Faça o tempo que fizer, brasileiro reclama. É uma paixão nacional falar mal do calor, do frio, da chuva, do estio, do que vier. Experimente, numa rodinha de amigos, elogiar ou criticar a temperatura ambiente, mesmo a mais amena. Tanto faz seu ponto de vista. A polarização é certa.
Em minutos, você estará envolvido numa, digamos, calorosa discussão em que todos vão se agasalhar em suas convicções, com frieza até, despidos de qualquer possibilidade de a conversa fluir sem opiniões contundentes e inegociáveis. Amizades de décadas poderão ser destruídas se não vier alguém botar panos quentes ou jogar água fria no debate.
Há os que praguejam e até soltam palavrões mal surge uma frente fria. E os que ficam revoltados quando o glorioso Sol impõe sua presença escaldante. No Brasil, essas preferências tomam proporções cataclísmicas quando alguém pede aos céus que mande chuva diante de outrem que detesta a hipótese de carregar um guarda-chuva.
Vivemos tempos difíceis, seja ele qual for. As madrugadas congelantes que chegaram nesta semana às regiões Sul e Sudeste tomaram de assalto o noticiário, a conversa jogada fora em um bar, o jantar em família, as contendas acadêmicas, as mensagens de zap.
Uma hecatombe. Isso em um país continental, no qual diariamente todas as possibilidades térmicas se manifestam de forma implacável, para todos os gostos e desgostos.
Não se fala de outro assunto, com fervor e devoção, conforme oscilam as preferências pessoais, que mudam a cada vez que o termômetro e o barômetro se desentendem.
Quando as coisas aparentarem se acalmar, pode ter certeza: será apenas uma pausa até que a natureza cumpra seu sereno papel de alternar estações durante o ano.
Só sei que não é porque eu adoro frio de paixão que sou obrigado a gostar desse vento maldito que só pode estar vindo da Argentina.