um bar próximo à represa quando decidiram fazer um passeio de barco, oferecido por Ferrugem.

O grupo teria pago cerca de R$ 55 para começar o passeio, às 19h16. Segundo depoimento, Ferrugem teria posto colete salva-vidas apenas nas mulheres e dito que elas poderiam ficar sem a proteção após alguns minutos de viagem.

Em determinado momento, o barco sofreu um solavanco, o que fez com que Mikaely e Ferrugem caíssem na água. Os amigos conseguiram fazer um retorno com o volante do veículo e jogar uma boia para resgatá-los. Apenas Mikaely teria se segurado na boia, e Ferrugem não foi mais visto.

O barco, então, atracou na margem da represa. O quarteto desceu e pediu ajuda a frequentadores do bar, porém alguns deles teriam começado a agredir três dos amigos com socos e chutes, alegando que eles teriam matado Ferrugem.

Antes das buscas oficiais, alguns colegas de Ferrugem o procuraram, sem sucesso. De acordo com a polícia, os quatro jovens não conheciam o ambientalista. Mauricius, Kathielle e Vithorio, que sofreram ferimentos com as agressões, foram encaminhados ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de corpo de delito.

O sócio de Ferrugem, Adrian, confirmou que a vítima era responsável por conduzir as embarcações. Ele informou que o barco estava com a popa danificada. O rastreador mostra que ele foi ligado às 19h16 e desligado às 20h12, o que acabou causando estranhamento.

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