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Lava Jato investiga R$ 200 mi em propina em contrato com Odebrecht

Cerca de US$ 24 milhões teriam sido pagos a executivos da Petrobras, segundo detalhes da 51ª fase da Lava Jato

Brasil|Diego Junqueira, do R7

Alvo da Lava Jato é preso no Rio de Janeiro
Alvo da Lava Jato é preso no Rio de Janeiro Alvo da Lava Jato é preso no Rio de Janeiro

A nova fase da operação Lava Jato investiga o pagamento de mais de R$ 200 milhões em propina da empreiteira Odebrecht para executivos da Petrobras e operadores financeiros ligados ao MDB (ex-PMDB), partido do presidente Michel Temer.

A Polícia Federal, em parceria com o Ministério Público Federal e a Receita Federal, deflagrou nesta terça-feira (8) a operação Deja Vu, 51ª fase da Lava Jato, para apurar desvio de recursos em contrato firmado pela Diretoria Internacional da Petrobras com a Odebrecht, em 2010, no valor de US$ 825 milhões (R$ 2,95 bilhões, em cotação atual), para prestação de serviços nas áreas de Segurança, Meio Ambiente e Saúde ("SMS") em dez países, incluindo o Brasil.

De acordo com as investigações da força-tarefa, US$ 24,75 milhões (R$ 89 milhões) foram pagos em propina a três ex-executivos da Petrobras, que receberam os valores entre 2010 e 2012 por meio de depósitos em contas na Suíça — todos foram alvos de prisão na manhã de hoje.

Outros US$ 31 milhões (R$ 111 milhões) foram pagos a operadores financeiros que atuavam como intermediários políticos do MDB.

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Em coletiva na sede da PF em Curitiba, o procurador Roberson Henrique Pozzobon, membro da Lava Jato no Paraná, explicou que a licitação "multimilionária" foi "direcionada" para a Odebrecht, "a partir do fornecimento de informações privilegiadas" para que a empreiteira desenvolvesse o projeto de forma antecipada. O procurador destaca, por exemplo, que o período da licitação foi de apenas 35 dias, "inexequível" para que outros concorrentes participassem de forma competitiva.

Para dar uma aparência de legalidade, segundo Pozzobon, as construtoras OAS e Andrade Gutierrez foram convocadas a apresentar propostas menos atrativas, já que elas também participavam do seleto grupo de empresas que então agiam em concluio para dividir os contratos da Petrobras.

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Os detalhes da investigação foram obtidos por meio da quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico, delações premiadas, investigações internas da Petrobras e e-mails de executivos.

Alvos da investigação

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Ao todo foram cumpridos 23 mandados judiciais — sendo 4 de prisão preventiva, 2 de prisão temporária e 17 de busca e apreensão — nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.

Os principais alvos da operação de hoje são os ex-funcionários da Petrobras Rodrigo Pinaud, Aluísio Teles Ferreira Filho e Ulisses Sobral Calile, além do operador do MDB Mario Ildeu de Miranda. De acordo com o procurador Pozzobon, os quatro receberam propinas somadas de US$ 24,75 milhões em contas no exterior.

Em colaboração com o Ministério Público da Suíça, o MPF descobriu que eles movimentaram parte da propina para contas em outros paraísos fiscais, o que levou à ordem de prisão preventiva contra eles para evitar novas transferências.

O MPF ainda conseguiu o bloqueio na Suíça de US$ 7 milhões relacionados à Miranda, US$ 6,2 milhões ligados a Ferreira Filho e US$ 3 milhões de Sobral Calile. A quantia bloqueada é inferior à propina supostamente paga, mas o MPF afirma que o objetivo é recuperar todo o valor desviado.

Durante a coletiva, o auditor fiscal da Receita, Roberto Leonel Oliveira Lima, afirmou que os executivos recebiam cerca de R$ 400 mil anuais em salários da Petrobras, o que é incompatível com o valor encontrado em suas contas no exterior, que tampouco foram devidamente declaradas à Receita.

— [Identificamos] enriquecimento vertiginoso de alguns dos investigados que, apesar de serem gerentes da Petrobras, com rendimento anual na faixa de R$ 400 mil, tiveram enriquecimento através de outros tipos de operações que estão sendo investigadas.

Para o delegado Felipe Hideo Hayashi, da Polícia Federal, "nem se economizassem por mil anos eles conseguiriram juntar os valores".

Os três ex-funcionários da Petrobras eram ligados a Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da área internacional da estatal e atualmente preso em Curitiba. Zelada também foi investigado por fraudes na licitação desse mesmo contrato com a Odebrecht, pelo qual foi condenado pela Justiça Federal no Rio de Janeiro, em janeiro de 2016, a 4 anos de prisão e multa de US$ 16 milhões. Zelada também foi condenado a 15 anos de prisão em outro processo, na segunda instância, por fraudes na contratação de um navio-sonda.

"O Jorge Zelada, quando se referia ao contrato, ele falava que os gerente internacionais deveriam 'usar e abusar' do referido contrato. É uma inversão da lógica no que diz respeito a contratos públicos", declarou o procurador da República.

Também foram alvos da operação o ex-engenheiro da Petrobras Sérgio Souza Boccaletti — que teve US$ 3,1 milhões bloqueados em contas na Suíça — e Ângelo Lauria, operador ligado ao MDB, alvo de prisão temporária.

João Augusto Rezende Henriques, ex-funcionário da Petrobas ligado ao MDB, condenado e preso pela Lava Jato, também está envolvido nos supostos crimes.

O MDB afirmou, em nota, que "desconhece detalhes da operação, mas reitera a necessidade de investigação célere em relação aos acusados".

O R7 tenta contato com os advogados dos alvos da operação.

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