O Brasil passa por um inverno rigoroso, com frentes frias constantes que, de um dia para o outro, provocam variações de até 10º na temperatura em cidades como São Paulo. Estas mudanças repentinas, alavancadas pelo aquecimento global, impactam diretamente na saúde e podem levar à morte em alguns casos, segundo o neurologista Danillo Vilela, mestre em Ciências pela USP (Universidade de São Paulo).
“A ciência já identificou que variações bruscas na temperatura causam modificações orgânicas importantes, principalmente no sistema imunológico, e isso afeta sobretudo crianças e idosos. Com a imunidade baixa, as pessoas ficam mais predispostas a doenças infecciosas, principalmente as infecções virais”, explica o médico.
Neste cenário pandêmico, o especialista destaca que um sistema imunológico fragilizado pode facilitar a evolução de quadros graves da covid-19 em idosos, que já fazem parte do grupo de maior risco para a doença.
Danos no sistema cardiovascular
Quando as temperaturas despencam, todas as artérias do organismo se fecham e isso provoca um aumento da pressão, principalmente arterial, aumentando as chances de infarto e de AVC (acidente vascular cerebral), de acordo com o cardiologista João Vicente da Silveira, médico do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
“O coração sente e suas artérias sofrem um espasmo, uma contração súbita e também se fecham. Quando a pessoa já está com as artérias obstruídas, ou um pouco entupidas, isso aumenta a chance de desenvolver um infarto, ou ter uma arritmia que pode levar à morte súbita”, explica.
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Dor de cabeça ou no peito, dormência no braço ou uma queimação que sobe pelo pescoço são alguns dos sintomas que podem indicar que a variação brusca da temperatura afetou o sistema cardiovascular. Nestes casos, o especialista recomenda aferir a pressão e consultar um médico.
Impactos no sistema respiratório
Quadros de sinusite, rinite ou de garganta inflamada são os principais problemas enfrentados durante as mudanças no clima. Segundo Silveira, isso acontece porque a mucosa do nariz e da faringe é alterada toda vez que a temperatura varia de muito alta para baixa, aumentando as chances de infecções bacterianas.
“Nos seios paranasais, que são as estruturas que temos na cabeça e na face, existem vilosidades que ficam se mexendo e conforme a temperatura muda, ocorre uma hipersecreção, que é aquela secreção clara que a pessoa fica puxando pelo nariz. Isso faz com que as chances de infecções bacterianas aumentem, pois temos bactérias no nosso organismo, por exemplo no nariz”, explica o médico.
Neste sentido, Vilela destaca que um estudo realizado pela USP mostrou que pessoas submetidas a mudanças bruscas de temperaturas podem desenvolver quadros de infecções respiratórias em até 30 minutos após a variação.
Impacto na saúde mental
Segundo o neurologista, as mudanças climáticas também impactam diretamente na saúde mental das pessoas que já convivem com problemas como depressão ou ansiedade, pois afetam o sistema responsável por regular o sono e o humor.
“A pessoa dorme mal, a quantidade de serotonina no organismo diminui, e ela pode ficar um pouco mais ansiosa ou piorar os sintomas depressivos”, afirma o médico.
Para evitar os problemas causados pelas variações de temperatura, o médico recomenda o consumo de pelo menos 2 litros de água por dia. “É uma época do ano em que a umidade do ar está muito baixa, então nós necessitamos de uma hidratação maior”, afirma.
No caso de pessoas idosas, Vilela destaca que, durante o inverno, o recomendado é evitar a prática de atividades físicas em locais abertos, para evitar a exposição a temperaturas muito frias.
Os médicos destacam que acompanhar a previsão do tempo também é importante, pois facilita a organização da roupa adequada a ser usada para que o corpo não sinta a mudança drástica na temperatura.