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Rápido, discreto e obstinado: conheça o juiz que se tornou o pesadelo dos acusados na Lava Jato

Especialista em lavagem de dinheiro, Sérgio Moro leva trabalho para casa e tem rotina simples

Brasil|Marc Sousa, da TV Record, em Curitiba (PR) e Mariana Londres, do R7, em Brasília

Na semana passada, Moro foi reconhecido em supermercado de Curitiba (PR) e recebeu palmas de outros clientes
Na semana passada, Moro foi reconhecido em supermercado de Curitiba (PR) e recebeu palmas de outros clientes Na semana passada, Moro foi reconhecido em supermercado de Curitiba (PR) e recebeu palmas de outros clientes

A obstinação do juiz Sérgio Moro pelo trabalho é tão grande quanto a sua discrição dentro da da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba. É comum que colegas próximos e funcionários da Justiça do Paraná não saibam detalhes da vida privada do responsável pela Operação Lava Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras. De hábitos simples, o juiz não se expõe. Só amigos muito próximos conhecem a sua rotina fora do tribunal. Para traçar o perfil do juiz, que não dá entrevistas, a reportagem do R7 conversou com amigos e colegas de Moro. Todos pediram anonimato.

Casado com uma advogada curitibana, Sérgio Moro, hoje com 43 anos, tem um casal de filhos em idade escolar. Quando não está trabalhando, ele vai ao clube, gosta de ir a restaurantes e frequenta a casa de amigos. Assiste a séries, e chegou a citar a vida ilícita de Walter White, protagonista de Breaking Bad, durante uma aula inaugural da UFPR (Universidade Federal do Paraná), onde foi professor adjunto de Direito Penal. 

— Tem vida absolutamente normal, diz um de seus amigos próximos. 

Tão normal que recentemente foi visto acompanhado da mulher em um show da dupla sertaneja Jorge & Mateus, no Café Curaçao, tradicional casa noturna de Guaratuba, litoral do Paraná. 

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Relatos de pessoas próximas e até pequenos detalhes revelam o perfil do juiz paranaense. No WhatsApp, aplicativo de troca de mensagens, a foto de perfil de Moro é a foto de um crocodilo grande engolindo outro menor. Seu status é sempre “Na academia”. Apesar da paixão pelas aulas, o magistrado foi impedido de lecionar na UFPR por incompatibilidade de horários quando foi nomeado auxiliar de Rosa Weber. Ele chegou a mover uma ação contra a universidade, mas perdeu.

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Foi na Federal do Paraná que Sérgio Moro concluiu doutorado em 2002, orientado pelo doutor em Direito Administrativo Marçal Justen Filho. A paixão pelos crimes financeiros, aliás, foi despertada em Moro apenas durante o trabalho na Justiça Federal do Paraná, especialmente após sua atuação no caso Banestado.

Há 18 anos na Justiça Federal, Sergio Moro se inspira em caso italiano para investigar corrupção na Petrobras

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Quando cursava Direito na UEM (Universidade Estadual de Maringá), o então estudante chegou a se questionar se queria mesmo seguir a carreira, e no Direito, pensava em ser advogado tributarista, pela afinidade que já tinha na época com números e valores.

A carreira de advogado de Sérgio Moro, no entanto, foi muito rápida. Ainda recém-formado e com 25 anos de idade, ele virou juiz federal e mudou-se de Maringá, onde nasceu, para Curitiba, onde conheceu a mulher, Rosângela Wolff.

O salário de Moro como juiz federal nesses 18 anos como juiz possibilitam um ótimo padrão de consumo, mas o magistrado vive uma vida sem excessos. Atualmente o salário inicial de um juiz federal é de R$ 25.197,04. Apesar da excelente remuneração, Moro chegou a ir de bicicleta ao trabalho, o que não é mais possível depois que o caso Lava Jato ganhou repercussão nacional e o endereço de trabalho do juiz passou a ser vigiado praticamente 24 horas por dia por equipes de televisão e jornais.

O assédio da imprensa, no entanto, não impede que Moro mantenha alguns hábitos antigos, como almoçar no restaurante japonês Azuki, perto da vara da Justiça Federal em Curitiba, seu local de trabalho. O trajeto, de poucos metros, é feito à pé e quando é interceptado por repórteres o juiz é educado, mas jamais responde sobre casos que estejam sob seu julgamento. Por isso mesmo não aceita dar entrevistas.

Apesar das constantes negativas aos pedidos de entrevista, Moro trata bem a imprensa porque sabe que o sucesso da Operação Lava Jato depende do apoio público. Em artigo de 2004 sobre a Operação Mãos Limpas, ele cita a importância da opinião pública em processos criminais como a Lava Jato. “É ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades governamentais ou empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações. Um Judiciário independente, tanto de pressões externas como internas, é condição necessária para suportar ações judiciais da espécie. Entretanto, a opinião pública, como ilustra o exemplo italiano, é também essencial para o êxito da ação judicial”.

Críticas

Tratado como herói nas ruas pela atuação na Lava Jato até agora e admirado por seus pares (no ano passado o nome dele estava na lista dos três indicados pela Associação dos Juízes Federais do Brasil para substituir Joaquim Barbosa no STF), Moro também recebe críticas de colegas. Alguns juristas consideram inconstitucional a proposta apresentada pelo juiz da prisão de réus condenados em primeira instância. Outro ponto que gera críticas são as delações premiadas. Alguns sugerem que o juiz induz as delações, e que, por se tratar do testemunho de delatores os fatos não poderiam ser considerados provas. 

Apesar da defesa das delações, amigos próximos a Moro contam que ele hesitou antes de propor a delação premiada ao doleiro Alberto Youssef, que acabou se tornando peça chave no desenrolar da ação penal. Isso porque Moro já havia prendido Youssef em 2004. Na época, apesar de ter sido condenado a sete anos de reclusão, o doleiro ficou apenas um ano e meio preso justamente graças a uma delação em que ele entregou o esquema de desvios de dinheiro do Banestado. Moro jamais imaginou que ele voltaria a agir, até porque entregou todos os parceiros e pagou uma multa alta. Dez anos depois, Moro e Youssef se encontram novamente, desta vez na Lava Jato.

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