Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Gestão Doria propõe que moradores de rua cuidem de limpeza e alimentação em albergues

Secretário de Assistência Social diz que mau serviço gera resistência da população de rua

São Paulo|Gustavo Basso, do R7

Segundo Filipe Sabará, crise econômica aumentou numero de moradores de rua em mais de 5.000 pessoas
Segundo Filipe Sabará, crise econômica aumentou numero de moradores de rua em mais de 5.000 pessoas Segundo Filipe Sabará, crise econômica aumentou numero de moradores de rua em mais de 5.000 pessoas

O secretário municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, Filipe Sabará, afirma em entrevista exclusiva ao R7 (leia aqui a primeira parte da conversa) que um dos fatores que levam moradores de rua a evitar albergues municipais é a qualidade da limpeza e da alimentação. Uma solução para o problema, segundo ele, é que ambos cuidados passem a ser feitos pelos prórios moradores de rua acolhidos nos centros da prefeitura.

— Uma proposta que a gente vem trazendo é dos próprios usuários participarem da limpeza e da alimentação dos serviços, como todos nós nas nossas casas. O ideal seria que a pessoa que recebe o acolhimento também essa responsabilidade de fiscalizar e manter o serviço em ordem.

O secretário também comentou sobre problemas enfrentados pelo serviço 156 da Prefeitura de São Paulo, que segundo ele, passou a ser divulgado à população a partir da gestão Doria.

— O que a gente está fazendo cada vez mais é apresentar cada serviço, correndo o risco de termos de correr atrás e melhorar o serviço. Mas é melhor isso que simplesmente esconder o serviço que a gente já tem aqui.

Publicidade

Leia abaixo a segunda parte da entrevista com Filipe Sabará:

R7: Incomoda ser chamado de mini Doria?

Publicidade

Filipe Sabará: Não, nunca me incomodou. Também venho de uma família empresária e acho que nós temos muitas qualidades parecidas: também durmo pouco, gosto de trabalhar muito, sou um workaholic. Gosto muito também de cobrar resultado das equipes que trabalham comigo. Mas acho que sou um mini Doria mais social.

Como foi sua trajetória política?

Publicidade

Sabará — Minha trajetória na política é inexistente, ela tem três meses. Sou um empresário, venho de uma família de empresários, e sempre tive incômodo com a desigualdade social. Comecei dando aula de inglês, aos 13 anos, para atletas profissionais do atletismo, que dependem muito de patrocínio internacional. Na época, fiquei muito comovido com as histórias, porque a maioria deles do atletismo vem de uma situação de renda muito baixa, muitos vindo do Nordeste, do Norte. E aquelas histórias que escutamos da África, do sujeito que corria longas distâncias para conseguir estudar, e por causa disso se tornou atleta, aqui também tem.

Sempre me incomodei muito com o sofrimento da população de rua. Todas as noites, e isso ocorre ainda hoje, quando me deito eu me lembro que tenho um travesseiro, um chão, um teto e muitas pessoas não. Eu não me conformava com essa história, e a resposta que era me dada não era muito convincente: ‘é assim mesmo, eles querem estar aí’. Um dia resolvi ir para a rua e perguntar para eles mesmos porque estavam na rua, e aí descobri muitas histórias. Fui cofundador do Instituto Brasis e, depois, da [Fundação] Arcah, que trabalha muito em centros de acolhida. Talvez aí entre minha parte política, que não é política, é pública. Comecei a visitar os serviços que eram oferecidos tanto pelo governo do estado como pelo município, e percebi que existia uma precariedade nesse serviço, muitas demandas, reclamações.

O prefeito reconhecendo esse meu trabalho, me convidou para ser secretário-adjunto. A Soninha [Francine (PPS)] era a titular, e passou o tempo ele achou melhor que eu assumisse. Desde então tenho feito esse trabalho muito focado em melhorar a condição dos centros de acolhida, porque como eu já estive do outro lado eu sei a dificuldade que é. Acho que minha carreira não é polítca, é de atuação na prática, mesmo.

O que significa a filiação ao Partido Novo?

Sabará — A filiação ao Partido Novo é por uma questão de identificação com os princípios do partido, de eficiência e liberdade com resposabilidade. A ambição é a de ser um excelente secretário e um exemplo de gestor público eficiente, deixar um legado na área social.

