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Cursando duas pós, advogada negra já mandou 67 currículos no ano

Ela recusou proposta salarial que considerou abaixo do praticado no mercado

Economia|Juca Guimarães, do R7

Mayara fez 20 entrevistas em 2017
Mayara fez 20 entrevistas em 2017 Mayara fez 20 entrevistas em 2017

Mayara Silva tem 26 anos, trabalha desde os 16, é advogada há dois anos, está concluindo a primeira pós-graduação e já iniciou a segunda. Mesmo com a experiência, a jovem advogada está enfrentando dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho.

O desemprego no Brasil atinge mais os pretos e pardos do que os brancos. Dos 13 milhões de desempregados, 8,3 milhões pertencem ao grupo — 63,7% do total, ou dois a cada três trabalhadores sem função. Os dados fazem parte da Pnad Contínua Trimestral (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada nesta sexta-feira (17) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ao longo de 2017, ano em que os níveis de desemprego bateram recorde, Mayara mandou 67 currículos, sendo convidada para 20 entrevistas. Recebeu apenas uma oferta de trabalho.

— Me ligaram semana passada para me pagar R$ 1.000. Achei um absurdo e não fui.

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Segundo o levantamento do IBGE, a média de remuneração de negros e pardos é 44,4% menor que a dos brancos. Na avaliação de Mayara, a proposta de R$ 1.000 por mês é bem abaixo da média do mercado para a mesma função, que, segundo ela, gira em torno de R$ 6.000.

A pesquisa publicada hoje mostra que, no primeiro trimestre de 2017, auge do desemprego, a taxa de desocupação geral era de 13,7%, sendo 10,9% para brancos e 16,2% para pretos e pardos.

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Já no terceiro trimestre deste ano, a taxa do grupo caiu para 14,6%, ante 12,4% da população geral e 9,9% dos brancos (veja a evolução no gráfico ao final).

"Comecei a trabalhar com 16, e esse ano é o primeiro ano que fico sem trabalho remunerado", conta Mayara.

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Desde a faculdade, ela já trabalhou na defensoria pública e na Secretaria de Assuntos Jurídicos da Prefeitura. O contrato terminou em fevereiro último.

Enquanto procura um novo emprego com carteira assinada, a advogada está terminando uma pós-graduação de Direito Legislativo e Democracia e iniciando outra em Gestão Pública. 

Consultoria

Em 2005, foi criada em São Paulo uma consultoria de Recursos Humanos especilizada na diversidade racial, a EmpregueAfro, que prepara profissionais para o processo seletivo nas empresas.

"Estudamos os principais impactos da população negra na economia, no consumo e as disparidades sociais. As empresas se sensibilizam primeiramente como responsabilidade social, depois entendem que é uma estratégia importante para os negócios", diz o diretor de comunicação Rodrigo Fernandes.

Ele conta que no início poucas empresas se importavam pelo tema, mas que, ao longo de 12 anos, "todas foram entendendo que, além da prioridade, passa ser uma questão de sobrevivência organizacional mesmo".

— Conforme a população negra ia conhecendo cada vez mais a gente, mais eles iam mandando o currículo. Hoje temos cerca de 3.000 currículos na nossa base de dados.

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