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PEC da Transição aumenta dívida pública e pode resultar em alta da inflação

Mercado reagiu negativamente à medida que deve furar o teto de gastos; crédito extra deve ser permanente

Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília

Proposta do governo inclui tirar do teto de gastos recursos para bancar gastos sociais
Proposta do governo inclui tirar do teto de gastos recursos para bancar gastos sociais Proposta do governo inclui tirar do teto de gastos recursos para bancar gastos sociais

Sem perspectiva de aumento de arrecadação, os gastos extras na casa de R$ 175 bilhões com a PEC da Transição devem causar aumento da dívida pública. O próximo governo aposta em uma melhora econômica para conseguir compensar a liberação do montante fora do Orçamento. Sem isso, o país pode assistir à inflação subir e à taxa Selic ser ajustada para cima em busca de controle, acarretando juros mais altos. 

A reação negativa do mercado à medida, que deve furar a regra do teto de gastos, foi sentida logo após o último discurso do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A apreensão se dá pela possibilidade de aumento da dívida pública. Com isso, o movimento natural seria a cobrança de juros mais altos, fazendo com que o Executivo precise destinar uma parte maior da arrecadação futura para honrar com o pagamento de dívidas. "Assim, deixa-se menos para despesas discricionárias. Esse impacto só será minimizado se o país crescer mais que os 2,5% estimados no PLOA (Proposta da Lei Orçamentária Anual), o que me parece bastante improvável", avalia Rafael Miranda, mestre em economia pela FGV.

Um cenário possível a partir do próximo ano levando em conta as projeções de recessão, segundo Miranda, é que as famílias mais vulneráveis aumentem o poder de consumo. No entanto, sem uma produção compatível, os preços dos produtos sobem, acarretando em aumento da inflação. O movimento do Banco Central pode ser, então, o de elevar a taxa Selic, subindo as taxas de juros e dificultando empréstimos e financiamentos. 

"É fácil imaginar que, se o governo injeta auxílio na mão de quem está deixando de comprar porque falta dinheiro, elas vão justamente gastar esse dinheiro e gastar rápido. Esse aumento de demanda pode levar a inflação", completa. Miranda, no entanto, afirma que o auxílio é necessário para garantir equilíbrio social, mas que precisa ser feito com cautela.

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Especialista em Gestão Pública, Relações Institucionais e Governamentais da Fundação da Liberdade Econômica, Eduardo Fayet também frisa a importância do auxílio e a necessidade do equilíbrio. "São recursos importantes para atender a questão da fome, da dificuldade da classe mais pobre ter acesso a recursos."

Não deixa de ser um endividamento público. O que o novo governo precisa é ter austeridade fiscal. Não de não gastar%2C mas de gastar bem. Além disso%2C deve tomar cuidado com como fala e quais são os aspectos que destaca para que não haja revezes sem necessidade

(Eduardo Fayet, economista)

Fayet acredita que a taxa de juros pode sofrer manutenção, "mas depende também de questões internacionais, capacidade de atração de investimento, equalização de política de governança e financiamento do desenvolvimento do Brasil". 

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Medida permanente

O governo eleito defende que se extrapole o teto de gastos. Antes de deixar Brasília após se reunir com a equipe de transição, Lula criticou a reação negativa ao discurso e disse nunca ter visto "um mercado tão sensível". Já o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), disse apostar em um crescimento econômico. "O que precisa é a economia crescer. Esse é o fator relevante. E aí é importante o investimento, público e privado, recuperar planejamento no Brasil e bons planejamentos."

Outro fator que leva à desconfiança do mercado sobre a PEC é que o excedente de gastos pode se tornar uma constante. O relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), já afirmou que as mudanças previstas no teto de gastos para bancar os auxílios seriam permanentes.

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"A ideia é que haja um compromisso da sociedade brasileira com os mais carentes, com os mais pobres. E que eles possam sentir que há uma segurança de que estará excepcionalizado para sempre esse recurso", disse, na quinta-feira (10).

O teto de gastos entrou em vigor em 2016 e é a principal regra fiscal que limita o crescimento das despesas em relação à inflação. Na prática, a ideia é congelar os gastos públicos para que o aumento em despesas siga a inflação.

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O atual secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, Felipe Salto, acredita que o governo de transição "precisa fazer um aprimoramento das regras fiscais para evitar constrangimento de todo ano ter que aumentar o teto de gastos, que mobiliza recursos, políticas, esforço do governo e tempo". Ele defende a necessidade de mudar o teto de gastos para uma combinação entre limite tendencial para a dívida pública, meta de resultado primário e meta de gastos, a fim de manter regras de controle, mas sem precisar ferir as normas ano após ano, garantindo flexibilidade com responsabilidade fiscal.

Além disso, Salto defende uma reforma tributária. "Principalmente o ICMS que produz uma série de distorções e complexidade no regimento tributário que já são muito conhecidas e poderiam ser resolvidas. É necessário uma reforma estrutural."

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