Você não pretende concorrer a nenhum cargo eletivo em um futuro próximo?

Sabará — Não pensei em nenhuma possibilidade, a não ser a de ser o melhor secretário da área social que São Paulo já teve.

Qual é o número e perfil da população de rua atualmente?

Sabará — O último censo oficial foi feito pela Fipe, em 2015, contando 15.905 pessoas. A gente entende que por causa da crise financeira e política do país, o desemprego aumentou, e aí temos um número bem maior que esses 15 mil. A gente estima em mais de 20 mil.

A que se deve a resistência dos moradores de rua aos albergues municipais?

Sabará — Essa resistência tem alguns motivos: o primeiro é que eles questionam a qualidade dos serviços. Ele é terceirizado, feito por OS (Organização Social) conveniadas com a prefeitura. A gente repassa a verba, e até nossa gestão, a fiscalização desse serviço não era feito, na minha opinião, da maneira mais assertiva.

Há também a questão dos horário. Ele reclamam que tem horário para dormir, para acordar, para comer, etc. Mas a gente sabe que toda convivência em sociedade demanda horários. É uma questão educacional, mesmo. A pessoa quando vai morar na rua acaba perdendo noção de agenda, de compromisso.

Outra reclamação é sobre a limpeza, a qualidade dos alimentos. Uma proposta que a gente vem trazendo é dos próprios usuários participarem da limpeza e da alimentação dos serviços, como todos nós nas nossas casas. O ideal seria que a pessoa que recebe o acolhimento também essa responsabilidade de fiscalizar e manter o serviço em ordem.

Além da qualidade do serviço em si, a gente vê que havia a falta de oportunidade que estes centros de acolhida realmente davam para a população de rua. Por isso que a gente lançou o programa Trabalho Novo, que acontece justamente nos centros de acolhida da prefeitura. Já são 944 pessoas contratadas, com índice de retenção de 95% em empresas com McDonald's, Riachuelo, Vivenda do Camarão, Droga Raia. É uma maneira do centro de acolhida ter algum sentido, porque as regras e horários passam a ter algum propósito. A ideia é que as 10.000 pessoas que estão em centros de acolhida sejam empregadas, e liberem vagas para esse restante de população que está nas ruas.

Quais as políticas da secretaria para esta época de frio? [algumas regiões de São Paulo tiveram mínima de 8ºC no começo de julho]

Sabará — Todos os anos entre maio e setembro é iniciada a operação baixas temperaturas. Para esse ano a gente abriu 1.673 novas vagas de acolhimento para baixas temperaturas, e desde 16 de maio estamos com essa operação funcionando. Desde então foram 40.358 abordagens à população de rua, e 472.711 acolhimentos para pernoite.

O serviço 156 também atende solicitações devido as baixas temperaturas. [O serviço foi criticado em uma reportagem do Agora São Paulo de 16/07]. Hoje estamos com uma média de atendimento de 75%; cresceu 119% nesse último ano, principalmente por causa da divulgação do 156 que nós temos feito, o prefeito, eu, a secretaria. Hoje temos uma equipe emergencial chamada de CAP. Ela tem 11 peruas à disposição, que vão até onde foi dito que a pessoa está, faz a abordagem e a tentativa de acolhimento.

O balcão do migrante [O programa paga a passagem para moradores de rua que desejam voltar às cidades natais, e funciona com um balcão no terminal Tietê] é um exemplo de serviço que passou a ser mais divulgado?

Sabará — Sim, é um programa que já existia desde 2003, mas muita gente não conhecia. Não existia uma divulgação, como o prefeito tem feito. Há uma abertura para a população participar da gestão pública. O que a gente quer é dar oportunidades para todos, como por exemplo o programa para gerar renda. Agora, para aqueles que querem voltar, a gente tem que dar oportunidade também, mas isso deve partir da própria pessoa, e não da secretaria. Não se trata de 'exportar' o problema da população de rua. O que a gente está fazendo cada vez mais é apresentar cada serviço, correndo o risco de termos de correr atrás e melhorar o serviço. Mas é melhor isso que simplesmente esconder o serviço que a gente já tem aqui.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.