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Agrotóxico, o perigo invisível: a maior indenização do Brasil

Após batalha judicial de 6 anos, multinacionais aceitaram pagar R$ 370 milhões por danos individuais e coletivos a ex-funcionários

Brasil|Marcelo Magalhães, Rogério Guimarães, Laura Ferla e Gustavo Costa, da Record TV

Sérgio Rodrigues e Sinval Ramos trabalharam por décadas na produção de agrotóxicos na cidade de Paulínia, interior de São Paulo. O contato com um ambiente contaminado provocou sequelas diferentes: Sérgio tem leucemia e Sinval ficou estéril.

"Nós trabalhamos aqui com 12 substâncias já proibidas mundialmente", afirma Francisco Tavares, ex-funcionário que trabalhou na empresa de 1977 até o fechamento, em 2002.

A fábrica de agrotóxicos da Shell — posteriormente repassada a outra multinacional, a Basf — era especializada nos organoclorados, um dos tipos de agrotóxicos mais nocivos ao corpo humano.

"Em 1985, eles foram banidos totalmente do Brasil. Mas nós ainda continuamos fabricando por mais cinco anos, porque tinha um estoque muito grande e a gente tinha que tirar isso do mercado," revela Tavares.

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A contaminação da fábrica foi registrada por outro ex-funcionário, João Pelissari. As fotos tiradas por ele mostram galões danificados por todos os lados. As substâncias tóxicas estavam nas paredes, no chão e até no ar da empresa. Mesmo quando usavam equipamentos de proteção, os operários ainda ficavam expostos.

"Você tinha uma penetração através da ingestão, pelos alimentos que eram feitos lá, pela água que eles bebiam", afirma o médico toxicologista Igor Vassilieff, que atendeu a maioria dos ex-funcionários.

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O efeito dessa exposição chegou a João Pelissari de forma fulminante. Ele descobriu um tumor no intestino e morreu apenas 26 dias depois do diagnóstico.

"O médico mostrou uma folha de sulfite e falou que o câncer dele era do tamanho da folha de sulfite", conta o Bruno, filho de João.

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Durante seis anos, os ex-trabalhadores enfrentaram uma batalha judicial contra as multinacionais que controlavam a fábrica. Em 2013, as partes chegaram a um acordo: as empresas aceitaram pagar R$ 370 milhões em indenizações por danos individuais e coletivos, além de um plano de saúde vitalício para os ex-operários e seus filhos.

"A indenização foi pouca, porque a saúde não tem preço", desabafa Sinval Ramos.

Em nota, as empresas afirmam que o acordo firmado na Justiça não reconheceu qualquer negligência por parte da Shell e da Basf em relação à saúde dos funcionários. E que as multinacionais não reconhecem a ocorrência de óbitos relacionados ao trabalho nas antigas instalações.

Apesar de a fábrica de Paulínia ter fechado as portas, o Brasil ainda continua recebendo agrotóxicos proibidos em outros países. Principalmente, por meio de contrabandistas que agem na fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraná.

"A gente teve um aumento de cerca de 7% na apreensão de agrotóxicos ilegais em 2017. A gente chega a pegar em média 300, 400, 500 kg. Até uma tonelada de agrotóxicos", conta a inspetora da Polícia Rodoviária Federal, Manuela Reis.

O grande risco desse tipo de pesticida é que eles têm uma concentração muito maior do que a permitida pela legislação brasileira.

"Corre-se o risco de contaminação tanto do solo, quanto dos próprios alimentos onde eles vão ser utilizados. O que aumenta a probabilidade de uma intoxicação," alerta a inspetora.

Mas o que nós, consumidores, podemos fazer para nos proteger dos alimentos com excesso de agrotóxico? O toxicologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Anthony Wong, passou quatro dicas básicas:

1 - Lavar os alimentos com água corrente para tirar as impurezas mais acessíveis. Se necessário, usar sabão e uma escova.

2 - Lavar os alimentos novamente com a mistura de uma colher de café de bicarbonato de sódio com um litro de água. Essa solução vai reduzir o excesso de agrotóxicos.

3 - Lavar mais uma vez com outra mistura de um litro de água com cinco gotas de cloro ou uma colher de sopa de água sanitária. Isso vai eliminar as bactérias.

4 - Por fim, sempre que possível, é bom também descascar os alimentos antes de comer.

"É menos frequente a contaminação entre os consumidores. No entanto, pode existir, porque já há relatos internacionais de consumidores que comeram hortaliças, frutas e até carne com excesso de agrotóxico, o que levou a alterações da própria pessoa ou dos seus filhos", alerta o toxicologista.

Desde os produtores rurais, passando pelos fabricantes até chegar ao consumidor, todos precisamos tomar os cuidados necessários. Afinal, os especialistas defendem que os agrotóxicos sejam uma contribuição para o bom desempenho da agricultura e, não, uma ameaça à saúde pública.

"A questão está muito mais na boa prática de se fazer agricultura, seja ela orgânica, convencional ou qualquer outro modelo, do que simplesmente colocar o agrotóxico como o vilão de tudo ou o causador de todos os problemas," defende o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Morandi.

Gostou desse conteúdo? Não perca a reportagem exclusiva sobre o uso abusivo dos agrotóxicos no Câmera Record. Hoje (1º), às 22h30, logo após o Jornal da Record.

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