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Desembargador do Carandiru insinua que imprensa e ONGs são financiadas por crime organizado

Filha de vítima do Carandiru vai à Justiça por respeito à memória do pai

São Paulo|

Uma semana após votar pela absolvição dos 74 PMs acusados pelo massacre de 111 presos no Carandiru, em 1992, o desembargador Ivan Sartori, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), criticou a cobertura dos jornais sobre o caso em seu perfil no Facebook e insinuou que parte da imprensa e das organizações de direitos humanos é financiada pelo crime organizado. O julgamento que condenou os policiais foi anulado pelo TJ-SP no dia 27 de setembro.

"Diante da cobertura tendenciosa da imprensa sobre o caso Carandirú [sic], fico me perguntando se não há dinheiro do crime organizado financiando parte dela, assim como boa parte das autodenominadas organizações de direitos humanos. Note-se que o voto (decisão) foi mandado para os órgãos de imprensa e ninguém se dignou a comentá-lo em sua inteireza. Estão lá todas as explicações da anulação e tese da absolvição", afirma Sartori.

O post foi publicado pelo desembargador na tarde de terça-feira (4) com o título "Quando a Imprensa é Suspeita". No texto, Sartori defende sua decisão e critica também o trabalho de acusação do Ministério Público.

"A Justiça não pode fazer milagre quando lhe é apresentado um trabalho acusatório absolutamente falho. Que pode algum assassino ter agido ali no meio dos policiais, não se nega. Eu sempre ressalvei isso. Mas, qual é ou são eles? Esse o problema. O Ministério Público não individualizou. Preferiu denunciar de 'baciada', como disse um dos julgadores", escreve o desembargador.

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Em post anterior, publicado no domingo (2), o desembargador dirige suas críticas diretamente ao jornal O Estado de S. Paulo, que publicou reportagem no dia 29 de setembro mostrando que ele decidiu mandar para a cadeia um réu que havia furtado cinco salames. O homem alegava estar com fome, mas o magistrado rechaçou o argumento e afirmou que deixar o acusado solto era um risco para a sociedade.

"Vejam até que ponto chega a irresponsabilidade desse jornal. Uma manchete tendenciosa, em matéria totalmente irrelevante. Mas, lá no meio de toda barafunda, acaba-se vislumbrando a razão da condenação. Absolutamente correta. Finalidade da reportagem: tentar destruir a biografia deste desembargador. Esse periódico é especialista nisso, por sinal. Não é sério. Pena que não há o que breque essa senda criminosa. A Justiça tem tolerado isso. Eu mesmo já perdi uma ação contra esse jornal", escreve Sartori.

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Discussão

Na semana passada, o desembargador já havia discutido com usuários do Facebook que criticaram sua decisão. O magistrado votou pela absolvição dos policiais, no dia 27, mas seus colegas optaram por anular os cinco júris que condenaram os policiais militares.

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A decisão foi duramente criticada por organizações nacionais e internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo a entidade, a anulação "manda uma mensagem preocupante de impunidade".

Filha de vítima do Carandiru vai à Justiça

A filha de um detento morto em 1992 na Casa de Detenção Carandiru, a auxiliar de limpeza Fernanda Vicentina da Silva, de 33 anos, decidiu processar o Estado após as declarações do desembargador Ivan Sartori, que disse ter havido legítima defesa no caso. Ela entendeu que houve desrespeito à memória do pai, Antônio Quirino da Silva, cuja morte foi causada por cinco tiros, um deles na nuca. Na ação, pede indenização de R$ 176,8 mil e ainda a veiculação de propaganda pelo governo reconhecendo a responsabilidade pelo massacre. "Esperava que a justiça fosse feita e os policiais fossem punidos dentro do que determina a lei", disse.

O advogado Carlos Alexandre Klomfahs classificou de absurda a declaração do magistrado. "Foram mortes cruéis em série." O pedido ainda não foi analisado. O Tribunal de Justiça disse que, "como instituição, não possui entendimento sobre questões jurisdicionais". O governo disse não ter sido notificado sobre a ação.

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