Cidades Cidade de Serrana (SP) entra em fase final de vacinação em massa

Cidade de Serrana (SP) entra em fase final de vacinação em massa

Por enquanto, já se sabe que o índice de transmissão do vírus na cidade teve redução de 40% após o início do projeto, em fevereiro

Agência Estado
Vacinação em Serrana (SP)

Vacinação em Serrana (SP)

Reprodução/Record TV

A vacinação em massa da população de Serrana, no interior de São Paulo, contra a covid-19, entra na fase final esta semana com a aplicação da segunda dose em dois grupos que ainda não foram imunizados.

A vacinação em massa começou em 17 de fevereiro. Até esta segunda-feira (29), dos 28.380 moradores que aderiram ao projeto, 27.710, ou 97,6%, já receberam a dose inicial. Destes, 12.669 (44,6%) que integram os grupos verde e amarelo tiveram também a segunda aplicação da vacina Coronavac. Até o dia 11 de abril, serão vacinados com a segunda dose os grupos cinza e azul, encerrando a vacinação.

O projeto, desenvolvido pelo Instituto Butantan, é inédito no País e vai avaliar a eficiência da vacinação quando aplicada em massa na população. Por enquanto, já se sabe que o índice de transmissão do vírus na cidade teve redução de 40% após o início do projeto, mas ainda não é possível afirmar se foi resultado da vacinação.

"A taxa de positividade era de quase 50% e hoje está em 30%, mas os dados são preliminares e pode haver influência de outros fatores. Acompanhamos os valores desde setembro e essa oscilação já aconteceu em outras ocasiões", disse a médica infectologista Natasha Nicos Ferreira, pesquisadora do projeto.

Conforme Natasha, que é médica do Hospital Estadual de Serrana, parceiro do projeto, a imunização deve ser concluída em duas semanas, porém são necessárias mais duas semanas para começar a avaliação dos resultados. "Como os primeiros vacinados já receberam as duas doses, é possível que tenhamos alguns resultados na primeira semana de maio. É o que esperamos", disse.

Segundo ela, o Projeto S, como denominou o Butantã, corresponde à fase 4 dos testes da Coronavac no Brasil. "A vacina já tem comprovação de eficácia, mas é preciso ver como ela funciona em nível populacional, quanto vai cair a taxa de positividade, de casos graves, de internação e óbitos."

Estudos clínicos mostraram que a Coronavac tem taxa de eficácia de 50,38%. Os pesquisadores envolvidos com o projeto querem saber se essa eficácia é mantida, ampliada ou reduzida quando o imunizante é aplicado em uma população inteira.

Após vacinar todo o público alvo, eles ainda precisam esperar até 20 dias, o tempo de resposta do organismo aos anticorpos gerados pelo imunizante. "A vacinação do Projeto S termina no dia 11, mas os resultados devem sair somente em maio", informou a prefeitura.

A cidade, de 45.844 habitantes, fica vizinha a Ribeirão Preto e foi escolhida para o projeto por ter um grande fluxo intermunicipal de pessoas, além de possuir um hospital estadual ligado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).

A vacinação é voluntária e está sendo aplicada apenas em pessoas com 18 anos ou mais. Grávidas, lactantes e portadores de comorbidades não são vacinados. A população foi dividida em quatro grupos - verde, amarelo, cinza e azul -, para a chamada vacinação em ondas, ou seja, um grupo por semana. Os participantes serão acompanhados por um ano.

Uma das respostas que os pesquisadores esperam obter já nas próximas semanas é se o grupo imunizado primeiro teve redução de casos antes dos outros. O dado pode ajudar a definir qual a melhor estratégia para imunizar a população quando não há vacina para todos.

O estudo pode responder, por exemplo, se vale a pena usar todas as doses de uma vez, sem reservar para a segunda aplicação, para ampliar o alcance da imunização. Também deve definir com qual porcentual de vacinação se atinge a chamada imunidade de rebanho. Hoje, acredita-se que a imunidade coletiva acontece com a vacinação de pelo menos 60% da população.

Por se tratar de um estudo científico, o projeto de Serrana não depende das vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). As doses foram produzidas especialmente para a pesquisa, segundo o Butantan.

Foi aberto o cadastramento exclusivamente para moradores da cidade. Do total de cadastros aprovados, 670 pessoas não receberam a primeira dose. Conforme a prefeitura, isso aconteceu por terem sido detectadas comorbidades não relatadas no momento do cadastro, ou devido à gravidez, ou porque tiveram sintomas antes da aplicação da vacina, ou ainda por simples desistência, já que a adesão foi voluntária.

A dona de casa Nadia Helena Tartaro, que está no grupo amarelo, já recebeu as duas doses e se disse contente com a imunização antecipada. Ela recebeu a segunda dose no último dia 24, quando fez 59 anos. "Foi um presente e tanto. Estou muito bem e, principalmente, muito feliz por ter participado da pesquisa que vai ajudar outras pessoas", disse.

O jornalista Tiago Bonnah, de 20 anos, recebeu a primeira dose no dia 20 de fevereiro e a segunda no dia 21 deste mês. "Na segunda dose me deu um pouco de cansaço e dor de cabeça no dia seguinte, mas passou sem tomar remédio. Acho que foi uma reação normal. É crucial no momento que a gente vive participar desse projeto. O estudo que vai sair daqui deve proporcionar grande avanço no combate ao coronavírus", disse.

Serrana registrou, até esta segunda, 3.339 casos positivos de covid-19, resultando em 73 mortes desde o início da pandemia. A cidade tem 30 pessoas internadas, 75 em isolamento e investiga outros nove óbitos.

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