Acervo foi recuperado em ação contra venda ilegal de partes de animais raros sob fachada de artesanato
Secretaria de Cultura/DivulgaçãoO Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, recebeu uma doação de mais de 8 mil objetos dos povos originários, incluindo adereços raros e peças com penas de animais em risco de extinção. Os artefatos, que haviam sido apreendidos pela Polícia Federal em operação de combate ao contrabando, estavam encaixotados no galpão da PF há 18 anos. Com a doação da força de segurança, o Memorial passa a ter a segunda maior coleção de objetos indígenas do Brasil, atrás apenas do próprio Museu do Índio, no Rio de Janeiro.
“O valor monetário desse acervo é incalculável, mas o valor monetário não é a única riqueza. Ali estão representações de saberes tradicionais e modos de vida de vários povos. O valor cultural, artístico e histórico também é enorme”, avalia o coordenador das diretorias da Subsecretaria do Patrimônio Cultural (Supac), Felipe Ramón.
Peças estavam guardadas em depósito da PF desde 2003
Divulgação/PFOs artefatos históricos foram produzidos por comunidades indígenas de diversas etnias e estados, como Karajás e Kayapós, e apreendidos durante a Operação Pindorama, que pretendia combater o contrabando internacional da mercadoria.
A operação foi deflagrada em 15 de maio de 2003, para descarticular uma quadrilha internacional de contrabando. Em diversas fases, ela impediu que as peças indígenas fossem embarcadas para os Estados Unidos e países europeus.
A organização criminosa tinha o intuito de vender os artefatos a colecionadores e organizações criminosas a altos preços. O objetivo do grupo era contrabandear partes de animais silvestres raros, como plumas, penas, ossos, dentes e garras, sob a fachada de artesanato indígena.
As investigações apontaram que servidores públicos da Funai estavam envolvidos no esquema de biopirataria e que receberiam valores em dinheiro vivo para facilitar os crimes. O lote apreendido em 2003 e doado nesta quarta-feira (3) conta com objetos que incluem pentes, cocares, colares e adereços corporais confeccionados com penas de animais.
Artefatos foram recepcionados simbolicamente por indígenas Guajajara que vivem no DF
Divulgação/PFAo desembarcar no memorial, os artefatos foram recepcionados simbolicamente por indígenas Guajajara que moram no Distrito Federal, com um ritual de celebração pelo encaminhamento dos artigos e em favor da preservação do acervo.
O material corria o risco de ser incinerado, mas o procedimento foi cancelado depois de um pedido de salva-guarda da Secretaria de Cultura do DF. Agora, os itens apreendidos ficarão sob a custódia do memorial, após autorização do Ministério Público Federal (MPF).
Com doação, Memorial dos Povos Indígenas em Brasília torna-se o segundo maior do país
Divulgação/PFDepois de recebidas, as peças serão avaliadas para passarem por restauração. "Apesar do tempo, há peças muito bem-conservadas. Estavam em caixas de isopor lacradas, assim não sofreram com a ação do sol e da poeira. Teremos material para restaurar peças danificadas que já estão em nosso acervo. Esse material todo é de origem animal e vegetal, muito sensível, então ter um banco de peças de reposição é fundamental", pontuou a gerente de acervos da Supac, Aline Ferrari.
A doação amplia o acervo do centro histórico, que conta com 700 itens. Atualmente, o Memorial dos Povos Indígenas passa por uma reforma, mas há previsão de reabertura ainda neste mês.